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A IA só gera valor quando vira estratégia — e quando a liderança entende o humano por trás do algoritmo
Publicado 19/10/2025 • 08:00 | Atualizado há 5 horas
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Publicado 19/10/2025 • 08:00 | Atualizado há 5 horas
Pexels
Inteligência Artificial
As grandes consultorias têm razão ao dizer que o problema da IA não é técnico. Mas erram ao tratar o tema apenas como gestão. O desafio real é criar um ambiente emocional, simbólico e cultural — e uma estratégia de negócio — que permita à inteligência humana e artificial coexistirem e impulsionar a competitividade.
Segundo a Boston Consulting Group, apenas 5% das empresas no mundo — as chamadas future-built — estão realmente capturando valor da IA. As demais 95% permanecem presas em uma lógica de pilotos dispersos e iniciativas que morrem antes de amadurecer.
A Harvard Business Review chama isso de “armadilha da experimentação”: quando se confunde entusiasmo tecnológico com transformação organizacional. A Gartner, por sua vez, mostra que 66% dos CEOs acreditam que suas empresas não estão prontas para IA. E em meio a bilhões de dólares investidos, o retorno é quase nulo.
Esses estudos são valiosos e necessários. Mas ainda permanecem presos a uma leitura técnica e comportamental da liderança. O que eles não capturam — e o que proponho explorar — é a dimensão simbólica, emocional e inconsciente que permeia toda transformação tecnológica. É nessa camada invisível que a inteligência artificial encontra seu maior obstáculo: a inteligência emocional coletiva das organizações. E é justamente nela que mora o maior potencial para transformar o tsunami da IA em vantagem competitiva real.
É hora de parar de tratar a IA como um projeto tecnológico e começar a tratá-la como o que realmente é — uma estratégia de negócio. A IA não é um departamento, um software ou uma tendência: é uma nova lógica de criação de valor. Quando incorporada à estratégia corporativa, ela redefine a forma como a empresa aprende, decide e compete.
Empresas que integram IA ao coração do negócio não apenas automatizam processos; elas ampliam sua capacidade de imaginar e agir. Elas passam a operar com um tipo de inteligência assistida — humana e algorítmica — capaz de antecipar movimentos de mercado, personalizar experiências e reinventar produtos. Tratar a IA como estratégia é, portanto, garantir que ela não seja uma moda, mas um motor permanente de competitividade.
Em minhas pesquisas sobre psicodinâmica da vida organizacional defendo que a IA não se instala em um sistema técnico — mas em um sistema vivo, repleto de vínculos, medos e defesas emocionais. Toda inovação, por mais racional que pareça, desperta fantasmas coletivos: medo da obsolescência, culpa por não compreender, inveja dos que dominam a tecnologia e ressentimento dos que se sentem substituídos.
A IA não ameaça apenas o trabalho — ela ameaça o sentido do trabalho. E quando o sentido entra em colapso, as organizações constroem mecanismos de defesa: negam a mudança, teatralizam a inovação ou terceirizam a responsabilidade para o “algoritmo”. É por isso que nenhuma transformação sólida se instala sem desafiar os acordos invisíveis que sustentavam o modelo anterior. Mas quando esse abalo é compreendido e conduzido com liderança, ele se transforma em energia de criação, não em resistência.
Os relatórios da HBR, Gartner e BCG falam em upskilling, AI-savviness e cultura de experimentação. Tudo isso é correto, mas insuficiente. Liderar a era da IA exige mais do que treinar cérebros — exige transformar vínculos humanos e alinhar tecnologia à estratégia.
A liderança, nesse novo contexto, deixa de ser apenas um papel e torna-se uma função emocional e estratégica do grupo: conter ansiedades, traduzir o desconhecido e reconfigurar o imaginário coletivo da empresa. O líder do futuro não será apenas um orquestrador de valor em IA — será um estrategista simbólico, capaz de fazer da IA não um risco, mas um eixo de vantagem competitiva. Seu papel não é resistir ao tsunami, mas aprender a direcionar sua força para o propósito e para a competitividade organizacional.
As empresas que de fato conseguirão “respirar IA” serão aquelas capazes de criar ambientes simbióticos, onde humanos e máquinas colaboram em vez de competir. Isso implica três movimentos simultâneos:
1. Transformar o espaço interno: abrir canais de diálogo, permitir que o medo seja nomeado e que o aprendizado seja coletivo.
2. Resignificar o poder: substituir o controle pela confiança e a obediência pela coautoria.
3. Humanizar a técnica: compreender que cada algoritmo é uma extensão da cultura que o criou — e, portanto, carrega também seus vieses, crenças e defesas.
Leia mais artigos da coluna do Joaquim Santini aqui
Enquanto as grandes consultorias buscam receitas, o que proponho é um caminho simbólico e estratégico, em que o líder se torna intérprete do inconsciente organizacional e arquiteto da estratégia de IA como vantagem competitiva.
A IA, nesse sentido, não é uma revolução tecnológica — é um espelho emocional e estratégico que revela quem somos enquanto coletivo. E quando olhamos para esse espelho com coragem, descobrimos que a tecnologia não vem para nos substituir, mas para nos ampliar.
A verdadeira vantagem competitiva da próxima década não virá de quem adotar mais ferramentas, mas de quem fizer da IA o centro de sua estratégia de negócios, guiada por propósito, aprendizado contínuo e confiança. A empresa que entender isso primeiro não apenas sobreviverá ao tsunami — ela o transformará em corrente de impulso, inovação e vantagem sustentável. O futuro da IA não será das máquinas, mas das organizações inteligentes o bastante para unir emoção, estratégia e tecnologia em um mesmo fluxo criador.
BOX — A nova liderança para a era da IA, segundo Joaquim Santini:
· Transformar a IA em estratégia de negócio: conectá-la diretamente à geração de valor e competitividade.
· Interpretar o inconsciente organizacional: escutar medos e resistências antes de implementar tecnologia.
· Criar rituais de transição: simbolizar o fim do antigo e o nascimento do novo.
· Transformar culpa em curiosidade: substituir a negação pelo aprendizado coletivo.
· Construir coautoria entre humano e máquina: eliminar hierarquias entre quem decide e quem executa.
· Cultivar pensamento complexo: compreender a IA como fenômeno técnico, social, emocional e estratégico.
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