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Papa Francisco, o primeiro em muitos aspectos

Publicado 21/04/2025 • 08:30 | Atualizado há 3 horas

Giovanni Porfírio, do Times Brasil, com agências

O maior líder da Igreja Católica, o papa Francisco, faleceu nesta segunda-feira (21), aos 88 anos, segundo informou o Vaticano, às 7h35 na hora local.

Ele, que também era Bispo de Roma, deixou um legado de diálogo, paz e igualdade, exaltado por muitos. Jorge Mario Bergoglio foi um jesuíta argentino que se tornou o primeiro pontífice católico romano das Américas e o primeiro do Hemisfério Sul. Mas tomou a iniciativa em muitos outros campos.

Pioneiro

Logo após o anúncio da morte, o Vatican News, sala de imprensa da Santa Sé, enviou um comunicado sobre o espírito pioneiro do Papa.


“Papa Francisco foi o primeiro em muitas coisas. primeiro Papa Jesuíta, primeiro Papa originário da América Latina, primeiro a escolher o nome Francisco sem um numeral, primeiro a ser eleito com seu antecessor ainda vivo, primeiro a residir fora do Palácio Apostólico, primeiro a visitar terras nunca antes tocadas por um pontífice, do Iraque à Córsica, primeiro a assinar uma declaração de fraternidade com uma das autoridades islâmicas mais importantes.

Também foi o primeiro Papa a se equipar com um conselho de cardeais para governar a igreja, a atribuir funções de responsabilidade a mulheres e leigos na cúria a lançar um sínodo que envolvia diretamente o povo de Deus; a abolir o segredo pontifício para casos de abuso sexual e a remover a pena de morte do catecismo. Primeiro também a liderar a Igreja enquanto no mundo não há a guerra, mas muitas guerras, pequenas e grandes, travadas em pedaços nos diferentes continentes, ‘uma guerra que é sempre uma derrota’, como repetiu nos mais de 300 apelos, mesmo quando sua voz falhava e que ocuparam todos os últimos pronunciamentos públicos desde o início da violência na Ucrânia e no Oriente Médio.

Mas Francisco, nascido Jorge Mário Bergoglio, provavelmente não gostaria que o conceito de primeiro fosse associado ao seu pontificado, projetado nesses 12 anos, não para atingir metas ou conquistar primados, mas para iniciar processos. Processos de andamento processos concluídos ou distantes processos que provavelmente são irreversíveis até mesmo para quem o suceder no trono de Pedro. Ações que geram novos dinamismos na sociedade e na igreja, como está escrito na road map do Pontificado, Evangelium Gaudium, sempre no horizonte do encontro, da troca, da corrigialidade”.

Saúde debilitada

Francisco, que teve que retirar um dos pulmões ainda quando morava na Argentina, chegou ao hospital sem muito fôlego devido à dificuldade respiratória ligada a um excesso de muco, e um tratamento “caseiro” para bronquite não havia dado os resultados esperados.

Em sua juventude, Francisco foi submetido a uma ablação parcial de um pulmão. Desde 2022, ele se deslocava ou de cadeira de rodas ou com uma bengala –raramente foi visto de pé.

Nos últimos anos, ele enfrentou vários problemas de saúde, incluindo dores no joelho e no quadril, uma inflamação do cólon e dificuldades respiratórias.

Em junho de 2023, Jorge Mario Bergoglio foi hospitalizado por 10 dias no hospital Gemelli e passou por uma operação de hérnia abdominal, que exigiu anestesia geral.

Em dezembro do mesmo ano, também devido a uma bronquite, o pontífice desistiu de participar na COP28 de Dubai, a grande reunião de cúpula anual do clima, organizada pelas Nações Unidas.

No final de março de 2024, o jesuíta argentino, eleito papa em 2013, cancelou na última hora sua participação na Via-Crúcis do Coliseu de Roma. Poucos dias depois, no entanto, conseguiu celebrar a missa da Páscoa.

Também prosseguiu com as viagens, como em setembro, quando fez o deslocamento mais longo de seu pontificado, uma jornada de 12 dias que o levou a Papua-Nova Guiné, Timor Leste, Indonésia e Singapura.

Seus problemas de saúde periodicamente geram especulações sobre o seu futuro, em especial considerando que seu antecessor, Bento XVI, renunciou em 2013 devido a problemas de saúde.

Quem foi Papa Francisco?

Nascido na capital argentina em 17 de dezembro de 1936, Francisco era filho de imigrantes italianos: o seu pai, Mário, trabalhava como contabilista; e a sua mãe, Regina Sivori, trabalhava em casa.

Técnico em química

Diplomou-se como técnico químico, e depois escolheu o caminho do sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto. Em 1958, entrou no noviciado da Companhia de Jesus. Ele completou os estudos humanísticos no Chile e voltou para a Argentina em 1963. Bergoglio obteve a licenciatura em filosofia no colégio de São José em San Miguel.

