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Venda de minas de níquel a empresa chinesa pode entrar no pacote de investigação de Trump contra o Brasil

Publicado 26/08/2025 • 12:25 | Atualizado há 5 horas

Allan Ravagnani

KEY POINTS

  • Anglo American vende negócio de níquel no Brasil por US$ 500 milhões à MMG, ligada à China Minmetals.
  • EUA veem risco de concentração global: Brasil e Indonésia concentram quase metade das reservas conhecidas de níquel.
  • Especialistas alertam que o metal é vital para aço inoxidável, baterias de veículos elétricos e projetos de energia limpa.

Os Estados Unidos entraram em alerta com a possibilidade de a China assumir uma parte relevante das reservas de níquel do Brasil. O aviso foi dado pela entidade representativa do setor siderúrgico dos EUA ao governo Trump, após a mineradora Anglo American negociar suas minas de níquel no Brasil com a MMG, controlada pela estatal chinesa Minmetals.

Em carta enviada no dia 18 de agosto ao Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), no âmbito de um pedido de investigação da Seção 301, o Instituto Americano do Ferro e Aço (AISI) afirmou que o negócio pode reforçar o controle chinês sobre um insumo considerado estratégico para a indústria global.

O AISI afirmou ainda que, se concluída a venda, a China terá influência direta sobre cerca de 40 mil toneladas de níquel produzidas no Brasil, além de consolidar sua posição já dominante na Indonésia, maior produtor do metal do mundo. Para os produtores de aço inoxidável dos EUA, seria mais um passo de Pequim para centralizar a oferta de minerais críticos e ampliar as vulnerabilidades americanas na cadeia de suprimento.

O níquel é um dos principais elementos para a produção de aço inoxidável, sendo a siderurgia a responsável por 65% da demanda mundial do metal. Brasil, Indonésia e Austrália concentram as maiores reservas conhecidas. Somados, Brasil e Indonésia detêm quase metade dos recursos globais — cenário que, na avaliação americana, torna urgente o debate sobre o futuro dos ativos brasileiros.

Para o professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG) e especialista do CEBRI, Ronaldo Carmona, a disputa precisa ser entendida em um contexto maior: “Os minerais críticos já não são definidos apenas pelas forças de mercado. Eles são centrais para a transição energética e para a nova economia global. Há uma corrida das grandes potências pelo domínio dessas cadeias de suprimento, e o Brasil, com a terceira maior reserva de níquel, está no meio desse tabuleiro”.

Carmona observa que a Indonésia, maior produtora mundial, restringiu exportações de níquel e vinculou a exploração a investimentos locais em industrialização. “Esse é o caminho que o Brasil também precisa considerar, em vez de se limitar a exportar commodities brutas. É um recurso estratégico que pode ser usado para atrair cadeias produtivas e gerar valor agregado”, diz. Para ele, o país ainda mantém uma postura tímida diante de uma tendência global: transformar minerais estratégicos em alavancas de soberania e de industrialização.

O administrador Marcello Marin, mestre em Governança Corporativa, avalia que o movimento acendeu um sinal de alerta em Washington. Segundo ele, a carta do AISI reforça a percepção de que a China amplia seu poder sobre cadeias globais de minerais estratégicos. “O níquel é um caso emblemático: além de ser essencial para o aço, é insumo-chave para baterias de veículos elétricos. O risco para os americanos é que, mesmo sem um monopólio formal, Pequim consiga exercer um controle velado, ditando preços, restringindo acesso e usando o fornecimento como instrumento político e econômico”, afirmou.

Na mesma linha, a CFO da SAS Brasil, Adriana Melo, lembrou que a disputa pelo níquel vai além da indústria do aço. “Brasil e Indonésia concentram quase metade das reservas do mundo. Esse metal está no centro da transição energética. Sem níquel não há veículos elétricos de longa autonomia, sistemas de armazenamento para energia renovável ou hidrogênio verde”, diz.

