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COEs enfrentam crise de confiança após perdas bilionárias; veja como investir com segurança
Publicado 01/11/2025 • 07:00 | Atualizado há 22 horas
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Publicado 01/11/2025 • 07:00 | Atualizado há 22 horas
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Pixabay
Números em comparação
Imagine aplicar R$ 1.000 e descobrir, meses depois, que o resgate será de apenas R$ 70. Foi o que aconteceu com investidores que compraram COEs — Certificados de Operações Estruturadas — atrelados às dívidas da Ambipar e da Braskem.
Vendidos como alternativas de renda fixa com ganho extra, esses produtos viraram alvo de uma das maiores discussões do mercado financeiro em 2025.
As perdas chegaram a 93% em alguns casos, segundo relatórios de corretoras como XP Investimentos e BTG Pactual, principais emissoras e distribuidoras desses papéis.
O episódio expôs falhas de transparência, levantou dúvidas sobre a real segurança dos COEs e reacendeu a pergunta que domina o mercado em 2025: ainda vale a pena investir neles — e como fazer isso com segurança?
O COE é um produto financeiro criado por bancos que mistura características de renda fixa e de renda variável. A ideia é oferecer uma aplicação que tenha potencial de rendimento acima da média, mas com regras bem definidas desde o início.
Na prática, o COE é uma espécie de “embalagem financeira” que combina diferentes ativos, como títulos públicos, ações, moedas e índices. O retorno depende do comportamento de um desses ativos, chamado de ativo de referência.
Existem dois tipos principais. O primeiro é o COE de capital protegido, que promete devolver pelo menos o valor investido na data de vencimento — embora, na maioria das vezes, essa proteção não cubra a inflação nem eventos de crédito.
O segundo é o COE de capital em risco, em que o investidor pode perder parte ou até todo o valor aplicado. Esse segundo modelo foi o que gerou os prejuízos mais graves no caso Ambipar-Braskem.
Segundo a mentora financeira Adriana Melo, com mais de 20 anos de experiência em finanças, “os COEs não morreram, mas perderam glamour. Depois de Ambipar e Braskem, o produto só faz sentido para quem sabe exatamente o que está comprando e topa travar o dinheiro até o fim”.
Ela explica que pode haver espaço para COEs em pequenas parcelas da carteira, especialmente quando o objetivo é acessar um índice internacional ou uma tese específica, mas alerta: “com a Selic alta e a renda fixa pagando bem, o custo de errar num COE ficou maior”
Os COEs que provocaram as perdas de até 93% estavam atrelados a títulos de dívida corporativa das próprias companhias. Esses títulos de dívida funcionavam como base de cálculo para os rendimentos.
Quando as empresas começaram a enfrentar dificuldades financeiras, os papéis perderam valor rapidamente — e, por consequência, os COEs também.
Esses produtos possuem cláusulas conhecidas como “gatilhos de vencimento antecipado”. Elas determinam que, se o ativo de referência cair demais no mercado, o COE é encerrado automaticamente. Nessa situação, o banco vende o título pelo preço atual e devolve ao investidor o que sobrar. Com a queda brusca das dívidas da Ambipar e da Braskem, o valor de resgate despencou. Muitos aplicadores receberam de volta apenas uma fração mínima do investimento inicial.
Segundo dados de corretoras, os COEs ligados à Ambipar devolveram apenas 6,88% do valor aplicado. Já os atrelados à Braskem pagaram entre 26% e 37%. Em ambos os casos, a promessa de uma renda fixa com ganho extra se transformou em uma aposta de alto risco.
Adriana Melo explica que o COE é frequentemente vendido como uma mistura de renda fixa com potencial de ganho adicional — mas essa definição é apenas parcialmente verdadeira.
“No caso de COEs com capital protegido, existe sim um componente de renda fixa que garante a devolução do principal no vencimento, enquanto outra parte do dinheiro é alocada em derivativos para buscar o ganho extra. Se tudo der certo, o investidor ganha esse bônus; se der errado, recebe ao menos o que aplicou de volta”, afirma.
Mas ela ressalta que o diabo mora nos detalhes. “Mesmo nos COEs de capital protegido, há condições e limitações. Quando entram barreiras, capital em risco ou proteção que cai em evento de crédito, acabou o mito. O risco começa exatamente onde termina a proteção escrita no documento.”
Nos COEs de capital em risco, diz Adriana, “a definição de ‘renda fixa com ganho extra’ é enganosa. O investidor pode perder o dinheiro investido, como em renda variável. O perigo está na falsa sensação de segurança.”
Para o analista César Queiroz, da Queiroz Investimentos, o principal erro foi a falta de transparência.
“O COE tem sido vendido sem que o investidor receba todas as informações de forma clara. Muitos compraram acreditando que tinham segurança e agora estão descobrindo que havia risco de perda total”, afirma.
A analista Mariana Almeida, do Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC, reforçou que a credibilidade é a base de produtos como esse.
“O COE só pode ser emitido por bancos, o que traz uma responsabilidade ainda maior. Esses produtos não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos, então o investidor precisa confiar na instituição e entender exatamente o que está comprando”, explica.
Segundo Adriana Melo, o risco real de um COE é triplo. “Há o ativo de referência, que pode derreter; a cláusula que pode quebrar a proteção; e o fato de o COE não ter FGC. Se o ativo despenca, se a barreira é acionada ou se o emissor liquida antecipadamente, o investidor pode receber só uma fração do que aplicou.”
