A forte demanda dos Estados Unidos por ouro está “sugando” reservas do metal de alguns países, à medida que traders tentam estocar antes que as tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre Canadá e México entrem em vigor.
Há um “excesso de ouro” nos cofres de Nova York, afirmou Adrian Ash, diretor de pesquisa da BullionVault, à CNBC.
Mais de 600 toneladas, ou quase 20 milhões de onças de ouro, foram transportadas para os cofres da cidade desde dezembro do ano passado, de acordo com dados do Conselho Mundial do Ouro. Esse volume normalmente não estaria em Nova York, disse John Reade, estrategista de mercado do Conselho Mundial do Ouro para Ásia e Europa.
“Você só mantém o ouro lá quando circunstâncias extraordinárias estão acontecendo”, disse Reade à CNBC.
A ameaça de tarifas sobre o ouro levou bancos, investidores e traders dos EUA a transferirem o metal precioso para o Commodities Exchange Centre e outros cofres em Nova York, quando normalmente ele seria armazenado em Londres.
“Há preocupações de que tarifas iminentes sobre o Canadá e o México afetem tanto o ouro quanto a prata”, disse Nicky Shiels, chefe de estratégia de metais da MKS Pamp.
As cadeias de abastecimento foram impactadas por esse intenso movimento dos Estados Unidos importando ouro antes das tarifas entrarem em vigor.
Recentemente, Trump declarou que as tarifas abrangentes dos EUA sobre importações do México e do Canadá serão aplicadas após o prazo de adiamento expirar na próxima semana. Em 1º de fevereiro, o presidente assinou ordens executivas impondo tarifas de 25% sobre produtos desses dois países.
Contudo, alguns investidores temem que a ameaça tarifária possa se estender a outros países.
“Há preocupações de que tarifas mais amplas também possam ser aplicadas ao Reino Unido e à Suíça, que são grandes centros de negociação de ouro”, acrescentou Shiels.
“A maior preocupação é que possa haver uma tarifa geral sobre todas as importações para os EUA e que isso também se aplique ao ouro”, disse Nikos Kavalis, diretor-gerente da Metals Focus.
Canadá e México estão entre os maiores exportadores de ouro para os Estados Unidos. O país importa a maior parte do seu ouro do Canadá, seguido por Suíça, Colômbia, México e África do Sul, segundo dados do OEC World.
Desde a vitória de Trump nas eleições de novembro, os contratos futuros de ouro nos EUA superaram amplamente seus equivalentes internacionais, criando oportunidades de arbitragem para aqueles que conseguem movimentar grandes quantidades de ouro para o mercado americano, de acordo com especialistas do setor ouvidos pela CNBC.
Preocupação com tarifas
Os analistas atribuem esse movimento, em grande parte, a traders que buscam encerrar posições vendidas ou que possuem ouro físico em Nova York e esperam vender contratos futuros para capturar o prêmio elevado.
Na quinta-feira, os contratos futuros de ouro listados na Comex eram negociados a US$ 2.930,6 por onça, enquanto o preço do ouro no mercado à vista em Londres era de US$ 2.901 — uma diferença de quase US$ 30. O prêmio era ainda maior em janeiro.
Os armazéns dos EUA agora estocam o equivalente a quatro anos de demanda doméstica por ouro, de acordo com dados da BullionVault.
A produção doméstica de ouro nos EUA em 2024 foi estimada em 160 toneladas, uma queda em relação à produção de 170 toneladas em 2023, segundo o U.S. Geological Survey.
Para os traders, Trump “poderia impor tarifas de 100% sobre as importações de ouro para os EUA amanhã” sem causar grande impacto nos preços do ouro no país, já que há estoque suficiente nos cofres, disse Ash.
Embora normalmente não haja uma necessidade urgente de entrega física de ouro, os investidores precisam ter segurança de que isso pode ser feito — algo que as tarifas de Trump ameaçam atrapalhar.
“Poucas pessoas precisam realizar entregas normalmente, mas é sempre necessário ter essa possibilidade”, afirmou Reade, do Conselho Mundial do Ouro.
“Se você agora está preocupado com a possibilidade de ter que pagar uma tarifa de importação, então não quer que seu ouro esteja em Londres, precisa tê-lo em Nova York antes que a tarifa entre em vigor”, acrescentou.
Disrupção na cadeia de suprimentos
“As cadeias de abastecimento foram impactadas por esse intenso movimento dos EUA importando ouro antes das tarifas”, disse Reade.
Um fator complicador é que os depósitos da Comex geralmente fazem entregas por meio de barras de um quilograma, que estão disponíveis apenas em regiões como China, Sudeste Asiático, Oriente Médio e Índia, ele explicou.
“Há uma capacidade limitada para refinarias produzirem barras de um quilograma”, disse Reade.
“De repente, todos estão tentando obter barras de um quilograma elegíveis para os armazéns da Comex e enviá-las para Nova York, e isso fez com que outros fluxos de ouro fossem interrompidos”, acrescentou.
Londres, frequentemente considerada o principal mercado para ouro, sofreu um grande impacto com essa mudança.
“Com o mercado transferindo estoques de ouro de cofres privados de Londres para os da Comex, a disponibilidade de metal em cofres privados londrinos tem diminuído”, disse Kavalis, da Metals Focus.
Barras de ouro de grande porte também estão sendo retiradas de Londres para outras refinarias ao redor do mundo, onde podem ser fundidas e refinadas em kilobarras, já que o padrão de ouro armazenado em Londres são barras de 400 onças.
As reservas de ouro nos cofres de Londres caíram pelo terceiro mês consecutivo em janeiro, segundo a London Bullion Market Association. O volume de reservas caiu 1,7% em relação a dezembro.
As exportações de ouro da Suíça para os EUA em janeiro atingiram o maior nível em pelo menos 13 anos, segundo a Reuters, e Cingapura também enviou mais ouro do que o habitual para os EUA, observou Kavalis.
“Apenas para se proteger contra essas tarifas, ouro tem sido enviado para os EUA, e isso ‘suga’ ouro do restante do sistema”, disse Reade.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
