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SÉRIE EXCLUSIVA 4 – O escândalo Ambipar: aquisições desenfreadas e governança paralela impulsionaram derrocada da empresa

Publicado 25/11/2025 • 10:37 | Atualizado há 1 hora

KEY POINTS

  • Em meio às preocupações do mercado sobre o futuro do grupo, surgiram dúvidas quanto aos números divulgados pela companhia.
  • Com problemas se acumulando, a empresa decidiu profissionalizar a gestão e em agosto de 2024, a chegada do novo CFO, João Daniel Piran de Arruda, causou forte impacto na estrutura.
  • Em meio às preocupações do mercado sobre o futuro do grupo, surgiram dúvidas quanto aos números divulgados pela companhia.

Durante a pandemia de Covid-19, em 2020, a Ambipar Response se apresentou ao mercado como uma solução completa baseada em seu know-how no combate a emergências e epidemias. Naquele ano, mesmo com a queda de 3,3% do PIB brasileiro, o país registrou recorde em operações de fusões e aquisições e a Ambipar acompanhou o movimento ao abrir seu capital na bolsa de valores.

A partir da estreia na B3, o grupo iniciou uma nova onda de compras em ritmo acelerado.

Ritmo de aquisições e desafios de integração


Max Mustrangi, sócio-fundador da Excellance, lembra que foram 50 aquisições em 40 países.
“Aí é impossível você gerenciar uma coisa dessa”, afirma.

Além das compras, a companhia passou por uma reorganização societária para integrar empresas brasileiras e estrangeiras. A economista do Insper, Juliana Inhasz, explica as dificuldades dessa consolidação:

“É muito difícil que você consiga internalizar dentro desses grupos um único DNA, porque elas partilham de princípios diferentes, funcionários e colaboradores que têm posicionamentos diferentes, que já estão acostumados com determinadas gestões, com determinados aspectos culturais.”

Ascensão meteórica e expansão internacional


Com o crescimento acelerado, houve mudanças estratégicas. Em 2020, Guilherme Borlenghi, então com 27 anos, assumiu o mais alto cargo da Ambipar Response. O braço operacional se expandiu pelo Brasil e pelo mundo, consolidando-se como líder global em emergências ambientais e impulsionando a internacionalização da holding — que chegou, inclusive, à Bolsa de Nova York.

“Uma parte do mercado leu isso como um sinal positivo de que tinha uma empresa confiável, sólida”, avalia Inhasz. “Que estava juntando várias empresas num único grupo e que poderia resolver problemas das adquiridas e, ao mesmo tempo, crescer ainda mais.”

Vieram então três anos de intensa expansão.

Mas Mustrangi faz uma analogia:

“É como quem joga War, você começa a espalhar peças pelo tabuleiro inteiro, uma peça em cada lugar. Você vai ser dizimado em poucas rodadas.”

Reestruturação interna e alerta financeiro


Em junho de 2023, a Ambipar promoveu uma nova reestruturação da diretoria executiva. Tércio Borlenghi Jr. deixou o conselho e voltou ao cargo de CEO, enquanto o filho, Guilherme Borlenghi, assumiu a direção operacional.

“Eles não sabem a outra saída (…) nunca viveram outra situação”, diz Mustrangi.

No relatório anual de resultados de 2023, a empresa anunciou receita bruta recorde de R$ 5,4 bilhões. A receita líquida, no entanto, foi de R$ 4,9 bilhões. A dívida atingiu R$ 4,49 bilhões, praticamente um ano de faturamento.

Com cerca de 92% da receita líquida comprometida com dívida, os números acenderam o alerta no mercado.

Para Inhasz, o desafio era encontrar o nível adequado de endividamento:

“Qual é o ponto onde a alavancagem é aceitável, tanto do ponto de vista operacional quanto financeiro?”

Incertezas no mercado e juros em alta


Em meio às preocupações do mercado sobre o futuro do grupo, surgiram dúvidas quanto aos números divulgados pela companhia.
Arthur Longo Ferreira, especialista em direito do mercado financeiro, aponta possíveis falhas:

“Os principais erros podem estar ligados à governança da empresa, aos controles, à questão jurídico-societária.”

Com juros altos e câmbio elevado, os empréstimos ficaram mais caros. Além disso, muitas das empresas adquiridas já traziam dívidas próprias.

“A Ambipar comprou empresas que estavam naturalmente endividadas”, explica Inhasz.

A situação colocava pressão sobre credores e investidores, exigindo maior rigor no controle financeiro.

A professora de direito empresarial Elisabete Vido resume que até um açougue para funcionar precisa de planejamento. “Tem que pagar conta d e luz, conta de água, senão o credor agirá de forma impiedosa.”

Profissionalização da gestão e tensões internas


Com problemas se acumulando, o controlador decidiu profissionalizar a gestão. Em agosto de 2024, a chegada do novo CFO, João Daniel Piran de Arruda, causou forte impacto na estrutura da holding.

Segundo apuração do Times Brasil, licenciado exclusivo CNBC, a contratação teria gerado ciúmes, tensões internas e até ameaças.

Arruda assumiu a missão de transformar a empresa em cinco anos e meio. A Ambipar havia recebido uma nota desfavorável da agência de risco Fitch e um dos fatores era a fragilidade de sua governança.

O executivo conhecia a companhia: foi o banker responsável por estruturar e precificar o IPO da Ambipar na B3, quando atuava no Bank of America. Ao ser contratado, “pulou para o outro lado do balcão”.

Governança paralela e crise definitiva


Fontes próximas à gestão disseram ao Times Brasil, Licenciado Exclusivo CNBC, que Arruda teria enfrentado uma “governança paralela”, com números que não passavam por sua análise.

Inhasz explica um fenômeno comum em empresas familiares:
“Você tem empresas que resistem a profissionalizar a gestão muito por conta do controle. São empresas que nascem de estruturas familiares concentradas.”

O executivo pediu demissão em 19 de setembro. Cinco dias depois, em 24 de setembro, o grupo ingressou com pedido de medida cautelar na Justiça do Rio de Janeiro.

Para Inhasz, a saída abrupta sinaliza ruptura:

“O primeiro sinal é eles saem da empresa para tentar salvar reputação, mas muitas vezes saem antes justamente para sinalizar discordância com a gestão.”

A discordância se transformou em caso de polícia e foi o estopim para o pedido de recuperação judicial da Ambipar, marcando um dos capítulos mais turbulentos da história recente da companhia.

Ambipar


Questionada sobre o crescimento acelerado e as aquisições de empresas que já possuíam problemas financeiros e dívidas significativas, a Ambipar não respondeu até o momento.

Ainda sobre a estratégia de M&A e listagem da Ambipar Response na Bolsa de Nova York (NYSE) como um passo precipitado, dado o cenário de endividamento que se formava, a empresa ainda não respondeu. Assim como não retornou ao Times Brasil, licenciado exclusivo CNBC sobre a Recuperação Judicial como garantia para a sobrevivência operacional e recuperação da credibilidade junto ao mercado.

Na próxima reportagem

No próximo episódio, saiba quais são as estratégias da Ambipar no plano de recuperação judicial. Como ficam os credores? Qual é o papel da CVM, o órgão fiscalizador do mercado, nesta história? E para onde foram os R$ 4,7 bilhões que a Ambipar declarou ter em caixa?

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