Para ela, a venda evidencia a corrida tecnológica entre China e Estados Unidos, mas também expõe a ausência de protagonismo brasileiro. “O país segue exportando commodities sem agregar valor, desperdiçando a chance de transformar suas reservas em liderança industrial”, conclui.

Negócio

Em fevereiro deste ano, a Anglo American anunciou a venda de todo o seu negócio de níquel no Brasil para a MMG por US$ 500 milhões, envolvendo duas operações de ferroníquel em Goiás (Barro Alto e Codemin, em Niquelândia), além de dois projetos de expansão: Jacaré, no Pará, e Morro Sem Boné, no Mato Grosso.

O acordo prevê pagamento inicial de US$ 350 milhões, seguido de parcelas condicionadas ao preço de venda do níquel e ao desenvolvimento futuro dos projetos minerais. As minas brasileiras produziram 39,4 mil toneladas do metal em 2024 e estão entre os ativos mais relevantes da companhia. A unidade de Barro Alto, por exemplo, é a única mina de níquel no mundo certificada pelo padrão internacional IRMA 75 de mineração responsável.

A Anglo American justificou a venda como parte de sua estratégia global de simplificação do portfólio, que passará a priorizar cobre, minério de ferro premium e fertilizantes agrícolas. Já a MMG destacou que a compra amplia sua presença na América Latina, fortalece sua diversificação em metais e mantém o compromisso com padrões de sustentabilidade.

A conclusão da transação está prevista para o terceiro trimestre de 2025, sujeita à aprovação regulatória.

Em linha ao movimento de reestruturação do seu portfólio, a Anglo American anuncia acordo para venda do negócio de níquel.
Em linha ao movimento de reestruturação do seu portfólio, a Anglo American anuncia acordo para venda do negócio de níquel.
Divulgação Anglo American.

Reestruturação

A Anglo American anunciou, em maio deste ano, uma reestruturação de seu portfólio, um dia após recusar uma segunda proposta de aquisição pela BHP Billiton, maior mineradora do mundo, no valor de US$ 43 bilhões, superando os US$ 39 bilhões oferecidos em abril e também rejeitados.

O plano anunciado previa a alienação dos ativos de níquel, além do desmembramento da Anglo American Platinum, subsidiária de platina, a venda da De Beers, unidade de diamantes, e da alienação dos ativos de carvão metalúrgico.

Segundo o CEO Duncan Wanblad, o objetivo é simplificar a estrutura e tornar a mineradora mais enxuta e voltada para setores de maior demanda futura, especialmente aqueles ligados à transição energética. A estimativa é de uma redução de custos da ordem de US$ 1,7 bilhão, com ganhos de eficiência operacional e maior previsibilidade no desempenho.

O que é a investigação 301?

Em 15 de julho, o USTR abriu uma investigação contra o Brasil com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974. O objetivo seria avaliar se atos, políticas e práticas do governo brasileiro em áreas como comércio digital, serviços de pagamento eletrônico, tarifas preferenciais, combate à corrupção, propriedade intelectual, acesso ao mercado de etanol e desmatamento ilegal são considerados nocivos e impõem restrições ao comércio com os EUA.

Segundo o embaixador Greer, a decisão segue orientação do presidente Trump. Ele afirmou que empresas de tecnologia e outros setores dos EUA enfrentam barreiras tarifárias e não tarifárias que limitam o acesso ao mercado brasileiro. O processo prevê consultas formais entre Washington e Brasília, além de uma audiência pública marcada para 3 de setembro de 2025.

Criada para responder a práticas comerciais desleais de governos estrangeiros, a Seção 301 permite que os Estados Unidos adotem medidas corretivas quando identificam restrições injustificadas. O USTR solicitou que interessados enviem comentários até 18 de agosto, como parte da coleta de informações que sustentará o processo, assim como fez o AISI.

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