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Brasil

Negros representam 52% dos empreendedores no país

Publicado 20/11/2024 • 13:47

Redação Times com ASN Nacional

KEY POINTS

  • O índice no Rio Grande do Norte chega a 60,5%, mas os desafios continuam, especialmente em relação às desigualdades econômicas e ao acesso a recursos.
  • Enquanto 67,8% dos donos de negócios negros são homens, apenas 32,2% são mulheres
  • Os negros donos de micro e pequenas empresas são os que têm o menor nível de faturamento: 77,6% deles recebem até dois salários-mínimos por mês
Empreendedor negro

Negros são maioria dos empreendedores brasileiros

Pexels

No Dia Nacional da Consciência Negra, o Brasil celebra o protagonismo dos empreendedores negros, que já constituem mais de 52% dos donos de negócios brasileiros – um crescimento de 28% entre 2012 e 2023. No Rio Grande do Norte, o percentual de empreendedores negros chega a 60,5%, segundo estudo do Sebrae baseado em dados do IBGE. A data convida à reflexão sobre a luta histórica contra a escravidão e o racismo, destacando os avanços e os desafios ainda existentes na sociedade brasileira.

O estudo revela que dos 29,3 milhões de donos de pequenos negócios do país, formalizados ou não, cerca de 15,2 milhões se autodeclaram preto e pardos, enquanto 13,7 milhões (46,8%) brancos e 418 mil (1,4%) pertencentes a outras raças, como amarela e indígena.

Os empreendedores negros (pretos e pardos) já somam mais de 15 milhões, representando 52,4% do total de donos de negócios no Brasil. Essa trajetória de crescimento é significativa, considerando que em 2012 eram 12,2 milhões, houve um aumento de aproximadamente 28% nos últimos anos. Entretanto, os desafios ainda são grandes, especialmente em relação às desigualdades econômicas e ao acesso a recursos.

A análise regional revela que a maior parte dos empreendedores negros está concentrada nas regiões Sudeste (37,7%) e Nordeste (32,7%), ressaltando a necessidade de políticas públicas que considerem as dinâmicas locais. 

Além disso, a disparidade de gênero é alarmante: enquanto 67,8% dos donos de negócios negros são homens, apenas 32,2% são mulheres. Esse cenário evidencia a importância de iniciativas que apoiem as mulheres negras empreendedoras, que enfrentam não apenas a desigualdade de gênero, mas também questões raciais.

A educação é um fator crítico nesse contexto. Embora a escolaridade dos empreendedores negros tenha aumentado, continua com 42,8% possuindo ensino médio completo em 2023. A diferença se acentua quando se observa o acesso ao ensino superior, em que os empreendedores brancos estão em posição mais favorável.

Comércio, agropecuária e construção

 As 10 principais atividades somam 78% do universo desses de empresários. Esses empreendedores lideram, em termos de participação na agropecuária e na construção. Cerca de 13,9% dos donos de negócio negros (pretos e pardos) estão na agropecuária e 15,9% na construção. Estas proporções são maiores do que as verificadas, por exemplo, entre os brancos (13% e 10,1%, respectivamente).

O estudo, feito com base na PNAD, mostra que apesar de serem maioria no universo empreendedor brasileiro, os negros donos de micro e pequenas empresas são os que têm o menor nível de faturamento (77,6% deles recebem até dois salários-mínimos por mês) e o menor nível de escolaridade (45,1% têm somente até o ensino fundamental).

Iniciativas empreendedoras da diversidade

“Ao apoiar negócios comandados por pessoas negras, estamos criando oportunidades e construindo um futuro mais inclusivo. A atuação está centrada em promover a igualdade e o crescimento para uma parcela significativa da população”, diz Décio Lima, presidente do Sebrae Nacional.

Para Elisete Lopes, gestora da Diversidade do Sebrae-RN, o crescimento do número de empreendedores negros no Brasil é um reflexo poderoso de uma mudança estrutural que está ocorrendo no país. Para ela, cada história de sucesso não é apenas uma conquista individual, mas também um avanço importante em direção à equidade econômica e social.

“Esse crescimento é significativo, pois demonstra que a população negra, historicamente marginalizada e com acesso limitado a recursos e oportunidades, tem se levantado com força para transformar realidades e criar novos espaços no mercado. É gratificante estarmos como instituição apoiando essa transformação”, ressalta.

Empreendedorismo para mulheres negras

Entre obstáculos e conquistas, Tatiana Pires, 46, de sua jornada na política e causas sociais, encontrou um novo caminho no empreendedorismo. Atualmente ela se dedica ao Conexões 84 – uma startup que transforma negócios com impacto, por meio de consultorias, mentorias e palestras focadas em projetos de impacto para o setor público, empresas e sociedade civil.

A empresa foi criada em 2011, mas somente em 2023 que Tatiana reconhece ter focado mais em seu negócio, principalmente pelo apoio que recebeu do Sebrae-RN,por meio do projeto Quartzo, o qual participou no ano anterior. “Foi o divisor de águas na minha perspectiva de negócios”, considera.

Enquanto uma mulher negra, Tatiana entende que além de desenvolver habilidades e técnicas para lidar com os negócios, é exigido um preparo emocional. “Sei quem sou, uma mulher poderosa, que ocupou espaço, mas que todos os dias é testada pela sua capacidade nessa sociedade. Você tem que trabalhar sua mente para se colocar como a mulher poderosa, sem precisar ferir”, relata.

Também com uma veia empreendedora, Luara Almeida investiu em novos negócios desde cedo. Na adolescência, vendia doces para ajudar à família, mas após a conclusão do curso de Engenharia Química, pela Ufersa, percebeu que tinha habilidade para empreender e decidiu se dedicar a isto. Hoje ela é proprietária da Fri Cosméticos, empresa focada em cosméticos naturais, com produtos como sabonetes, condicionadores sólidos, shampoos sólidos e óleos essenciais.

Em 2022, também participou do programa Quartzo que “abriu sua mente” e a fez enxergar que poderia ocupar novos espaços. “Conheci outras empreendedoras pretas, com quem ainda troco experiências. Continuo afirmando que empreender não é fácil, no entanto, sei que persistir diante das dificuldades é um ato de resistência e resiliência — algo que as inúmeras mulheres da minha linhagem me ensinaram a ter. Desistir não é uma opção”, ressalta.

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