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Autismo e trabalho: ‘Inclusão não é favor, é inteligência estratégica’

Publicado 26/09/2025 • 20:01 | Atualizado há 19 horas

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Médico pediatra Thiago Castro

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Idealizador do Congresso Espectro, médico pediatra e mestre em neurociência, Thiago Castro tem dedicado a carreira a transformar conhecimento em inclusão. Sócio da Ginástica do Cérebro e autor de livros como Simplificando o Autismo, Autismo ao Longo da Vida e Espectro Feminino, ele une a visão de pesquisador e de pai atípico. Nesta entrevista, fala sobre o abismo entre a teoria e a prática da inclusão no Brasil, as principais barreiras que ainda persistem e o papel das empresas na construção de oportunidades reais. Com dados, exemplos e emoção, Castro defende que diversidade não é apenas uma pauta social, mas também uma estratégia de inovação e competitividade.

Como você avalia o cenário atual da inclusão de pessoas com autismo no mercado de trabalho no Brasil? Há avanços significativos ou ainda estamos engatinhando?

Apesar de alguns avanços, ainda estamos engatinhando. O Brasil tem leis de inclusão e cotas, mas pouco se fala em preparo real, tanto das empresas quanto dos próprios profissionais. Existe um abismo entre o que está no papel e o que se vive na prática. Muitos autistas têm habilidades únicas, mas são frequentemente subestimados ou colocados em funções sem propósito. Não basta contratar: é preciso compreender o perfil, investir em adaptações reais e promover um ambiente de pertencimento. Na Ginástica do Cérebro, trabalhamos para desenvolver habilidades cognitivas como atenção, raciocínio lógico e memória, criando a base para que esses profissionais possam atingir seu potencial.

Quais são as principais barreiras que você observa — tanto para empresas quanto para profissionais autistas — na hora de promover a inclusão?

A maior barreira é o desconhecimento. De um lado, empresas que confundem inclusão com o simples cumprimento de cotas. De outro, profissionais que, muitas vezes, não tiveram oportunidades justas desde a infância e não conseguiram desenvolver competências sociais e profissionais. Falta mediação: um mentor pode ser decisivo nos primeiros meses para tornar o ambiente compreensível e seguro. O Congresso Espectro — que será realizado em São Paulo na próxima semana — nasceu justamente para combater o preconceito e a desinformação, reunindo especialistas de diversas áreas para oferecer conhecimento e ferramentas práticas de inclusão.

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Muito se fala sobre habilidades específicas de pessoas no espectro, como atenção a detalhes, pensamento lógico ou criatividade. Como empresas podem valorizar essas competências sem cair em estereótipos?

Essa é uma linha tênue. Valorizar é importante, mas rotular é perigoso. Cada autista é único. Costumo dizer: “Se você conheceu uma pessoa com autismo, você conheceu uma pessoa com autismo.” A generalização cria pressão e frustração. Empresas devem investir em avaliações individuais e planos de integração personalizados, para que cada profissional seja reconhecido pelo que realmente pode oferecer.

Você poderia compartilhar casos inspiradores de inclusão produtiva que têm feito diferença na vida de pessoas autistas?

Sim. Tenho acompanhado jovens diagnosticados precocemente e estimulados com terapias baseadas em evidências que hoje atuam com excelência em TI, design e atendimento ao público. Em minha empresa, apoiamos a adaptação de uma colaboradora diagnosticada com autismo. Com pequenas mudanças, como o uso de abafadores de ruído, ela conseguiu se desenvolver plenamente. Mas o caso mais especial para mim é o do meu filho Noah, que, com apoio da família, da escola e de profissionais, já dá sinais de que poderá ser incluído de forma produtiva, com autonomia e dignidade. São histórias que reforçam a missão da Ginástica do Cérebro: preparar pessoas, com ou sem autismo, para atingir seu potencial máximo.

Quais iniciativas — como treinamentos, mentorias e adaptações no ambiente de trabalho — são fundamentais para que profissionais autistas alcancem seu potencial máximo?

Destaco algumas:

  • Treinamento das equipes para quebrar preconceitos e construir empatia.
  • Mentoria individual nos primeiros meses, com acompanhamento próximo.
  • Ambientes sensorialmente adaptados, com atenção a ruído, luz e rotina.
  • Flexibilidade nas metas e rotinas, respeitando o ritmo do profissional.
  • Comunicação clara e visual, especialmente em tarefas sequenciais.

Acima de tudo, é preciso ouvir o próprio autista. Ele é a principal fonte de informação sobre o que realmente funciona.

Como convencer líderes e RHs de que investir em inclusão não é apenas cumprir cotas, mas também agregar valor e inovação às equipes?

O melhor argumento é o resultado. Pesquisas mostram que equipes diversas são mais inovadoras, eficientes e resilientes. Incluir não é favor, é inteligência estratégica. Um autista em ambiente adequado pode oferecer foco, criatividade e soluções fora da caixa. Muitas vezes, ele é o diferencial competitivo que aquela equipe precisava.

Olhando para os próximos anos, o que você considera essencial para ampliarmos oportunidades reais para pessoas com autismo no mercado de trabalho?

Precisamos romper o ciclo da exclusão. Inclusão começa na infância, mas se concretiza na vida adulta. Hoje, mais de dois milhões de brasileiros autistas seguem invisíveis no mercado de trabalho, embora tenham talentos extraordinários. Inclusão é reconhecer valor, construir pertencimento e oferecer propósito. Como pai, sei que o impossível só existe até alguém ir lá e fazer. Os três pilares fundamentais são: diagnóstico precoce e estímulo desde a infância; educação inclusiva de verdade, com apoio especializado; e empresas preparadas para receber e desenvolver talentos diversos. Conhecimento de verdade é aquele que transforma — e esse é o caminho que precisamos seguir.

Alexandre Hercules é editor-chefe da Brazil Health

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