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ESG EM PAUTA Marina Grossi

A COP da Amazônia e seus muitos legados

Publicado qua, 19 fev 2025 • 1:39 PM GMT-0300 | Atualizado há 6 dias

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Marina Grossi

Marina Grossi é economista e pioneira em sustentabilidade empresarial no Brasil. Tem mais de 25 anos de experiência em mudança do clima e finanças sustentáveis. É presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Ministra do Meio Ambiente Marina Silva e o presidente da COP30, André Corrêa do Lago falam com jornalistas após reunião com o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto.

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Desafios geopolíticos marcam o início de 2025, ano em que o Brasil sediará, pela primeira vez, uma conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. A COP30, em Belém (PA), em novembro, acontecerá em um mundo que já ultrapassou a marca de 1,5ºC de aquecimento da temperatura média global – e precisa conter, urgentemente, um avanço ainda maior, para manter viva a ambição do Acordo de Paris.

Ao mesmo tempo, a saída dos Estados Unidos do tratado internacional sobre mudanças climáticas, promessa de campanha do presidente Donald Trump concretizada logo no primeiro dia do seu segundo mandato, vai requerer um esforço muito maior dos demais países signatários. 

O cenário é desafiador, e justamente por isso o Brasil tem a oportunidade de fazer história. Após a presidência do G20 em 2024, o país assumiu em 1º de janeiro a presidência do BRICS – grupo hoje formado por 13 países em desenvolvimento – com a incumbência de realizar mais de 100 reuniões e organizar a cúpula dos chefes de Estado, pautando temas de interesse do bloco. Assim, a influência exercida no âmbito do G20, somada à presidência do BRICS e da COP30 vão manter o Brasil no epicentro do multilateralismo e da diplomacia global ao longo deste ano inteiro. 

Como anfitrião da COP30, o Brasil já assume o papel de influenciar os países signatários do Acordo de Paris na direção de um novo ciclo de compromissos, que mantenha viva a meta do 1,5ºC, e de conduzir as partes na direção de um documento final robusto, que coloque o mundo definitivamente na rota da economia neutra em carbono com inclusão social. Além disso, a COP30 – chamada também de conferência da Amazônia, por ser realizada no bioma que abrange nove países da América do Sul – reforça a importância do evento como catalisador de ações para o desenvolvimento sustentável em todo o continente.

O anúncio do embaixador André Corrêa do Lago como presidente da COP30 mostra que estamos em boas mãos. Com vasta experiência e repertório em negociações climáticas, além da capacidade de articulação de interesses diversos, o diplomata tem plenas habilidades para facilitar a criação de consensos durante a COP30 e marcar a posição do Brasil como protagonista na agenda global. A atuação do presidente da COP, via de regra, dita o ritmo e a ambição das partes nas discussões, e influencia também no engajamento do setor empresarial nas conferências, ampliando a participação e a voz das empresas nas decisões sobre mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável.  

As empresas têm um papel fundamental no processo de sustentar a ambição do Acordo de Paris, seja na implementação de políticas públicas climáticas, no desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono ou na alocação de investimentos para escalar projetos de energias renováveis e restauração de ecossistemas. Mais do que estabelecer metas internas de descarbonização, é preciso que as empresas internalizem a ambição climática por meio de Planos de Transição Corporativos robustos e alinhados à ciência. 

A transição justa exigirá esforço conjunto do setor empresarial, governos e sociedade civil. Hoje, apenas 13% dos compromissos climáticos dos países firmados no Acordo de Paris – as Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou NDCs – incorporam o setor privado. É preciso reinventar essa realidade, a partir da atualização das NDCs, que deve ocorrer até fevereiro, segundo os processos da Convenção do Clima da ONU. Assim, as discussões da COP30 se darão em torno dos novos compromissos. 

Resgatar a confiança no multilateralismo, promover avanços tecnológicos de baixo carbono, alcançar um consenso para o financiamento climático dos países em desenvolvimento e realizar a conferência com maior diversidade da história das COPs – dada a imprescindível presença dos povos indígenas da Amazônia – são alguns dos desafios da COP30. Esta será uma oportunidade para o Brasil redefinir o caminho da diplomacia climática e os rumos da economia global, de modo a fomentar um progresso concreto em direção a um modelo de desenvolvimento que preserve as condições de vida na Terra.