Uma nova nota de pesquisa que analisa possíveis cenários se o presidente Donald Trump decidir demitir o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, alerta que, independentemente do que exatamente aconteça a seguir, “isso seria uma bagunça”.
“Esperamos, assim como todos os outros, que isso seria significativamente negativo para os mercados, provavelmente levando a uma venda de ações e a um aumento contraproducente nos juros de longo prazo”, escrevem Tobin Marcus e Chutong Zhu, da Wolfe Research, em nota aos clientes.
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Instabilidade e reações políticas
A Wolfe Research especulou que a Suprema Corte poderia, em última instância, decidir se Trump tem o poder de demitir Powell por justa causa. A empresa emitiu a análise poucas horas depois que o mandato de Powell como chefe do banco central parecia extremamente instável, e então, de repente, parecia menos instável.
Um alto funcionário da Casa Branca disse à CNBC na quarta-feira (16) que Trump disse a um grupo de membros republicanos do Congresso na noite anterior que provavelmente demitiria Powell “em breve”. Mas durante uma sessão de perguntas e respostas no Salão Oval com repórteres logo após o funcionário falar, Trump rapidamente e publicamente negou o que sua Casa Branca estava dizendo.
“Não estamos planejando fazer isso”, disse Trump. “Não descarto nada… mas acho altamente improvável, a menos que ele tenha que sair por fraude.”
Trump é notoriamente imprevisível, e tem um longo histórico de demitir funcionários logo depois de dizer que eles têm seu total apoio. No caso de Powell, no entanto, Trump tem reclamado por meses, criticando o presidente do Fed por não cortar as taxas de juros, apesar da exigência do presidente de que o banco central o faça.
Opiniões de especialistas
O fundador da Evercore, Roger Altman, disse ao programa Closing Bell da CNBC na quarta-feira, “Existem muitas ideias ruins por aí. Mas o presidente demitir o presidente do Fed, ou, devo dizer, tentar demiti-lo — porque não está claro para mim que ele conseguiria — está entre as piores ideias.”
“É uma ideia terrível”, disse Altman, que serviu como secretário adjunto do Tesouro sob o ex-presidente Bill Clinton. Altman apontou para o que chamou de diferença “marcante” entre as trajetórias econômicas de países que têm bancos centrais verdadeiramente independentes, como os Estados Unidos, e nações que têm “bancos centrais politizados controlados, por exemplo, por seus chefes de estado.”
Para o último caso, ele citou Turquia e Argentina como dois exemplos. Ambos os países tiveram taxas de inflação de dois dígitos nos últimos anos. Além disso, disse Altman, “Não acho que o presidente Powell aceitaria um pedido para sair” se Trump fizesse um.
“Então, acho que, em última análise, isso seria resolvido nos tribunais”, disse Altman. Os analistas da Wolfe Research concordaram com a visão de Altman.
“Se Trump realmente tentar demitir Powell em vez de apenas pressioná-lo a renunciar, Powell presumivelmente entraria com uma ação para impedir isso”, diz a nota da Wolfe Research.
“A primeira grande questão é se ele seria, de fato, demitido enquanto a ação judicial prossegue”, acrescentaram os analistas.
Eles observaram que em várias outras instâncias onde Trump demitiu comissários de agências independentes durante seu segundo mandato, esses comissários entraram com ações judiciais buscando sua reintegração.
“Essas ações judiciais falharam”, escreveram os analistas.
“A peculiaridade neste caso é que Powell é o chefe de sua agência, ao contrário das outras demissões recentes em agências independentes, que normalmente ocorreram em situações onde Trump já havia designado um novo presidente da agência e estava demitindo comissários não presidentes”, diz a nota.
“Nesses casos, o presidente podia efetuar essas demissões — mas não há realmente ninguém no Fed que possa demitir Powell.”
Cenários possíveis
A nota destaca três cenários possíveis se Trump demitir Powell.
No primeiro, Powell permanece de fato como presidente do Fed enquanto Trump busca uma ordem judicial para removê-lo.
No segundo, Powell “sai voluntariamente e entra com uma ação para ser reintegrado”.
No terceiro, e mais dramático cenário, Powell tenta permanecer como presidente, e Trump busca sua remoção por meio de ação executiva.
A nota diz que um cenário semelhante ocorreu em março, quando a polícia de Washington, D.C., foi chamada para escoltar funcionários do Instituto de Paz dos EUA para fora de seu prédio após funcionários do Departamento de Eficiência Governamental de Elon Musk os acusarem de invasão.
“Nem é preciso dizer, Powell sendo escoltado para fora do Fed pela polícia de D.C. ou por forças de segurança federais seria uma imagem preocupante para os mercados”, escreveram os analistas da Wolfe Research.
Implicações judiciais
Se houver litígio sobre a demissão de Powell por Trump, provavelmente acabaria na Suprema Corte. Os analistas notaram que a maioria indicou recentemente em um caso não relacionado que “vê o Fed de maneira diferente de outras agências independentes quando se trata de proteções contra demissões por justa causa”.
“O Federal Reserve é uma entidade exclusivamente estruturada, quase privada, que segue a distinta tradição histórica do Primeiro e Segundo Bancos dos Estados Unidos”, escreveu a maioria da Suprema Corte em uma ordem permitindo que Trump demitisse funcionários de outras duas agências.
Os analistas da Wolfe Research disseram: “Achamos que Powell teria uma chance razoável de vencer no tribunal, mas está longe de ser uma certeza.”
Eles observaram que a questão de saber se a Suprema Corte está disposta a manter “proteções por justa causa para o presidente do Fed… é uma questão diferente de saber se eles estão dispostos a anular o presidente sobre o que constitui justa causa.”
Um cenário postulado na nota é que a Suprema Corte permitiria que uma liminar de um tribunal inferior bloqueando Trump de demitir Powell permanecesse em vigor enquanto o caso sobre a autoridade de Trump para demiti-lo se desenrolasse.
“Isso provavelmente seria suficiente para ele cumprir seu mandato como presidente”, diz a nota.
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