A sabedoria das multidões e o viés social nos investimentos
Publicado sex, 07 fev 2025 • 2:28 PM GMT-0300 | Atualizado há 6 dias
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Publicado sex, 07 fev 2025 • 2:28 PM GMT-0300 | Atualizado há 6 dias
Imagine um professor entrando em sala de aula com um grande pote cheio de jujubas. Ele propõe um desafio: cada aluno escreve anonimamente em um papel quantas jujubas acha que há no pote. Depois, ele calcula a média das respostas e a compara com a quantidade real.
Na segunda etapa, ele muda a dinâmica: agora, cada aluno dá seu palpite em voz alta. Quando a nova média é calculada, algo curioso acontece – ela se afasta mais da resposta correta do que a média dos palpites anônimos. O motivo? O viés social. Ao ouvirem as opiniões dos colegas, os alunos ajustam suas respostas, influenciados pelo que os outros dizem, e perdem a precisão da estimativa inicial.
Esse fenômeno, conhecido como Sabedoria das Multidões, só funciona bem quando as opiniões individuais são independentes. Mas quando a informação é compartilhada de maneira ruidosa, o efeito se inverte: o grupo pode errar feio por pura influência social.
Agora, traga isso para o mercado financeiro.
Quem trabalha com investimentos sabe o quão difícil é prever o movimento dos ativos. As maiores mentes do mundo, munidas de dados e modelos sofisticados, tentam antecipar a direção dos preços de ações, moedas, juros e commodities. Mas, às vezes, surgem oportunidades tão óbvias que parecem um presente – o tipo de situação em que, se você pensar racionalmente, sabe exatamente o que fazer.
Isso aconteceu na semana passada após o balanço do quarto trimestre do Itaú, na noite de quarta-feira.
O banco divulgou um balanço extraordinário: o lucro recorrente foi de R$10,9 bilhões, 2% maior que o do trimestre anterior e 15,8% maior que o do mesmo período de 2023. O retorno sobre patrimônio líquido foi de 22,1% e a carteira de crédito aumentou 6,3% frente ao terceiro tri e 15,5% na comparação anual. O banco também viu aumento na margem com clientes e queda da inadimplência.
Como se não bastasse, o Itaú também anunciou uma distribuição adicional de R$15 bilhões em pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio, bonificação de 10% em ações e R$3 bilhões em recompras e cancelamentos de ações. Qualquer analista criterioso diria que os números foram espetaculares.
Mas, na manhã seguinte, a ADR do Itaú caía quase 4% no pré-mercado de Nova York e as ações abriram em queda no Ibovespa. O motivo? Projeções para crescimento da carteira de crédito consideradas “decepcionantes” por alguns (que fique claro, alguns) analistas.
Então eu, que estava preparado para comprar ações na abertura, comecei a me questionar se tinha deixado alguma coisa passar, dado o tamanho da oportunidade.
Foi então que o viés social entrou em ação.
Mesmo diante de um balanço claramente positivo, e projeções que julguei conservadoras dado o cenário de juros altos no Brasil, comecei a duvidar da minha própria análise. O mercado estava indo na direção oposta – será que eu estava deixando passar algo? Será que o conservadorismo do Itaú era um problema? Será que os bancos estavam caros? Será que o mercado estava antecipando um cenário catastrófico?
Tentei não me deixar levar pelo viés: comprei as ações na abertura e, por alguns minutos, vi a cotação cair ainda mais. Os questionamentos aumentaram. Mas, felizmente para mim, logo o preço reverteu e subiu com força – de R$ 32,95 para R$ 34,49, um movimento de quase 5%. Foi o meu melhor day trade de 2025 em termos de valorização.
Mas há um detalhe importante: entrei na operação com pouquíssimo capital, apenas o suficiente para pagar o almoço. Apesar de ter identificado a oportunidade, hesitei, contaminado pelo viés social. A influência do mercado me fez duvidar do que parecia óbvio.
Assim como os alunos no experimento das jujubas, que mudaram seus palpites ao ouvirem os colegas, muitos investidores abandonam sua análise ao verem o mercado reagir de forma inesperada. E, assim, deixam dinheiro na mesa.
No mundo dos investimentos, o viés social é seu inimigo. O mercado nem sempre tem razão – e, muitas vezes, a melhor decisão é confiar na sua própria avaliação e ignorar o barulho ao redor. No final das contas, esse trade me deixou uma grande lição e uma apetitosa parmegiana de frango!
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