O Irã hasteou, neste sexta-feira (13), a simbólica bandeira vermelha sobre a Mesquita Jamkaran, na cidade sagrada de Qom, em resposta aos ataques israelenses que deixaram dezenas de mortos – incluindo comandantes militares, cientistas e civis. Na tradição xiita, a bandeira é frequentemente associada a um chamado à justiça diante de sangue derramado injustamente.
No entanto, para o professor José Antônio Lima, doutor em Relações Internacionais pela USP e editor da newsletter Tarkiz sobre a política do Oriente Médio, a interpretação de que o símbolo representa exclusivamente um clamor por vingança deve ser vista com cautela.
Segundo Antônio Lima, a bandeira vermelha já foi hasteada em outros momentos da história recente iraniana, como em 2020, após o assassinato do general Qassem Soleimani pelos Estados Unidos. Naquele período, lembra o professor, houve forte repercussão nas redes sociais com afirmações de que seria a “primeira vez na história” que a bandeira da vingança havia sido erguida, o que não era verdade.
“A bandeira é comumente hasteada no mês de Muharram, o primeiro do calendário islâmico, que neste ano deve começar no próximo dia 27 de junho (mas pode mudar, porque é lunar)”, explica. O professor recorda que o estandarte também esteve presente em ruas de várias cidades iranianas durante as homenagens a Soleimani, reforçando seu caráter simbólico mais amplo.
De acordo com o especialista, a bandeira menciona os chamados “vingadores de Hussein”, uma referência a Hussein, neto do profeta Muhammad (Maomé), cujo assassinato, em 680, na batalha de Karbala — hoje uma cidade no Iraque — marcou a cisão histórica entre sunitas e xiitas.
“A bandeira serve para relembrar esse episódio, que é determinante na teologia xiita, mas que não necessariamente precisa representar vingança. Mais que tudo, esse episódio é, para os xiitas, a representação máxima de uma injustiça atroz”, destaca.
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Protestos e promessas de retaliação
Apesar das nuances religiosas e culturais, o gesto foi interpretado como um sinal de retaliação iminente. Centenas de manifestantes se reuniram nas imediações da mesquita, a cerca de 140 km ao sul de Teerã, entoando slogans contra Israel e exigindo uma resposta militar imediata.
Em pronunciamento transmitido pela televisão estatal, o líder supremo do Irã, aiatolá Sayyed Ali Khamenei, prometeu punição severa. “O regime sionista, ao amanhecer de hoje, revelou mais uma vez sua natureza criminosa ao atacar centros residenciais em nosso país. Com esse crime, Israel selou seu destino amargo e doloroso, que certamente virá”, afirmou.
O porta-voz das Forças Armadas iranianas, general de brigada Abolfazl Shekarchi, também condenou os ataques e alertou que Israel “pagará um preço alto” pelas ações.
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