O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, incentivou o Canadá na última sexta-feira (28) a seguir o México e adotar tarifas equivalentes às dos EUA sobre produtos chineses. A medida visa evitar a imposição de tarifas de 25% pelos EUA, que entram em vigor na próxima terça-feira (4), como retaliação ao tráfico de fentanil.
Autoridades canadenses e mexicanas têm intensificado esforços diplomáticos em Washington para demonstrar ao governo de Donald Trump que estão reforçando a segurança nas fronteiras e combatendo o fluxo do perigoso opioide para os Estados Unidos.
Bessent afirmou, em entrevista à Bloomberg Television, que o México propôs alinhar suas tarifas às dos EUA sobre a China, mas sem especificar o percentual. No último dia 4 de fevereiro, Trump determinou uma tarifa de 10% sobre todas as importações chinesas e, na última quinta-feira (27), anunciou que dobraria esse percentual para 20% a partir de terça-feira (4).
“Acho que seria um gesto positivo se os canadenses também fizessem isso. Assim, poderíamos ter uma ‘Fortaleza América do Norte’ contra a enxurrada de importações chinesas que vêm da economia mais desequilibrada da história moderna”, disse Bessent.
A Embaixada da China em Washington condenou o aumento unilateral das tarifas por parte dos EUA, afirmando que a decisão viola gravemente as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) e prejudica os interesses tanto dos Estados Unidos quanto da China.
“Pressão, coerção e ameaças não são o caminho certo para lidar com a China. O respeito mútuo é o requisito básico para qualquer relação”, declarou o porta-voz da embaixada, Liu Pengyu, à agência Reuters.
Os governos canadense e mexicano não responderam imediatamente aos comentários de Bessent.
Diplomacia intensificada
O ministro da Segurança Pública do Canadá, David McGuinty, concluiu uma visita de quatro dias a Washington, onde reforçou ao governo Trump que o país está agindo rapidamente para reforçar o controle fronteiriço.
“Fizemos ajustes sérios, investimentos e melhorias na fronteira. Passamos quatro dias de reuniões comunicando esses avanços aos nossos parceiros em Washington”, afirmou McGuinty a repórteres, após se reunir com a secretária de Segurança Interna dos EUA, Kristi Noem, e o coordenador de fronteira, Tom Homan.
Já o ministro da Economia do México, Marcelo Ebrard, disse ter tido um “encontro de trabalho cordial” com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer. Em uma publicação na rede X (antigo Twitter), Ebrard afirmou que México e EUA têm um grande futuro de cooperação, mas não forneceu detalhes sobre as discussões relativas às tarifas.
Trump justificou a imposição das novas tarifas argumentando que México e Canadá não avançaram o suficiente na redução de mortes por overdose de fentanil nos EUA. Os novos tributos afetarão mais de US$ 900 bilhões em importações anuais dos dois países.
México extradita suspeitos de tráfico
Na última quinta-feira (27), o México realizou sua maior extradição em massa de membros de cartéis de drogas dos últimos 10 anos. Entre os 29 suspeitos estava Rafael Caro Quintero, de 72 anos, um dos principais traficantes da década de 1980. Ele passou décadas na prisão pelo assassinato de um agente da Drug Enforcement Administration (DEA) e agora enfrenta novas acusações de tráfico de drogas nos EUA, que podem levar à pena de morte.
Além dele, outros traficantes mais jovens também foram extraditados, suspeitos de coordenar o envio de fentanil para os Estados Unidos.
O vice-ministro da Economia do México, Vidal Llerenas, afirmou que o país pode adotar outras medidas comerciais além das tarifas já impostas sobre certas importações para reduzir o volume de remessas de baixo valor vindas da China.
Os EUA, por sua vez, suspenderam no início do mês a isenção de tarifas para pacotes abaixo de US$ 800 – uma regra conhecida como “de minimis” –, pois esse mecanismo permitia a entrada de fentanil e seus precursores químicos sem fiscalização adequada. No entanto, devido ao acúmulo de pacotes nos portos e aeroportos, a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP) adiou a suspensão até que novas medidas de triagem sejam implementadas.
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), cerca de 72.776 pessoas morreram por overdose de opioides sintéticos nos EUA em 2023, principalmente devido ao fentanil.
China tem prazo curto para reagir
O prazo para a nova rodada de tarifas dos EUA sobre a China coincide com o início das reuniões parlamentares anuais de Pequim, que começam na próxima quarta-feira (5). Esse evento é um dos mais importantes no calendário político chinês, e líderes devem anunciar as principais prioridades econômicas para 2025.
Com menos de uma semana para reagir, o governo chinês precisa decidir se adotará contramedidas. A administração Trump, por sua vez, tem demonstrado um endurecimento nas relações com Pequim, apesar de ter recuado da ameaça de tarifas de 60% após assumir o cargo em 20 de janeiro.
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