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Trump pode pagar preço alto por subestimar o Japão
Publicado 04/07/2025 • 16:50 | Atualizado há 12 horas
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Publicado 04/07/2025 • 16:50 | Atualizado há 12 horas
EUGENE HOSHIKO/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Pedestres passam diante de um painel eletrônico de ações exibindo o índice Nikkei do Japão em uma corretora de valores mobiliários na capital Tóquio, nesta sexta-feira, 20 de junho de 2025, em Tóquio.
A famosa política de “America First” de Donald Trump parece estar levando a um caminho arriscado, principalmente quando o assunto são os parceiros comerciais dos Estados Unidos. A recente ameaça de Trump de aplicar tarifas de até 35% sobre produtos japoneses – um valor bem maior do que os 24% previstos e com um prazo apertado – não é apenas uma negociação comercial agressiva. É um movimento perigoso que, no grande jogo da economia mundial, pode minar a própria estabilidade econômica dos EUA.
A fala de Trump, dizendo que "Eles deveriam pagar 30%, 35% ou o número que decidirmos, porque também temos um grande déficit comercial com o Japão", ignora como as economias do mundo estão conectadas. Tudo é uma grande teia de dependências financeiras. O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, mesmo com um tom amigável, já deixou claro que está determinado a proteger os interesses de seu país. E essa proteção pode vir de maneiras que os políticos em Washington talvez não esperem, ou que estejam subestimando.
Para entender por que a ameaça de Trump é tão grave, precisamos olhar a situação atual da economia do Japão. O país está em um momento delicado, enfrentando uma inflação, ou seja, o aumento geral dos preços, que está acelerando de forma preocupante. Os preços ao consumidor no Japão, sem contar os alimentos frescos, subiram 3,7% em maio em comparação com o ano anterior. Esse é o ritmo mais rápido desde janeiro de 2023 e já é a sexta vez seguida que a inflação fica igual ou acima de 3%. Alguns alimentos, como o arroz, tiveram aumentos impressionantes de mais de 100%, o que pesa muito no bolso das pessoas.
Ao mesmo tempo, o Banco do Japão (BoJ) está em uma situação difícil. Depois de muitos anos de uma política monetária frouxa, com juros negativos e uma enorme injeção de dinheiro na economia através da compra de títulos, o BoJ finalmente elevou sua taxa básica de juros para zero há cerca de um ano. Isso marcou o fim simbólico de uma era que começou lá em 2007. No entanto, o Japão é o país mais endividado do mundo, com sua dívida pública ultrapassando 237% de tudo o que o país produz em um ano (o PIB). Aumentar as taxas de juros de forma significativa, embora seja uma medida para controlar a inflação, faria com que o governo pagasse muito mais para financiar sua dívida. Isso poderia, inclusive, "quebrar o governo", como alguns especialistas alertam.
Além disso, os bancos e os fundos de pensão japoneses, que são grandes compradores da dívida do governo local, teriam grandes perdas se os preços desses títulos caíssem bruscamente por causa de um aumento repentino dos juros. A política de estímulo do BoJ, mesmo sendo revertida aos poucos, ainda é vista como "cautelosa" por muitos, significando que o banco não tem pressa em subir os juros. Essa incerteza sobre futuros aumentos de juros tem mantido a moeda japonesa, o iene, sob pressão para se desvalorizar. Um iene mais fraco torna os produtos importados mais caros, o que piora ainda mais a inflação no país.
É nesse cenário de fragilidade econômica interna e pressão externa que a ameaça de tarifas de Trump se torna especialmente perigosa. O Japão é, historicamente, o maior comprador de títulos da dívida americana (os famosos Treasuries) entre os países estrangeiros, controlando cerca de 4% do total. Isso significa que o Japão é um grande credor dos Estados Unidos, tendo trilhões de dólares em investimentos e dinheiro fora do país, muitos deles nesses títulos americanos. Essa posição dá a Tóquio uma poderosa ferramenta para reagir a ações que considere prejudiciais.
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Se as tarifas americanas levarem a economia japonesa a um ponto insustentável, obrigando o governo a tomar medidas extremas para se proteger, a venda maciça desses Treasuries americanos seria como uma "opção nuclear". Essa jogada estratégica, embora pudesse trazer prejuízos para o próprio Japão no curto prazo, teria um impacto devastador e imediato na economia dos EUA.
Primeiro, uma venda em grande escala de títulos americanos inundaria o mercado, fazendo com que o preço desses títulos caísse drasticamente e, por sua vez, os juros que o governo americano precisa pagar por eles disparassem. Isso aumentaria diretamente o custo da dívida para o governo dos EUA.
Em segundo lugar, esses juros dos títulos americanos servem como base para uma série de outras taxas de juros na economia do país, como as de financiamentos de imóveis, empréstimos para empresas e para o consumidor. Com os juros em alta, o custo de pegar dinheiro emprestado para empresas e pessoas aumentaria muito, o que frearia os investimentos e o consumo.
Terceiro, o aumento do custo do crédito e a consequente desaceleração da economia criariam um ambiente propício para uma recessão nos EUA, colocando em risco empregos e renda.
Quarto, se o Japão trouxer esse dinheiro de volta para casa, ele precisaria vender dólares para comprar ienes. Isso poderia fazer a moeda japonesa se valorizar e, o que é mais importante, desvalorizar o dólar. Embora um dólar mais fraco possa ajudar as exportações americanas, ele também tornaria as importações mais caras, aumentando a inflação interna nos EUA.
Por fim, um movimento desse tamanho por parte do Japão enviaria ondas de choque para todos os mercados financeiros do mundo, gerando uma incerteza e uma instabilidade nunca antes vistas.
A ironia da situação é óbvia: uma política que foi pensada para proteger a indústria americana e diminuir o déficit comercial pode, na prática, acabar provocando uma crise financeira nos próprios Estados Unidos. A ameaça de tarifas de Trump contra o Japão cria uma ligação clara de causa e efeito com uma possível instabilidade econômica americana, que seria impulsionada pela vulnerabilidade do Japão e suas ações para se defender.
Em um mundo onde as economias estão cada vez mais interligadas, nenhum país pode se dar ao luxo de adotar políticas isoladas sem pensar nas consequências globais. O Japão, se for forçado a escolher entre uma reação que proteja sua economia e um colapso interno, poderia desencadear uma série de eventos que prejudicaria a própria economia que Trump tenta "proteger".
A hora para ameaças unilaterais e tarifas é, sem dúvida, a pior possível. O que está em jogo não é apenas a venda de produtos japoneses, mas a estabilidade de um sistema financeiro global que já está tenso e, por consequência, o bem-estar econômico do próprio povo americano. A cautela e a diplomacia econômica estratégica são mais urgentes do que nunca.
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