Quando a OpenAI abalou o mundo da tecnologia com o lançamento do ChatGPT em 2022, o Google correu para lançar um concorrente que, segundo funcionários, foi “apressado”, “feito às pressas” e “nada a ver com o padrão Google”. Esses tropeços iniciais podem ter sido uma sorte disfarçada.
Na terça-feira (2), um juiz federal rejeitou as punições mais severas propostas pelo Departamento de Justiça dos EUA (DoJ) no histórico processo antitruste aberto em 2020. O Google perdeu a causa no ano passado, mas o juiz decidiu que a gigante das buscas pode manter o navegador Chrome, contrariando o pedido do governo.
A punição mais pesada imposta proíbe o Google de fechar contratos exclusivos que envolvam pagamentos ou licenciamento. A empresa também terá que compartilhar dados de buscas.
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Impacto do mercado de IA generativa na decisão judicial
O desfecho favorável ao Google, mesmo após a derrota no tribunal, é resultado principalmente do setor de inteligência artificial (IA), que se tornou ferozmente competitivo em menos de três anos.
“O Google ainda é a empresa dominante nos mercados relevantes de produtos”, escreveu o juiz Amit Mehta. “Nenhum concorrente conseguiu tomar uma fatia de mercado do Google. E nenhum novo concorrente entrou no mercado. Mas as tecnologias de inteligência artificial, especialmente a IA generativa (‘GenAI’), ainda podem mudar o jogo”.
A decisão desta terça-feira (2) veio quase um ano depois de Mehta afirmar que o Google mantinha ilegalmente o monopólio das buscas na internet. As ações do Google dispararam nas negociações do pós-fechamento.
Mehta dedicou cerca de 30 páginas, entre as 226 do documento, para explicar o que é IA generativa e como está o mercado atualmente. Ele descreveu o setor como “altamente competitivo” e afirmou que há “inúmeros novos participantes” com acesso a “muito capital”.
Em outras palavras, o mercado de IA ganhou enorme importância e tem uma dinâmica de competição totalmente diferente da busca online, área em que o Google reina absoluto. Segundo o juiz, isso deve continuar assim.
“O Google não pode repetir, com seus produtos de IA generativa, as mesmas práticas anticompetitivas que usou nas buscas”, escreveu Mehta.
Google e o Departamento de Justiça não responderam aos pedidos de comentário.
O papel das startups de IA generativa no processo antitruste
Startups de IA generativa são citadas várias vezes ao longo do processo.
O nome da OpenAI aparece 30 vezes, Anthropic é mencionada em seis ocasiões e a Perplexity surge em 24 menções. Anthropic e Perplexity nem existiam quando o processo foi aberto, já que surgiram em 2021 e 2022, respectivamente.
A OpenAI já existia há alguns anos, mas ainda estava longe do grande público. O lançamento do ChatGPT, no final de 2022, foi o que realmente impulsionou a onda da IA generativa. O chatbot foi citado 28 vezes no documento apresentado nesta terça-feira (2).
“Atualmente, dezenas de milhões de pessoas usam chatbots de IA generativa, como ChatGPT, Perplexity e Claude, para buscar informações que antes procuravam em sites de busca”, diz o texto do processo.
A decisão também menciona a xAI, de Elon Musk, além de outras empresas como DuckDuckGo (que oferece o Duck.ai), Meta e a chinesa DeepSeek, todas concorrentes nesse mercado.
“Portanto, essas medidas são tanto para estimular a concorrência entre buscadores quanto para garantir que o domínio do Google nas buscas não se repita no setor de IA generativa”, afirma o documento.
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