Ela lembra que a baixa liquidez agrava o problema: “não dá para sair no meio sem deságio. É assim que se perde 30%, 50% ou, em casos extremos, mais de 90%. E foi assim que muita gente recebeu apenas 7% de volta. Não foi azar, foi contrato.”
Uma das principais recomendações da especialista é entender qual tipo de COE está sendo oferecido.
“Primeiro filtro: a distinção tem que estar no nome e no cabeçalho do DIE: ‘valor nominal protegido’ ou ‘valor nominal em risco’. Se não estiver claro, já é sinal de alerta.”
No Documento de Informações Essenciais, Adriana sugere atenção redobrada: “Veja no que o COE aposta, os cenários de retorno, os eventos de liquidação antecipada e as exceções à proteção. Também verifique o prazo, a liquidez e se há custos embutidos. E lembre-se: COE não tem FGC. Se o banco quebrar, você perde tudo.”
A recomendação final é: “se o DIE parecer complicado demais, o COE não é pra você ainda. A pergunta-chave é: em qual situação eu recebo menos do que investi? Se a resposta não for óbvia, não invista.”
Segundo a B3, o estoque de COEs no Brasil chegou a R$ 90 bilhões em 2024, com cerca de mil novas emissões por dia. Cerca de 15% desse total é formado pelos chamados COEs de crédito — justamente os que apresentaram mais problemas.

Melo explica que o COE pode ser interessante “para quem gosta de experimentar, mas não aposta o jantar inteiro”. Segundo ela, o produto pode ser útil para diversificar, mas não deve ocupar grande parte da carteira.
“Não é sobremesa para conservadores nem entrada para iniciantes. Se o vendedor estiver mais empolgado que você, desconfie. E se você precisa de liquidez ou tem objetivos de curto prazo, COE não serve para caixa de emergência nem para metas imediatas. É como um condimento: usar demais estraga o sabor da carteira.”
A especialista afirmou também que o investidor maduro precisa ser cético e criterioso. “Os eventos recentes foram um banho de realidade. Mostraram que o COE não era tão ‘redondinho’ quanto parecia e que houve falhas graves de comunicação e entendimento de risco.”
Ela defendeu que o investidor questione sempre os incentivos e premissas por trás de uma oferta. “Os ganhos extras vêm acompanhados de riscos extras, só que mascarados de forma complexa. Por isso, é prudente manter um pé atrás com COEs como se faz com qualquer investimento novo, complexo ou altamente customizado.”
Para ela, contar com uma boa assessoria financeira é decisivo. “Depois das perdas, ficou claro que ter um consultor de confiança faz diferença — alguém que explique os porquês e contraponha decisões impulsivas. O problema é que muitos venderam COEs como ‘o melhor de dois mundos’ e ocultaram riscos para fechar a venda.”
O COE tem uma característica que poucos conhecem, esses papéis costumam ter prazos longos, que podem ultrapassar cinco anos. Como não há um mercado ativo para revenda, quem tenta sair antes do vencimento precisa aceitar deságios elevados.
Raphael Cordeiro, da Zelen Family Office, resume: “Nos COEs de Ambipar e Braskem, o investidor ficou preso em um produto com alto risco e baixa liquidez. Era uma estrutura complexa, difícil de entender e praticamente impossível de desfazer sem prejuízo.”
O Conselho Monetário Nacional (CMN) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) criaram regras específicas para esse tipo de produto. Elas determinam que o COE precisa ser registrado, que o investidor receba informações claras sobre os riscos e que seja avaliado o seu perfil antes da venda.
Na prática, porém, especialistas afirmam que o sistema ainda falha. O advogado Rafael Mortari diz que o mercado se apoia demais na formalidade. “Não basta que o risco esteja descrito. É preciso que o investidor compreenda o que está comprando. A informação técnica sem explicação não cumpre a função de proteção.”
Para reduzir o risco de inadequação, a AMBIMA criou em 2025 uma classificação de risco específica para COEs de crédito, com pontuações baseadas no rating dos emissores e no tipo de exposição. O objetivo é evitar que investidores conservadores sejam expostos a produtos incompatíveis com seu perfil.
Especialistas são unânimes em dizer que o COE não é um vilão, mas um produto que exige conhecimento. Quem compreende os mecanismos e aceita o risco pode usá-lo como parte de uma estratégia diversificada. Já quem busca segurança e liquidez deve ficar longe.
“Geralmente quem entende o risco não se surpreende com o resultado”, resumiu Adriana Melo.
Com a Selic em níveis altos, há opções mais transparentes e previsíveis — como CDBs com FGC, títulos públicos e fundos de renda fixa. Todas oferecem boa rentabilidade e baixo risco.
No fim das contas, o episódio Ambipar-Braskem deixou como mensagem que rendimento alto e risco baixo não existem juntos. E, quando a promessa parece boa demais para ser verdade, provavelmente é.
Veja também:
SÉRIE EXCLUSIVA — O escândalo Ambipar: o sumiço de R$ 4,7 bilhões do caixa e a suspeita de megafraude
SÉRIE EXCLUSIVA 2 — O escândalo Ambipar: suspeitas em contrato e em manobra judicial
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