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KEY POINTS
presidente da Argentina, Javier Milei
Tânia Rêgo/Agência Brasil
“Dólares, vendendo dólares!” grita um cambista para as pessoas que passam no distrito financeiro de Buenos Aires.
Mas não há interessados, já que a paixão de décadas dos argentinos pelo dólar finalmente mostra sinais de esfriar.
Ao longo de anos de alta inflação e controles cambiais, os argentinos faziam fila para trocar seus pesos, cada vez mais desvalorizados, por dólares, levando a moeda americana a um recorde de 1.500 pesos no mercado negro em 12 de julho.
Mas à medida que a inflação desacelera sob o governo de cortes de gastos do presidente Javier Milei — de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,4% em novembro de 2024 — a busca por dólares diminuiu, mesmo após Milei ter prometido durante sua campanha no ano passado trocar o peso pelo dólar.
Especialistas apontam vários motivos para a queda na demanda por dólares. As rigorosas medidas de austeridade de Milei reduziram drasticamente o poder de compra dos argentinos, destruindo sua capacidade de poupar em dinheiro americano — a maneira preferida de criar uma reserva financeira.
Os especialistas também destacam uma anistia fiscal lançada pelo governo em julho para encorajar os argentinos a depositarem dólares que estavam guardados em colchões e tábuas do assoalho, ou escondidos em cofres e contas no exterior.
O programa já arrecadou US$ 20 bilhões (cerca de R$ 100 bilhões) em depósitos até agora, ajudando a aliviar a escassez de dólares.
Enquanto isso, o banco central aproveitou a valorização do peso para acumular suas reservas em dólares, que passaram de US$ 21 bilhões para US$ 32 bilhões desde que Milei assumiu o poder há um ano.
Em um sinal de como os tempos mudaram, a cotação do dólar no mercado negro, que em certo momento era o dobro da oficial, agora está quase alinhada com a oficial, um pouco acima de 1.000 pesos por dólar.
Oscar, um dos muitos cambistas do mercado negro de Buenos Aires — conhecidos como “arbolitos”, ou pequenas árvores, porque se plantam nas ruas oferecendo notas verdes — disse à AFP que os negócios desaceleraram dramaticamente.
“Até um ano atrás, eu fazia cerca de 40 transações em um período de seis horas; agora faço quatro, no máximo, em 10 horas”, disse Oscar, que trabalha abertamente perto do palácio presidencial, mas preferiu não dar seu nome completo devido à natureza ilegal de seu trabalho.
Atualmente, seus únicos clientes para dólares são trabalhadores migrantes bolivianos e peruanos, que trocam pequenas quantias para enviar para casa.
Em cenas impensáveis há poucos meses, a maioria de seus clientes argentinos agora está se desfazendo de dólares — porque precisam de mais pesos para pagar contas que dispararam desde que Milei assumiu o cargo e cortou subsídios de energia e transporte.
Aposentados “caminham por todo o centro da cidade em busca do melhor negócio” para pesos, disse Oscar.
Nos fundos de sua imobiliária no bairro de classe média Caballito, onde ela troca dólares no mercado negro, Fabiana também está enfrentando dificuldades.
Para competir, ela oferece serviço de entrega em casa para argentinos ricos que compram dólares para viajar ao exterior ou para pessoas sacando economias em dólares, algumas delas “manchadas por terem sido guardadas debaixo do colchão.”
A troca de dinheiro é apenas uma fonte de “dinheiro de bolso” atualmente, disse Fabiana.
A maior parte de seus negócios vem da venda de imóveis, que está em alta graças à anistia, que também abrange investimentos em projetos imobiliários e certas compras de propriedades.
Especialistas alertam que o fortalecimento do peso em relação ao dólar pode ser temporário se, como esperado, os efeitos da anistia fiscal logo se dissiparem ou se Milei não conseguir garantir uma nova injeção de dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O FMI disse na quinta-feira (19) que estava em negociações com a Argentina sobre um novo programa para substituir um acordo de empréstimo de US$ 44 bilhões, que deve expirar em 31 de dezembro.
O economista Hernan Letcher atribuiu à anistia fiscal a ajuda na estabilização da demanda por dólares, mas disse que esse programa e qualquer nova injeção de dinheiro do FMI são medidas pontuais que não resolvem os problemas cambiais da Argentina.
“Os dólares da anistia não são seus (não pertencem ao estado) e você tem que devolver os dólares do FMI,” ele disse.
Enquanto isso, o fortalecimento do peso corre o risco de prejudicar as exportações para o Brasil, o maior parceiro comercial da Argentina.
A moeda do Brasil, o real, caiu para uma baixa recorde em relação ao dólar na semana passada devido a preocupações sobre sua economia.
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