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Imagem do Federal Reserve, o banco central dos EUA.

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Tarifas do Trump

Trump leva Estado para dentro da Intel e inaugura novo ciclo do capitalismo americano

Publicado 26/08/2025 • 21:28 | Atualizado há 5 horas

Allan Ravagnani, da Redação

KEY POINTS

  • Governo Trump compra 10% da Intel e aprofunda ciclo de intervenção direta em empresas estratégicas.
  • Analistas veem ruptura com ideário liberal e adoção de modelo nacionalista e mercantilista.
  • Credibilidade internacional dos EUA é posta em xeque diante de práticas protecionistas e intervencionistas.

Os Estados Unidos, historicamente defensores do livre mercado, inauguraram um movimento que especialistas classificam como a entrada em um novo ciclo de capitalismo de Estado. A Casa Branca se tornou acionista de 10% da Intel, em uma operação de US$ 9,9 bilhões, dividida entre recursos do CHIPS Act e do Secure Enclave. O acordo prevê ainda a possibilidade de Washington ampliar sua fatia caso a companhia perca o controle de parte da área de produção.

Para a Intel, que perdeu espaço para Nvidia e TSMC e encerrou 2024 com prejuízo de US$ 18,8 bilhões — o primeiro desde 1986 —, o aporte do governo foi uma injeção de fôlego. Para o presidente Donald Trump, foi apenas o início. Além da Intel, o fundo soberano americano, criado em fevereiro, já comprou participação em mineradoras de terras raras e abriu espaço para ampliar o alcance em outros setores estratégicos.

A novidade, porém, está no modelo: Washington virou sócio de empresas privadas sem cadeira no conselho, mas com direito a ações e influência. A estratégia, na prática, coloca o Estado dentro da arena corporativa em setores vitais para a soberania nacional.

Nacionalismo acima do mercado

Segundo a professora Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie, é uma ruptura clara com o ideário liberal. “Trump abdica do compromisso com políticas neoliberais e adota uma gestão a partir de uma ótica nacionalista. O governo passou a privilegiar os interesses de poder do Estado americano em detrimento do mercado”, avaliou.

Para ela, esse movimento não é pontual, mas uma mudança de paradigma. O risco é que os EUA deixem de ser vistos como parceiros econômicos confiáveis. Se pregam abertura, mas praticam proteção e intervenção, enviam ao mundo uma mensagem de que acordos e regras podem ser alterados a qualquer momento”.

A disputa com a China

Na visão de Jorge Ferreira dos Santos, professor de Administração e Relações Internacionais da ESPM, a decisão precisa ser contextualizada dentro da rivalidade tecnológica com a China. “O Chips Act já previa financiamento à indústria de semicondutores para fortalecer a posição americana contra a China. O que vemos agora é Trump forçando os limites dessa legislação, usando até métodos comparáveis a um hostile takeover corporativo”, explica.

Segundo ele, o governo americano ainda evita a palavra “estatização”, mas cria um precedente inédito. “O dinheiro entra, mas não a governança. Trump se comporta como empresário, força barreiras, pressiona executivos e usa a máquina do Estado como extensão de sua estratégia política e eleitoral.”

Um pragmatismo mercantilista

O economista e doutor em Relações Internacionais Igor Lucena, CEO da Amero Consulting, apontou que o movimento não se limita ao caso da Intel. “Há uma transição de um modelo liberal clássico para um governo mercantilista. O Estado não administra empresas, mas usa sua influência para defender setores estratégicos, impor tarifas e negociar em condições mais favoráveis para companhias americanas”, afirma.

Segundo Lucena, esse mesmo padrão também se manifesta na política externa. “Trump não hesita em intervir quando considera que interesses estratégicos estão em jogo. Seja pressionando países aliados com tarifas, seja ameaçando companhias estrangeiras que competem com as americanas, o governo usa a diplomacia econômica como extensão direta da sua visão mercantilista”, explica.

Lucena lembrou que essa postura se repete em outros tabuleiros. “A Guiana, hoje um dos maiores polos de petróleo do mundo, já se tornou prioridade para Washington. A Chevron continua operando na Venezuela porque o objetivo não é Maduro, mas garantir a primazia sobre os campos vizinhos à Guiana. O mesmo raciocínio vale para a mineração, tecnologia e defesa.”

Credibilidade em risco

O ponto comum entre os analistas é o impacto sobre a imagem internacional dos EUA. A adoção de políticas intervencionistas pode desgastar a credibilidade de Washington ao negociar acordos comerciais e políticos. “Se esse padrão persistir, países tenderão a diversificar parcerias e reduzir a dependência dos EUA para não ficarem vulneráveis a decisões unilaterais”, conclui Fernanda Brandão.

O que está em jogo, segundo os especialistas, não é apenas a concorrência com a China ou o futuro da Intel, mas a redefinição do equilíbrio entre Wall Street e a Casa Branca. O Tio Sam como sócio de empresas privadas inaugura um novo capítulo no capitalismo americano, com consequências globais.

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