“Volta do Sicobe sem atualização, vai parar linhas de produção de cerveja por duas semanas”, diz Paulo Petroni, da CervBrasil
Publicado 25/05/2025 • 13:37 | Atualizado há 4 horas
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Publicado 25/05/2025 • 13:37 | Atualizado há 4 horas
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Pixabay.
A indústria cervejeira enfrentará três grandes desafios para crescer em 2025. O primeiro é a inflação. Não a da cerveja, que ficou em 5,57% no consumo fora do domicílio e 3,77% nos domicílios. Mas sim o IPCA de Alimentação & Bebidas, que ficou em 7,81% em abril (acumulado em 12 meses), muito acima do índice geral, de 5,53%.
O segundo problema são as bets, que reduzem a renda disponível da população. Se o cidadão aposta, não toma cerveja, ou toma menos.
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O terceiro fantasma é um personagem antigo que ameaça voltar: o Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe). Os dois primeiros (inflação e bets) atacam o bolso do consumidor.
O terceiro, pode travar a produção. “Não somos contra a fiscalização, mas sim contra a volta de um sistema que não é atualizado há muito tempo”, afirmou Paulo Petroni, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil). “E o ônus do custo disso não pode recair sobre o setor.”
O dilema é o seguinte. De um lado, o governo quer voltar a ter maior controle da produção da indústria. Do outro, a implementação de um sistema que já foi desativado e não é atualizado há dez anos pode fazer as linhas de produção pararem por duas semanas, segundo o presidente da CervBrasil.
“Tenho linha de produção de associado que envasa 30 embalagens por segundo”, disse. “Você já pensou cada linha que faz 30 embalagens por segundo ficar duas semanas paradas? É impensável.”
Ainda mais num cenário de margens cada vez mais apertadas. “Há um grande esforço para reduzir custos e trabalhar no mix e na precificação para não perder volume. Mas a briga por margem está bastante intensiva.”
Segundo ele, a indústria se preparou para um ano difícil e tenta se desdobrar para segurar os repasses de preços para o consumidor sem perder volume. “A disponibilidade de renda de consumo está corroída pela alta dos preços e pelas apostas”, afirmou Petroni.
AGÊNCIA DC NEWS – O setor é contra a volta do Sicobe?
PAULO PETRONI – Não somos contra a fiscalização, de forma alguma, mas sim contra a volta de um sistema que não é atualizado há muito tempo. O que a gente questiona é a atualização desse sistema anterior, que passou aí mais de dez anos. E o ônus do custo disso não pode recair sobre o setor.
AGÊNCIA DC NEWS – O sistema, se atualizado, não pode ajudar?
PAULO PETRONI – A evasão, a falsificação, o não pagamento dos impostos prejudica muito o crescimento saudável do setor. A gente está alinhado com a Receita Federal nisso. Em dez anos, as linhas de produção do setor de bebidas frias evoluíram barbaramente. Tenho linha de produção de associado que envasa 30 embalagens por segundo. Um negócio impressionante.
A Receita Federal, digitalmente, tem plena condição de aferir isso e identificar algum desvio, colocar o time em campo para fazer a fiscalização. Precisa atualizar esses mais de dez anos [em que o sistema não foi utilizado] de tecnologia.
AGÊNCIA DC NEWS – Se fosse instalado o sistema antigo hoje, qual seria o impacto?
PAULO PETRONI – Seria necessário parar as linhas pelo menos duas semanas, abrir e reinstalar um equipamento que não existe. É impensável.
AGÊNCIA DC NEWS – E qual tem sido o diálogo com a Receita Federal sobre o tema?
PAULO PETRONI – Nossa intenção é que seja desenvolvido um sistema atualizado para fazer esse controle, considerando o controle físico e os controles digitais que o Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) propiciou ao longo desses últimos dez anos.
AGÊNCIA DC NEWS – A Receita tem esse entendimento também?
PAULO PETRONI – Meu entendimento é que ela tem essa mesma visão.
AGÊNCIA DC NEWS – O Sicobe traria custos adicionais às cervejeiras. Isso pode levar a aumento de preços?
PAULO PETRONI – É uma pressão na competitividade. Como as empresas vão reagir, depende da estratégia de cada uma. Mas, com certeza, fica mais difícil segurar o repasse. Quanto maior a empresa, mais ela se beneficia de escala. Os pequenos são mais impactados. Têm menos margem de manobra para tudo.
AGÊNCIA DC NEWS – Estamos com inflação crescente, especialmente nos alimentos. Isso está atrapalhando as vendas de cerveja?
PAULO PETRONI – Temos que abordar em dois aspectos. Primeiro, a tremenda pressão de custos. Os insumos da cerveja são fortemente impactados por essas questões. Por outro lado, o poder de compra do consumidor, por uma série de razões — inclusive pela inflação de alimentos — está se desgastando. Está sobrando pouco dinheiro para consumir. É muito difícil para o setor cervejeiro trabalhar com aumentos de preço que acompanhem a pressão dos custos.
