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Como as lojas de patinhos de borracha de Londres conseguem se manter

Publicado 24/07/2025 • 21:44 | Atualizado há 24 horas

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Redação CNBC

KEY POINTS

  • Com quatro lojas em pontos nobres de Londres e uma em Miami, a Duck World, especializada em patinhos de borracha, parece estar se virando bem, apesar do cenário negativo do varejo.
  • Inflação persistente no Reino Unido, aumentos salariais nacionais e cortes em incentivos fiscais vêm apertando o cerco sobre os lojistas.
  • O analista de varejo Jonathan De Mello alerta que, para negócios que vendem pequenos mimos do dia a dia, um dos riscos é a oscilação do chamado “treatonomics”.
O pato de borracha original da Duck World, em Londres: empresa vem mantendo estabilidade nos negócios mesmo diante de quadro desfavorável no Reino Unido.

O pato de borracha original da Duck World, em Londres: empresa vem mantendo estabilidade nos negócios mesmo diante de quadro desfavorável no Reino Unido.

Duck World London

Se parece um pato, nada como um pato e faz “quack” como um pato — pode ser um dos patinhos de borracha que lotam as prateleiras da Duck World, uma rede de lojas coloridas que está sobrevivendo enquanto centenas de outros comércios londrinos fecham as portas.

O “rebanho” da Duck World conta com cerca de 700 patinhos de borracha de todos os tamanhos, estilos e profissões. Uma funcionária contou à CNBC que os modelos mais procurados são o “Spidy Duck”, inspirado no mundo dos super-heróis, e o “Telephone Booth”, queridinho dos turistas. Alguns são fofinhos, outros de cerâmica ou mudam de cor — mas nem todos são feitos para brincar na água.

A empresa tem quatro lojas físicas em Londres — todas em endereços de alto valor —, além de outra em Miami. Mas, com preços que vão de £5 a valores de três dígitos (de cerca de R$35 a mais de R$700, na cotação atual), e com dados mostrando a queda do setor varejista britânico, muita gente se pergunta como a Duck World consegue se manter.

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Desafios e estratégias para manter as vendas

No fim das contas, alguns dos desafios que afetam o varejo britânico também atingem a Duck World.

“Os últimos meses foram bem difíceis”, contou Irina Fedotova, ex-funcionária do setor financeiro e hoje cofundadora da Duck World, em entrevista à CNBC em 14 de julho. Junto com o sócio Filip Perkon, ela abriu a primeira loja da rede — apelidada de “ninho” — em janeiro de 2023, com a missão de “espalhar felicidade”.

No entanto, a inflação alta, o aumento dos salários e o fim de incentivos fiscais apertaram o orçamento, e Fedotova admitiu que a Duck World precisou reajustar os preços dos produtos nos últimos meses.

Ainda assim, ela segue confiante na Duck World — “o patinho de borracha sempre foi um ícone” — e aposta no apelo contínuo para turistas, pessoas em busca de presentes e colecionadores.

“O comprador médio é, surpreendentemente, um millennial”, disse Fedotova.

Em uma rápida visita a duas lojas da Duck World, a CNBC percebeu clientes de todos os estilos: desde crianças agitadas até turistas de meia idade. Uma das compradoras contou que o último patinho que comprou foi para os filhos brincarem de acertar com pistolas d’água.

“Acho que algumas dessas lojas, pelo menos, têm uma clientela bem fiel”, disse pelo telefone o analista de varejo e CEO da JDM Retail, Jonathan De Mello, destacando que itens de coleção costumam ser menos impactados por crises econômicas. “A Duck World é um desses casos.”

De Mello sugeriu que a Duck World pode ter um retorno “altíssimo” nas vendas dos patinhos, já que “a margem bruta deve ser de pelo menos 70% — talvez chegue a 80-85%, por aí”, considerando custos baixos de matéria-prima e produção.

Produção e o impacto das tarifas internacionais

Segundo Fedotova, a maioria dos produtos da Duck World é criada no Reino Unido — mas muitos são fabricados na China. Por isso, a empresa foi pega no fogo cruzado entre Washington e Pequim, que levou as tarifas para a casa dos três dígitos em abril.

“Estamos buscando alternativas [à importação da China]”, disse Fedotova, mas ressaltou que fabricar nos Estados Unidos simplesmente não compensa.

Por muitos anos, a capacidade de produção e a estrutura deram à China o domínio sobre o setor de brinquedos. Porém, com o aumento dos riscos geopolíticos e a dependência exposta durante a pandemia, alguns fabricantes começaram a diversificar os fornecedores.

