Aprenda a ser um Superforecaster

Antes mesmo da confirmação sobre a seriedade do vírus causador da Covid-19, o bilionário Bill Ackman, gestor do Pershing Square – um dos hedge-funds mais bem sucedidos no mercado – previu que a doença não seria uma gripezinha qualquer. Detalhista e metódico, Ackman procurou se informar com profundidade sobre tudo o que se passava em Wuhan, na China, provável epicentro da pandemia. Leu muito, conversou com especialistas e conseguiu analisar o problema sob um ponto de vista técnico e objetivo, evitando os ruídos e concentrando sua atenção nas informações confiáveis. Durante o mês de fevereiro de 2020 montou uma posição enorme comprando proteção no mercado de derivativos de crédito e, com o crash que aconteceu em março, ganhou uma fortuna. Com o lucro, comprou suas ações preferidas a preços de liquidação.

Ackman ganhou com o crash e, na sequência, lucrou mais ainda com a recuperação do mercado. Tacada de mestre.

O bilionário não teve sorte, nem contou com o acaso. Não concluiu nada baseado em dogmas, crenças ou certezas pré-concebidas. Não se baseou no “achismo” e nem seguiu os influenciadores digitais que dominaram as redes sociais.  Ackman foi atrás da informação. E isso lhe deu uma enorme vantagem comparativa em relação ao resto do mercado. Bill Ackman é um superforecaster.

Superforecasting é um conceito cunhado por Philip Tetlock e Dan Gardner em um livro de mesmo nome publicado em 2015, leitura obrigatória para qualquer gestor. Pessoas como Bill Ackman possuem certas características que Tetlock e Gardner conseguiram identificar e sintetizar em um modelo mental e comportamental.

Segundo eles, superforecasters não tem certeza de nada. São humildes e não-determinísticos, ou seja, assumem que nada que afeta a realidade estava fadado a acontecer. Têm a mente aberta, são intelectualmente curiosos, reflexivos (introspectivos e autocríticos) e confortáveis em expressar-se por meio de números. São pragmáticos, analíticos e valorizam o acesso a uma diversidade de posições diferentes. São probabilísticos: quando os fatos mudam, suas opiniões mudam também. Conhecem bem seus próprios vieses emocionais e cognitivos, e acreditam que podem melhorar sempre. Para completar, não desistem facilmente de nada.

De todas essas características, Tetlock e Gardner consideram que a mais importante é a capacidade de mudar de opinião. Superforecasters não são donos da verdade, muito menos pessoas teimosas. Têm a humildade necessária para saber que nem sempre estão com a razão.

Esses traços de personalidade são o hardware do qual são feitos, condição necessária para ser um superforecaster. O software que roda em seus cérebros pode ser representado pela busca incessante por dados e o trabalho analítico minucioso. A combinação dessas duas características é poderosa.

Ser um superforecaster não é fácil, especialmente nos dias de hoje. As redes sociais e os vieses de quem nelas publica incentivam e promovem um ambiente oposto ao necessário para superforecasting. O chamado “conteúdo” é, com raras exceções, vazio, narcisista e intencionalmente comercial. São, em geral, as calorias vazias da dieta: não alimentam e ainda fazem mal.

A boa notícia é que Bill Ackman não tem um gene especial que o torna um superforecaster. Superforecasting é uma habilidade puramente comportamental que, com treino e prática, pode ser desenvolvida por qualquer pessoa em qualquer tempo. Seja um você também.

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