AGÊNCIA DC NEWS – Hoje a inflação da cerveja está acompanhando os custos?
PAULO PETRONI – Até o mês passado, a inflação da cerveja, tanto no domicílio quanto na alimentação fora de casa, estava muito próxima do índice geral do IPCA e bem abaixo da inflação de alimentos. Apesar da pressão de custeio, sendo muita coisa dolarizada, se você repassa isso para o preço, perde mercado, perde volume. Então, todas as cervejarias estão fazendo um trabalho muito forte e muito fino de precificação para não perder volume.
AGÊNCIA DC NEWS – Então as margens estão ficando apertadas?
PAULO PETRONI – As margens estão apertadas. Tem um esforço grande para reduzir custos e trabalhar no mix e na precificação para não perder volume. Mas a briga por margem está bastante intensiva.
AGÊNCIA DC NEWS – Melhorar a eficiência industrial ajuda nisso?
PAULO PETRONI – Sim. Por isso, a gente não pode nem pensar em ficar duas semanas parados.
AGÊNCIA DC NEWS – O Brasil ficou em último lugar (18º) no ranking de competitividade industrial da CNI. A indústria da cerveja também sofre com isso?
PAULO PETRONI – Você tem dois mundos. Do nosso volume de produção, 95% está na mão de três grandes empresas, isso em um volume total superior a 15,5 bilhões de litros anuais. Essas empresas têm por volta de 50 parques industriais. Esse retrato está no top 1 de competitividade global da indústria de cerveja. Se descola da realidade macro da indústria brasileira. Temos plantas aqui que são benchmarks mundiais em todos os aspectos. É uma indústria que está no quadrante mágico da competitividade da indústria brasileira.
AGÊNCIA DC NEWS – E as pequenas? Conseguem competir?
PAULO PETRONI – Elas precisam de volume para ter escala. Com volumes muito pequenos, desde a compra até a distribuição, os custos ficam muito pesados. Tem também a questão tributária muito complexa. E vamos levar perto de dez anos para fazer a transição para o novo modelo tributário. Isso afeta muito.
AGÊNCIA DC NEWS – Você comentou no ano passado que as apostas (bets) poderiam se concretizar como um problema para o setor. Isso aconteceu?
PAULO PETRONI – Se concretizou naquela linha de que a disponibilidade de renda de consumo é corroída pelas apostas. E isso diminui o poder de compra do consumidor. A regulamentação ainda não mostrou os efeitos. Continuamos sentindo um vazamento de poder de compra e consumo.
AGÊNCIA DC NEWS – Há oportunidades internacionais para o setor, diante da instabilidade geopolítica atual?
PAULO PETRONI – Oportunidade sempre há. Mas, olhando o macro, nossa exportação é muito pequena, não é foco das empresas. Muitas têm instalações nos próprios países. Não vejo como prioridade aproveitar a guerra de tarifas. Em outros setores, como o agrícola, sim. Mas precisamos ter calma e esperar estabilizar um pouco o cenário. Está tudo muito incerto e volátil.
AGÊNCIA DC NEWS – Qual a perspectiva da indústria cervejeira para 2025?
PAULO PETRONI – Vai ser um ano difícil. Estamos acompanhando passo a passo a disponibilidade de renda para consumo. Isso é o que define se o ano vai ser bom ou ruim — temperatura e renda. O primeiro trimestre foi até acima das expectativas. Ficamos no zero a zero nos volumes. Vamos acompanhar para tentar manter o excelente ano de 2024. Mas a probabilidade de crescimento é menor do que a de manter o volume de 2024, que foi recorde, com cerca de 15,5 bilhões de litros. Haverá espaço para crescimento se o poder de compra se expandir.
AGÊNCIA DC NEWS – A Reforma Tributária vai afetar esse cenário?
PAULO PETRONI – Sim. Ainda há pontos a discutir em 2025. A partir de 2026, começa a implementação. Vai exigir uma completa revisão do modelo de distribuição. Teremos que rever a localização das fábricas, centros de distribuição e revendas.
AGÊNCIA DC NEWS – Do jeito que está o texto da reforma, falta algo para o setor?
PAULO PETRONI– Ainda falta a definição das alíquotas do imposto seletivo. Isso ainda será definido neste ano.
AGÊNCIA DC NEWS – E qual a expectativa de vocês?
PAULO PETRONI– Que se mantenha o IPI hoje [de 3,9%]. Nosso pleito seria um imposto seletivo zero, mas, como ele vai substituir o IPI, queremos que haja paridade para não ter um aumento brutal da carga tributária.
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