A China continental ainda respondeu por 71,4% das exportações globais de brinquedos nos seis meses até 31 de maio deste ano — uma leve queda em relação aos 76,9% do primeiro semestre de 2019, segundo dados da S&P Global Market Intelligence compartilhados com a CNBC. Para comparar, os Estados Unidos produziram só 1,1% das exportações mundiais de brinquedos no mesmo período.

Fabricar patinhos de borracha nos EUA não é impossível. A CelebriDucks, especializada em patinhos licenciados de celebridades, orgulha-se de ser “100% feita na América”, com início da produção em Ohio e finalização em Michigan.

“Treatonomics” e o comportamento dos consumidores

Além da questão da produção, o analista De Mello alerta que um dos riscos para negócios que vendem pequenos luxos do cotidiano é a moda do “treatonomics” — uma tendência forte entre consumidores em 2024, segundo o Barclays. O banco identificou que 46% dos britânicos “dizem priorizar gastos com pequenos mimos acessíveis, como doces e cosméticos, mesmo apertando o orçamento”.

“Esses patinhos de borracha entram bem nessa onda do treatonomics”, comentou De Mello.

No entanto, ele lembra que alguns itens de coleção são apenas “febres passageiras”, e “como o público é limitado… há um teto para esse tipo de produto”.

Patinhos colecionáveis da Duck World em diferentes temas.

Mesmo fora das lojas da Duck World, os patinhos de borracha seguem fazendo sucesso e têm lugar de destaque em várias lojas de souvenirs de Londres. Em Viena, por exemplo, patinhos com a cara de Mozart, voltados para turistas, custavam 14 euros (cerca de R$85).

O mercado de brinquedos, de modo geral, está em alta: levantamento da SumUp mostra que, em 2024, lojas de jogos e brinquedos tiveram o segundo maior crescimento em aberturas no Reino Unido desde 2020. No mundo, bonecos Labubu da Popmart ganharam fama meteórica após viralizarem nas redes sociais.

A “moda” dos colecionáveis costuma surgir de sentimentos de diversão ou nostalgia desencadeados por algum item. “Aí outra pessoa vê e isso vai crescendo como uma bola de neve”, explicou por e-mail à CNBC Cathrine Jansson-Boyd, professora de psicologia do consumidor da Anglia Ruskin University.

“De repente, esses itens viram símbolo de status. Não ter um pode fazer a pessoa se sentir por baixo, o que ninguém gosta — e isso pode impulsionar a compra”, disse ela. “No caso dos colecionáveis, o que move é o valor social: se está bombando no TikTok, é quase certo que os usuários vão querer um, seja lá o que for.”

Jansson-Boyd ressalta que, normalmente, o comprador é “guiado pelo bolso” e tende a cortar até esses pequenos luxos quando a situação aperta — mas o valor sentimental de um item de coleção pode pesar na decisão.

“Esse valor envolve felicidade, sentimento de pertencer a um grupo e interação com outros colecionadores. Em alguns casos, também representa quem a pessoa é — ou quer ser”, explicou.

Mas estar na moda também tem seus riscos.

“E quando deixa de ser tendência? … será que ainda dá para pagar o aluguel?”, provoca De Mello.

Desconfianças e a legitimidade da Duck World no mercado londrino

A presença da Duck World no disputado mercado imobiliário e varejista de Londres levanta dúvidas, inclusive sobre a legitimidade do negócio.

“[Me surpreende] o número de vezes que, mesmo ouvindo de passagem, as pessoas postam no Twitter: ‘Será que é lavagem de dinheiro?’”, comentou Fedotova, negando categoricamente as acusações. “É engraçado ver o quanto as pessoas são rápidas para julgar.”

O ceticismo com pequenos negócios que surgem nas ruas britânicas aumentou após algumas “candy shops” no estilo americano terem sido relacionadas a atividades ilegais.

As autoridades locais vêm apertando o cerco a essas lojas, principalmente na Oxford Street, uma das ruas mais movimentadas de Londres — a menos de 20 minutos a pé da loja principal da Duck World em Charing Cross.

A Duck World, porém, é uma empresa legítima. Teve lucro modesto no ano encerrado em março de 2024, e a Network Rail — que administra as lojas da rede nas estações Liverpool Street e London Bridge — afirmou por e-mail à CNBC que “as lojas da Duck World têm sido um acréscimo popular e colorido à nossa linha de lojas temporárias”.

Mesmo diante do ceticismo, de um cenário varejista difícil e do aumento dos furtos, Fedotova mantém o otimismo: “O crime está alto, os impostos são altos, os salários são altos, mas os patos continuam firmes.”

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