O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, responde a perguntas de repórteres no Fórum Global Outlook do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), à margem das Reuniões Anuais de Primavera de 2025 do FMI e do Banco Mundial, em Washington, D.C., EUA, em 23 de abril de 2025.

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ESG EM PAUTA Marina Grossi

Por uma IA regenerativa

Publicado 23/04/2025 • 09:47 | Atualizado há 2 dias

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Marina Grossi

Marina Grossi é economista e pioneira em sustentabilidade empresarial no Brasil. Tem mais de 25 anos de experiência em mudança do clima e finanças sustentáveis. É presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

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Recentemente, as redes sociais foram inundadas por desenhos criados por inteligência artificial (IA) na estética do renomado Studio Ghibli, o estúdio de animação japonês criador de filmes como A Viagem de Chihiro e Ponyo. A 'trend' - como são chamadas as tendências instantâneas que tomam conta do universo digital - foi tão avassaladora que levou 1 milhão de novos usuários para a OpenAI, dona da ferramenta ChatGPT.

O tráfego intenso de dados gerou uma  sobrecarga nos  servidores, obrigando a direção da companhia a limitar o acesso à funcionalidade. O boom das imagens em estilo anime gerou discussões éticas sobre direitos autorais e IA e também sobre o alto consumo de recursos naturais, especialmente água e energia, demandado pelos data centers na IA generativa.

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Para gerar textos, imagens, áudios e vídeos muito semelhantes aos criados por seres humanos, a IA generativa processa um volume muito alto de dados, cruzando informações de extensos bancos de dados e aplicando modelos para produzir respostas em pouco tempo.

Todos esses dados são armazenados e processados em data centers, compostos por servidores que, para funcionar, dependem de quantidades cada vez maiores de eletricidade, já que cruzar um grande volume de informações em pouco tempo consome muito mais energia do que uma simples pesquisa na internet. Em média, cada consulta ao ChatGPT consome 2,9 Wh (watts-hora) de eletricidade - em comparação, uma pesquisa regular gasta uma fração disso, cerca de 0,3 Wh.

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Um estudo do MIT Technology Review apontou que na semana pico do uso da tendência, o consumo de energia estimado para gerar as imagens foi de 40 MWh (megawatts-hora), o equivalente ao consumo de 7 mil residências no Brasil por 24 horas. A ampliação do uso da IA para uma escala de milhões de usuários, faz com que se torne significativo o impacto da tecnologia sobre o consumo de energia e também de água, necessária para o resfriamento dos data centers.

Uma estimativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) aponta que a demanda por água resultante da IA ​​poderá atingir 4,2 a 6,6 bilhões de metros cúbicos em 2027 - o dado inclui não só o consumo dos data centers, mas também os volumes necessários para a produção de semicondutores.

No caso da energia, um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA) traz a dimensão global do problema: em 2024, os data centers representaram 1,5% do consumo de eletricidade do mundo todo, o equivalente a 415 TWh (terawatts-hora), e a expectativa é de que demanda mais do que dobre até 2030, alcançando 945 TWh, o equivalente a 3% do consumo mundial.

O aumento da demanda por energia vem acompanhado por uma alta nas emissões de gases de efeito estufa relacionadas ao consumo de eletricidade, que devem saltar dos atuais 180 milhões de toneladas de carbono equivalente para 300 milhões de toneladas em 2035, segundo a IEA. A organização Open Compute Project estima que o setor de tecnologias de informação e comunicação (TIC) caminha para aumentar a sua participação nas emissões globais de carbono de 4% em 2021 para 8% até o final deste ano, já que o tráfego global da internet deverá dobrar para 4,2 trilhões de gigabytes.

Os impactos ambientais da expansão da IA já acenderam o sinal de alerta na ONU, que lançou, em fevereiro, uma coalizão internacional pela IA ambientalmente sustentável, iniciativa que envolve mais de 100 parceiros - entre eles, 37 empresas de tecnologia, 11 países, com a França à frente, e cinco organizações internacionais.

A iniciativa, capitaneada pelo Pnuma, prevê uma abordagem colaborativa para buscar métodos e métricas padronizados para medir os impactos ambientais da IA e também para produção de conhecimento e pesquisas sobre uma inteligência sustentável. O secretário-geral da ONU, António Guterres, conclamou as partes a projetar algoritmos e infraestruturas que consumam menos energia, além de integrar as ferramentas de inteligência para otimizar o uso de eletricidade e auxiliar nos processos de descarbonização.

Grandes empresas de tecnologia já reconhecem o desafio de conciliar a demanda exponencial de energia dos data centers com suas metas de neutralidade climática, o net zero. O Google viu aumentar suas emissões em 48% nos últimos cinco anos devido à expansão de seus data centers que dão suporte aos sistemas de inteligência artificial, o que coloca em risco o plano da gigante de tecnologia de se tornar net zero até 2030.

A Meta, que também tem o objetivo de zerar emissões em sua cadeia de valor até 2030, reconheceu um aumento das emissões de 46% em 2022 em comparação com o ano anterior. Via de regra, a estratégia das empresas para reduzir emissões é por meio da compra de energia de fontes renováveis para alimentar os data centers, ações de descarbonização na cadeia de valor e compensação por créditos de carbono.

As tecnologias de IA generativa vão continuar expandindo e sendo incorporadas ao dia a dia das pessoas - seja como ferramenta de trabalho, seja no lazer. É preciso não perder de vista que esse boom tecnológico está acontecendo em um momento crucial para o planeta, em que a humanidade já sente na pele os impactos da crise climática - 2024 foi o ano mais quente já registrado, com a temperatura média global 1,55ºC mais alta, ultrapassando, ainda que temporariamente, a crítica barreira do Acordo de Paris.

Canalizar os avanços tecnológicos para enfrentar as mudanças climáticas, gerando conhecimento e colocando em prática soluções de eficiência energética e de energia limpa é mais do que necessário - é urgente. Para lidar com um planeta em ebulição, precisamos de uma IA não só generativa, mas sobretudo regenerativa.

Marina Grossi é presidente do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), entidade com 28 anos de atuação e 120 grandes empresas associadas

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