Trump 2.0 segue a cartilha da Dama de Ferro
Publicado 24/03/2025 • 12:44 | Atualizado há 2 meses
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Publicado 24/03/2025 • 12:44 | Atualizado há 2 meses
Trump quer agir como a primeira-ministra britânica Margaret Thacher
Reprodução Times Brasil/Begoon/Wikimedia Commons
NOVA YORK -- As notícias da última semana revelaram a transformação que Donald Trump realizou no Salão Oval da Casa Branca. Quase não há mais paredes para tantos retratos de ex-presidentes e o escritório do mandatário brilha em dourado, no melhor estilo “Trump Tower”. A meu ver, falta o retrato de um líder estrangeiro do qual Trump segue a cartilha, ainda que modificada: Margaret Thatcher.
Thatcher assumiu o poder na Grã-Bretanha em 1979, com a inflação beirando a casa dos 10%. Era então seu principal problema, numa época em que o Banco da Inglaterra não era independente e ainda nem se pensava em metas de inflação.
A Dama de Ferro acreditava, ao melhor estilo de Milton Friedman, que a pressão inflacionária era um fenômeno puramente monetário e que, para controlá-la efetivamente, bastava regular a oferta de moeda na economia.
Ao fim e ao cabo, administrar um agregado financeiro tão abrangente e volátil provou-se um fracasso retumbante, e em 1983 o monetarismo puro foi deixado de lado após haver criado um dos períodos mais recessivos da história recente daquele país.
Em 1980, o PIB britânico havia caído 2,2% e a produção industrial, 8,6%. Com uma taxa de desemprego em 6,8%, a inflação saiu ainda mais do controle: de 13,4%, em 1979, foi a 18%.
Em 1981 o quadro ainda era bastante crítico: PIB negativo em 0,9%, desemprego chegando a preocupantes 9,6% e a inflação ainda em dois dígitos, apesar de mais baixa: 11,9%. No mesmo ano, Thatcher explicava que, apesar do sofrimento no curto prazo, suas políticas mostrariam resultados no longo prazo.
Havia primeiro que se estabilizar a economia por meio da redução do déficit público, redução de impostos e desregulamentação do setor privado. Logo após ganhar a eleição, a primeira-ministra estabeleceu uma “Unidade de Eficiência” governamental, reportando-se diretamente a ela e chefiada por um ex-presidente da Marks & Spencer. Soa familiar?
Há, entretanto, diferenças importantes entre aquele período e o atual. Thatcher, além de reduzir o tamanho da máquina estatal, tomou medidas que acabaram por também reduzir o tamanho do setor privado.
Para reduzir o déficit público, logo de início promoveu um aumento do imposto sobre valor agregado. Para evitar que essa medida impactasse ainda mais a inflação, estabeleceu regras rígidas de capital e desincentivou o crescimento da carteira de crédito dos bancos privados, aumentando os incentivos para que eles mantivessem suas reservas entesouradas.
E, como se não bastasse, fez o Banco da Inglaterra subir as taxas de juros. Tudo isso em nome de reduzir a quantidade de moeda em circulação para combater a inflação. Não é necessário ir muito longe para entender a razão de seu insucesso naquele período.
O governo Trump quer reduzir o tamanho do setor público e, em contrapartida (e ao contrário de Thatcher), incentivar o crescimento do setor privado. Até agora, o mercado observa e absorve a agenda relacionada ao enxugamento da máquina e seus efeitos no crescimento econômico norte-americano, considerando que o governo é responsável, direta ou indiretamente, por incríveis 25% do PIB.
A agenda para incentivar o setor privado, entretanto, ainda é desconhecida. Para que os agentes de mercado comprem essa ideia, ela precisa ser rápida, crível e exequível: diminuição de impostos, alívio regulatório para os bancos privados (especialmente os médios e pequenos) e redução de juros.
No campo dos impostos, manter o status quo não é suficiente: é preciso reduzir ainda mais.
A questão é: como fazê-lo sem aumentar o déficit público no curto prazo? O alívio regulatório para os bancos, segundo o secretário do Tesouro Scott Bessent, está no forno: se demorar muito, não haverá para quem emprestar. Mas como reduzir juros com as incertezas provocadas pela guerra de tarifas alfandegárias e seu potencial efeito inflacionário? O Federal Reserve deixou isso bem claro na reunião do FOMC da semana passada: as projeções de inflação de curto prazo estão mais altas, ao mesmo tempo que as projeções do PIB estão mais baixas.
Não se vê na administração Trump o mesmo senso de urgência em relação à agenda econômica que prioriza o setor privado, comparado ao que se vê em relação à redução do tamanho do setor público. Deixar essa agenda de lado significa cometer pecado semelhante ao cometido por Margaret Thatcher entre 1979 e 1983, ainda que em graus de magnitude e maneiras diferentes. O resultado é recessão, ainda que provavelmente menor e mais rápida que a de Thatcher.
Os setores mais sensíveis sentem antes: já há uma queda na expectativa de vendas de passagens aéreas e a Fedex já reduziu suas projeções para este ano, entre outros exemplos. São os chamados canários na mina de carvão: no passado, os mineiros mantinham canários nas minas para determinar a presença de gases tóxicos. Se o canário morresse, era sinal de que os gases estavam tomando conta do ambiente. Na economia, os canários ainda não morreram -- mas já não cantam com o mesmo vigor.
Há tempo para reverter as expectativas. Apesar dos ajustes recentes, o mercado ainda não dá como certa a morte dos canários e ainda espera a prometida agenda de incentivo ao setor privado. Tomara que ela venha logo, caso contrário, ao invés do retrato, o fantasma de Thatcher em início de governo vai ter de ser pendurado nas já repletas paredes do Salão Oval.
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