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Direto de Nova York Norberto Zaiet

Trump faz bem em chacoalhar o ‘Bureau of Labor Statistics’

Publicado 07/08/2025 • 13:55 | Atualizado há 9 horas

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Norberto Zaiet

Norberto Zaiet é economista formado pela Universidade de São Paulo com MBA pela Columbia Business School. Foi Head para Mercados Emergentes do banco alemão WestLB AG e CEO do Banco Pine. Hoje é sócio-fundador e CEO da Picea Value Investors, family office sediado em Nova York.

EVAN VUCCI/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fala com repórteres antes de embarcar no Marine One, no gramado sul da Casa Branca, em Washington, a caminho de Haia, na Holanda, onde será realizada a cúpula de dois dias da Otan, nesta terça- feira, 24 de junho de 2025. Trump voltou a desferir ataques contra o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, e a defender o corte das taxas de juros, na madrugada desta terça-feira, 24.

Desde que entrei para o mercado financeiro, no início dos anos 1990, sempre me assombraram o nível de detalhe e a quantidade de informações e estatísticas disponíveis sobre a economia americana. Naquela época, os economistas dos bancos no Brasil competiam para ter o melhor modelo de inflação, o dado mais importante da nossa economia, considerando os níveis extraordinários a que havíamos chegado. Enquanto isso, nos EUA, todo e qualquer tema econômico era discutido e alimentado por estatísticas confiáveis e divulgadas periodicamente, informações que sempre mexiam com o mercado.

De uns tempos para cá parece ter havido uma inversão. Hoje, no Brasil, há dados disponíveis sobre uma miríade de aspectos da economia e, pelo menos até agora, eles parecem apresentar alto grau de confiabilidade. Cada banco (assim como as gestoras, algo que nos anos 1990 era raro) ainda possui sua própria metodologia para modelar a inflação, mas a base de todos é a do Banco Central.

Os dados de emprego têm abrangência nacional e, apesar do número de empregados formais em relação à população economicamente ativa ter caído nos últimos anos, são bastante confiáveis. Não se pode mais dizer o mesmo, no entanto, sobre os EUA.

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Uma das estatísticas mais importantes para indicar a temperatura da economia americana é o relatório de emprego divulgado na primeira sexta-feira de cada mês. Ele serve de base para uma série de decisões, e, juntamente com os números da inflação, fornecem os dados para o Federal Reserve acompanhar a evolução do seu duplo mandato constitucional: empregabilidade máxima com estabilidade de preços, o “dual mandate”.

O trabalho do FED não é simples. Quanto maior for o nível de emprego, maiores são o consumo e a demanda, o que pode acelerar a inflação. Se ela permanecer acima da meta, corrói o poder do salário e faz a economia desandar. Os brasileiros, aliás, conhecem bem esse cenário. Se os dados de inflação não forem confiáveis, as decisões tomadas inevitavelmente estarão erradas. E decisões erradas, numa economia central como a americana, prejudicam muita gente.

A estatística de NFP, ou “non-farm payrolls”, que serve de termômetro para o mercado de emprego americano, não é uma pesquisa completa. O número é estimado, alimentado por meio de uma amostra supostamente representativa do país como um todo. Essa metodologia, em si, não é um problema. O abacaxi está no fato de que, desde a pandemia, esse número tem sido vítima de revisões frequentes nos meses subsequentes pelo BLS, o Bureau of Labor Statistics, órgão responsável pelas estatísticas ligadas ao mercado de trabalho. Isso acontece porque o escritório recebe informações complementares mais próximas da realidade, refazendo então os cálculos para apresentá-los de forma definitiva à sociedade.

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De fato, depois da Covid, a média de revisões saiu de aproximadamente 30 mil empregos mensais para mais de 50 mil. No dado mais recente, divulgado na semana passada, a mudança em relação ao mês anterior foi de assustadores 130 mil empregos: os 147 mil publicados foram revisados para parcos 14 mil. Imagine o que pode acontecer, então, com os 73 mil empregos divulgados para o mês de julho, quando forem revisados em setembro. Negativo? Bastante possível. De posse da informação real, a decisão do FED pela manutenção dos juros na semana passada poderia ter sido diferente.

Em qualquer empresa privada, o responsável por uma revisão tão extraordinária, vindo já de uma sequência de revisões bastante altas, não teria sobrevivido a um dia a mais no cargo. Foi o que aconteceu com a chefe do BLS, Erika McEntarfer.

Não, certamente os números não foram fabricados politicamente, como acusou Donald Trump. Eles são, somente, fruto de um processo que não funciona mais desde 2020 e que deveria ter sido revisado há bastante tempo. Espera-se que o novo chefe do BLS seja um profissional capacitado a fazê-lo.

O número de vagas criadas não é o único número calculado pelo BLS que preocupa o mercado. O mesmo acontece com o CPI (Consumer Price Index, Índice de Preços ao Consumidor), que, atualmente, possui mais de 35% dos seus inputs estimados, em vez de realmente comprovados. Informações sobre aluguéis e seguros de saúde são, na sua grande maioria, modelados, mas seriam muito mais adequados se fossem extraídos da realidade, considerando que estão disponíveis para serem coletados.

Donald Trump agiu como sempre: de maneira agressiva e procurando obter ganho político. Mas não há nada de novo nessa postura. Quem ainda não se acostumou a isso, é melhor se conformar. A forma pode ser motivo de crítica, mas é indiscutível constatar que essa chacoalhada no BLS era necessária.

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