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Economia em foco Artur Horta

Ativismo de mercado: o incômodo que melhora o sistema

Publicado 11/07/2025 • 20:06 | Atualizado há 5 horas

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Artur Horta

Artur Horta é jornalista especializado em economia e investidor profissional nos mercados de ações e commodities.

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Poucas palavras provocam tanta inquietação nos corredores dos conselhos administrativos quanto “investidor ativista”. A figura, frequentemente associada a pressões incômodas e conflitos públicos, causa arrepios em executivos acostumados a operar longe dos holofotes. Mas, talvez, esteja aí a principal razão de sua crescente importância. Em um país onde o poder corporativo se concentrou historicamente nas mãos de poucos — e, não raras vezes, blindado de questionamentos —, o ativismo no mercado de capitais pode ser justamente o antídoto necessário à opacidade ainda reinante.

O caso mais recente envolvendo a incorporadora Helbor reacende o debate sobre esse papel. Um acionista minoritário — neste caso, um auditor fiscal — identificou possíveis inconsistências bilionárias nos balanços da companhia. Com base nesse alerta, a jovem Associação Brasileira de Investidores no Mercado de Capitais (Abimec), liderada pelo influenciador Rafael Ferri, trouxe as denúncias à luz.

Ainda que não haja, até agora, comprovação formal das irregularidades, o episódio já serve de termômetro: o ativismo acionário está, enfim, ganhando contornos mais definidos no Brasil. E isso é mais positivo do que muitos gostariam de admitir.

Para compreender a importância desse movimento, é preciso olhar além do ruído e entender o seu papel estrutural. O ativismo não é — ou pelo menos, não deveria ser — sinônimo de caça às bruxas. É, antes de tudo, um mecanismo de controle informal, mas eficaz, que pressiona as empresas a elevarem seus padrões de governança e responsabilidade.

Historicamente, mercados mais maduros já incorporaram esse elemento à sua dinâmica cotidiana. Carl Icahn, uma lenda viva do capitalismo norte-americano, é o exemplo mais didático: em 2013, sua pressão pública sobre a Apple para que a empresa aumentasse o retorno aos acionistas via recompra de ações gerou dividendos concretos — tanto em cifras quanto em reputação corporativa.

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Outro exemplo, ainda mais emblemático, foi protagonizado por Bill Browder, da Hermitage Capital, que enfrentou a corrupção sistêmica na Rússia e ajudou a pavimentar a aprovação de legislações internacionais anticorrupção, como a Lei Magnitsky. Em ambos os casos, o ativismo ultrapassou os muros das companhias, moldando o ecossistema de investimentos de forma ampla e duradoura.

O Brasil, por sua vez, tem avançado com passos mais tímidos. O episódio da Squadra contra o IRB Brasil, em 2020, ilustra como o ativismo pode corrigir distorções graves. A gestora publicou cartas detalhadas expondo inconsistências contábeis que, apesar da resistência inicial da empresa, acabaram sendo validadas pela realidade dos fatos: executivos renunciaram, os balanços foram revisados e os investidores acordaram, ainda que tarde, para os riscos que estavam assumindo.

Se o preço pago no curto prazo foi alto, o benefício de longo prazo é inegável: mais transparência, mais vigilância e menos espaço para narrativas ilusórias.

Neste contexto, a atuação da Abimec no caso Helbor marca uma nova etapa no amadurecimento institucional do mercado brasileiro. Ao colocar um holofote sobre uma possível dissonância contábil, a entidade cumpre exatamente o papel que se espera de um agente vigilante: expor dúvidas técnicas com base analítica, cobrar explicações, estimular o debate público e institucional. Nada disso implica condenação prévia. Mas o silêncio cúmplice, por outro lado, seria a antítese de qualquer mercado funcional.

É fundamental, no entanto, distinguir o ativismo genuíno da militância oportunista. A legitimidade de qualquer denúncia reside na sua capacidade de resistir à luz da técnica, não nos likes das redes sociais. A Abimec parece ter compreendido essa diferença ao consultar especialistas antes de publicizar seu posicionamento. Essa postura é vital. Sem ela, corre-se o risco de transformar o ativismo em espetáculo — e não em instrumento de accountability.

O ativismo no mercado de capitais é, em essência, um ato de cidadania corporativa. Ele incomoda, tensiona e desagrada — e isso é bom. Porque o conforto excessivo é o terreno fértil da complacência, e onde há complacência, os riscos se multiplicam. Num país marcado por assimetrias de informação e estruturas empresariais concentradas, a emergência de atores dispostos a questionar o status quo é sinal de saúde, não de crise.

O caso Helbor ainda está em curso e, como todo processo em sua fase inicial, carece de comprovações robustas. Mas o debate que ele suscita é, por si só, valioso. Ele revela um mercado que começa a exigir mais do que resultados trimestrais vistosos: começa a demandar coerência, consistência e, sobretudo, responsabilidade.

Não se trata de endeusar o ativismo nem de demonizá-lo. Trata-se de reconhecer que ele pode ser — e, em muitos casos, já tem sido — uma peça-chave para a construção de um mercado mais justo, transparente e confiável. Investidores ativistas não são inimigos das empresas. São aliados de um sistema que deseja crescer com integridade.

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