Professor de literatura e psicologia

De 1964 a 1965, foi professor de literatura e psicologia no colégio da Imaculada de Santa Fé e em 1966. Ele ensinou estas mesmas disciplinas no colégio do Salvador, em Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou teologia, licenciando-se também no colégio de São José.

Em 1969, foi ordenado sacerdote pelo arcebispo D. Ramón José Castellano. De 1970 a 1971, deu continuidade à sua preparação em Alcalá de Henares, na Espanha, e em 1973, emitiu a profissão perpétua nos jesuítas.

Regressou à Argentina, onde foi mestre de noviços na Villa Barilari em San Miguel, professor na faculdade de teologia, consultor da província da Companhia de Jesus e também reitor do colégio.

Em 1973, foi eleito provincial dos jesuítas da Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos. Depois, retomou o trabalho no campo universitário e, de 1980 a 1986, foi novamente reitor do colégio de São José, e inclusive pároco em San Miguel.

Também em 1986, partiu para a Alemanha, onde concluiu a tese de doutorado. Em seguida, os superiores enviaram-no para o colégio do Salvador em Buenos Aires e, sucessivamente, para a igreja da companhia, na cidade de Córdoba, onde foi diretor espiritual e confessor.

Bispo

Em 1992, João Paulo II nomeou Francisco a bispo titular de Auca e auxiliar de Buenos Aires. Em 1997, foi promovido arcebispo coadjutor da capital argentina. Em 2001, João Paulo II criou-o cardeal, atribuindo-lhe o título de São Roberto Bellarmino. Convidou os fiéis a não virem a Roma para festejar a púrpura, mas a destinar aos pobres o dinheiro da viagem.

Grão-chanceler da Universidade católica argentina, é autor dos livros Meditaciones para religiosos (1982), Reflexiones sobre la vida apostólica (1986) e Reflexiones de esperanza (1992).

Papa

Francisco se tornou o 266º pontífice em 2013 e adotou o nome de papa Francisco. Ele foi o primeiro jesuíta a ocupar o cargo mais importante da Igreja Católica e também a primeira pessoa não europeia em mais de mil anos.

Aborto, gays, abusos: veja polêmicas de Francisco

Desde a sua nomeação, Francisco se envolveu em questões polêmicas, como aborto, homossexuais, abuso de menores pelo clero, sendo transgressor das tradições da Igreja Católica em algumas delas.

Em julho de 2013, três meses depois de se tornar papa, Francisco disse frase que se tornou uma das mais famosas. Em referência ao suposto “lobby gay” – quando foram divulgadas algumas informações à imprensa italiana de que a Santa Sé supostamente continha uma rede de clérigos homossexuais – o pontífice disse:

“Quando conheço um gay, tenho que distinguir entre ser gay e fazer parte de um lobby. Se eles aceitam o Senhor e têm boa vontade, quem sou eu para julgá-los? Eles não devem ser marginalizados. A tendência [para a homossexualidade] não é o problema… eles são nossos irmãos”. Nesse sentido, ele insistiu que o problema são os “lobbies que agem contra os interesses da Igreja”, disse ele a repórteres na época.

Três anos depois, em junho de 2016, o Papa Francisco voltou a se referir à questão dos homossexuais, dizendo que é a Igreja Católica que deve se desculpar a essas pessoas.

Também naquele ano, com a disseminação e a gravidade do vírus zika no início de 2016, Francisco sugeriu que as mulheres pudessem usar métodos anticoncepcionais para evitar a gravidez, o que ajudaria a prevenir o vírus.

Ele chegou a argumentar que evitar a gravidez era “um mal menor” e que “conflita com o quinto e o sexto mandamentos”. Ele voltou a insistir que, no outro extremo, “o aborto não é o menor dos males. É crime… É eliminar um para salvar outro. É o que a máfia faz”.

No ano seguinte, em fevereiro de 2017, Francisco fez uma declaração sobre os maus cristãos, dizendo que se uma pessoa que se diz cristã explora outras pessoas ou leva uma vida dupla, que é melhor não se identificar como crente.

“Tantos católicos são assim. E escandalizam”, disse. “Quantas vezes ouvimos, todos nós, no bairro e em outros lugares, ‘mas, para ser católico assim, é melhor ser ateu’. Esse é o escândalo, te destrói isso te derruba. E isso acontece todos os dias.”

Também em 2017, Francisco falou sobre o abuso sexual por parte do clero, afirmando que abusar de crianças é “uma doença “. Ele acrescentou que a Igreja Católica deve fazer mais esforços na seleção dos candidatos que aspiram ao sacerdócio.

No ano seguinte, no Chile, Francisco voltou a se referir à questão do abuso de menores por parte de representantes da igreja, e disse sentir “dor e vergonha” pelo mal que lhes foi feito.

