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Direto de Nova York Norberto Zaiet

Por enquanto a Tesla é apenas um veículo

Publicado 22/04/2025 • 19:24 | Atualizado há 10 horas

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Norberto Zaiet

Norberto Zaiet é economista formado pela Universidade de São Paulo com MBA pela Columbia Business School. Foi Head para Mercados Emergentes do banco alemão WestLB AG e CEO do Banco Pine. Hoje é sócio-fundador e CEO da Picea Value Investors, family office sediado em Nova York.

SP - LUCRO TESLA/ LUCRO CAI - ECONOMIA - Após adesão de Elon Musk à política, quando o bilionário passou a fazer parte do governo de Donald Trump e incentivar partidos de extrema direita o lucro da empresa Tesla teve queda de 71% no 1º trimestre. Em 2025, lucro da montadora caiu de US$ 1,1 bilhão para US$ 409 milhões. 23/04/2025 - Foto: ALOISIO MAURICIO/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Não é controverso dizer que Elon Musk é uma figura controversa.  Ele mesmo, em tom de piada, admitiu a condição quando apresentou o programa Saturday Night Live, ainda em 2021. “A todos aqueles que eu eventualmente ofendi, só queria dizer uma coisa: eu reinventei os carros elétricos e estou mandando gente para Marte em um foguete espacial. Você realmente acha que eu seria um cara normal e tranquilo?”, provocou.

O deboche típico do programa descreve a realidade nua e crua. Seu biógrafo, Walter Isaacson (o mesmo de Steve Jobs, não por acaso) o descreve como “alguém que desenvolveu uma mentalidade de perseguição, que inclui uma atração, às vezes um desejo, por dramas e tempestades”. Charlie Munger o descreveu como “um gênio que se acha mais inteligente do que realmente é”. Perguntado se consideraria investir em ações da Tesla, respondeu com o maior elogio que poderia dar a alguém que pensa e age de maneira completamente oposta ao que qualquer value investor admira: “Tenho dois pensamentos a esse respeito: nunca compraria, mas também nunca venderia a descoberto”.

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Tesla é, no mercado, a empresa que todo analista convencional ama odiar. Mesmo depois do banho de sangue que a ação enfrentou neste ano, a empresa negocia a um múltiplo de mais de 100 vezes P/E, enquanto Ford e GM negociam abaixo de cinco vezes. Ao longo dos anos não faltaram short-sellers que, procurando em vão o racional do preço da ação no balanço e demonstrativo de resultados, decidiram fazer o que Munger não faria: vender a descoberto esperando o preço cair, ou ficar de fora. Até pouco tempo atrás eu fazia parte desta última categoria.

A análise convencional não funciona para empresas como a Tesla. Não adianta tentar modelá-la apenas como uma montadora de veículos. Os veículos, vim a aprender a duras penas, são apenas isso: um veículo. Explico.

No início do streaming, o próprio streaming era o negócio. Netflix havia deixado de lado o modelo de aluguel de DVDs e começava a distribuir conteúdo por meio da internet. Ao longo do tempo a empresa percebeu que o streaming era somente um veículo: qualquer um poderia distribuir conteúdo da mesma maneira. O negócio, de fato, era o conteúdo. E um veículo de distribuição de qualidade era condição necessária, mas não suficiente. A duras penas - e com uso intensivo de capital - a Netflix passou a produzir conteúdo de qualidade e destruiu o ambiente confortável de Disney e afins. Hoje, uma assinatura da Netflix é item de primeira necessidade em qualquer domicílio.

A mesma analogia serve para a Apple: seus aparelhos são, cada vez mais, um veículo para a distribuição de serviços que possuem margens muito superiores as dos próprios aparelhos.

Os entusiastas de Tesla acreditam que a empresa está na primeira fase da transformação pela qual Netflix e Apple passaram. Musk ainda está aperfeiçoando o veículo de distribuição – nesse caso, o próprio veículo – que vai distribuir, com qualidade, o negócio de verdade, que é a gestão eficiente do recurso mais escasso de cada um de nós: o tempo.

Os da minha geração vão entender: a Tesla quer entregar o que os Jetsons tinham. Os carros vão se autodirigir, e não serão mais somente um centro de custo, mas geradores de receita para o dono do automóvel e para a companhia.

O ecossistema que gira em torno dos veículos vai entregar os robôs, que não serão apenas braços e pernas mecânicas. A Tesla está produzindo máquinas que aprendem, andam, compram, limpam, jogam bola e conversam. Sim, o Optimus é a Rosie dos Jetsons. Sonho? Eu deixei de subestimar - e ainda nem falei das baterias.

Tesla divulgou os resultados do primeiro trimestre nesta terça-feira (22) no final do mercado. O desastre era anunciado, considerando a queda das vendas dos veículos nos EUA e na Europa, o envolvimento de Musk com Trump e com a AFD na Alemanha e, claro, as “Trumpalhadas” das tarifas alfandegárias. Os analistas tradicionais estão com o champanhe no gelo, e, neste caso, até os entusiastas estão incomodados: tomar lado em política nunca foi coisa boa para nenhum negócio. Musk parece ter escutado, e anunciou na conferência de resultados que a partir do mês que vem irá dedicar muito menos tempo ao DOGE, e muito mais à Tesla.

Segundo a Bloomberg, existem hoje 61 analistas cobrindo a empresa. Desses, 33 tem recomendação de compra e 28 recomendam a manutenção ou venda, com preço médio de aproximadamente US$ 314 por ação. Nas casas conhecidas, os mais otimistas colocam o preço acima dos US$ 450, e os pessimistas se posicionam um pouco acima dos US$ 100.

Um dos mais otimistas, a ARK Invest (gestora de fundos especializada em inovação e tecnologia) estima que a empresa de Musk vai lançar um serviço comercial de robotaxi em Austin, TX, na metade deste ano, seguido de uma expansão para a Califórnia que vai mudar definitivamente a percepção dos pessimistas e do mercado em geral. Esta é a aposta de quem compra Tesla hoje.

Os riscos são grandes, e não é fácil falar positivamente sobre a empresa. Entretanto, se a vida dos Jetsons é possível, Musk hoje é o único que pode torná-la realidade.

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