Biografia de Francisco

Após seis anos de produção, a autobiografia do Papa Francisco, intitulada Hope: The Autobiography (Esperança: A Autobiografia), chegou às livrarias em janeiro. O livro, publicado em 18 idiomas, traz um relato pessoal do pontífice sobre sua infância em Buenos Aires, suas convicções religiosas e políticas, além de episódios marcantes de sua trajetória.

Com 320 páginas, a obra estava inicialmente planejada para ser publicada postumamente, mas o Papa decidiu antecipar o lançamento para coincidir com o Jubileu de 2025, um ano sagrado para a Igreja Católica.

A autobiografia resgata memórias da juventude de Jorge Mario Bergoglio, em um bairro de migrantes na capital argentina. O Papa narra como sua origem como filho de imigrantes italianos influenciou sua defesa dos refugiados e deslocados pelo mundo.

Outro episódio marcante descrito na obra é o impacto dos relatos de seu avô sobre a Primeira Guerra Mundial. “Qualquer um que faz guerra é mau. Deus é paz”, escreve Francisco, destacando sua rejeição aos conflitos armados. Ele também menciona a influência de um pesquisador biomédico que o ajudou a desenvolver seu pensamento crítico sobre política.

Além das reflexões, o livro traz curiosidades sobre sua juventude. Como professor de escrita criativa, Francisco foi apelidado pelos alunos de “Carucha”. O Papa também relembra um encontro com o escritor Jorge Luis Borges, a quem ajudou a se barbear. Segundo Francisco, Borges, embora agnóstico, rezava o Pai-Nosso todas as noites por promessa à mãe.

Apesar de trazer relatos íntimos sobre sua juventude, o livro não aprofunda detalhes de seu tempo no Vaticano. O biógrafo Austen Ivereigh, que colaborou em outras publicações do Papa, afirmou que esperava mais informações sobre sua atuação como líder da Igreja.

Francisco menciona brevemente os desafios da reforma da Cúria Romana, mas sem entrar em detalhes sobre as resistências enfrentadas. O jornalista Gian Maria Vian, ex-editor do L’Osservatore Romano, afirmou que a obra traz um olhar pessoal e até romantizado sobre o Papa.

Entre os trechos mais surpreendentes do livro, Francisco menciona duas supostas tentativas de assassinato durante sua visita ao Iraque em 2021. O relato foi publicado como prévia na revista America em dezembro, mas gerou controvérsia. O ex-governador de Nínive negou que tais atentados tenham ocorrido.

A autobiografia reforça a estratégia do Papa de utilizar publicações como forma de evangelização. Nos últimos anos, ele lançou outros livros, como Let Us Dream, escrito durante a pandemia, e Life, publicado em 2024.

O jogo bonito: a paixão pelo futebol

Seu antecessor amava Mozart, mas a paixão do Papa Francisco era o futebol, para ele “o jogo mais bonito” e também um meio de educar e promover a paz.

De seus compatriotas argentinos Lionel Messi e o falecido Diego Maradona a Zlatan Ibrahimovic e Gianluigi Buffon, Francisco recebeu as maiores estrelas do futebol no Vaticano, assinando dezenas de camisetas e bolas de todo o mundo.

Ele frequentemente contava sobre quando jogava na infância nas ruas de Buenos Aires, usando uma bola feita de trapos.

Embora admitisse que “não estava entre os melhores” e que “tinha dois pés esquerdos”, ele frequentemente jogava como goleiro, o que, segundo ele, era uma boa forma de aprender a responder aos “perigos que poderiam vir de qualquer lugar”.

Seu amor pelo futebol era inseparável de sua lealdade ao clube San Lorenzo, de Buenos Aires, onde ele ia assistir aos jogos com seu pai e irmãos.

“Era um futebol romântico”, ele recordou.

Ele manteve sua associação mesmo após se tornar papa — e causou um pequeno alvoroço quando recebeu um cartão de sócio dos rivais Boca Juniors como parte de uma parceria educacional do Vaticano.

Francisco se mantinha atualizado com o progresso do clube graças a um dos Guardas Suíços do Vaticano, que deixava resultados e tabelas de classificação em sua mesa.

O que acontece agora?

Com o falecimento de Francisco, o Vaticano declara agora a chamada “Sé Vacante”, período em que não há um líder oficial da igreja católica. No momento de intervalo entre a morte ou renúncia de um papa e a eleição de seu sucessor, o atual Cardeal Camerlengo – Kevin Farrell – fica responsável por administrar a instituição.

Durante esse momento, a Cúria Romana – conjunto de órgãos que governa a Igreja – tem suas atividades reduzidas, funcionando apenas para o necessário.

Um novo papa é escolhido por meio de um conclave, reunião secreta do Colégio dos Cardeais no Vaticano, na qual apenas cardeais com menos de 80 anos podem votar. O grupo se reúne na Capela Sistina para decidir quem será o novo líder da Igreja.

Para ser eleito, um candidato precisa receber pelo menos dois terços dos votos. Se ninguém atingir essa marca, o processo segue até que haja um consenso.

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