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O impacto da IA nas paradas e no futuro da música

Publicado 02/12/2025 • 13:25 | Atualizado há 16 minutos

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Álvaro Machado Dias é um neurocientista e futurista de reputação internacional. Ele é professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo, membro do Painel Global de Tecnologia do MIT e fellow da Brain & Behavioral Sciences (Cambridge).

A música está vivendo um momento de ruptura profunda. Quando eu olho para o que a inteligência artificial é capaz de fazer — criar vozes, melodias e arranjos inteiros em segundos — fica evidente que não estamos mais falando de experimentos. São faixas profissionais, que viralizam e sobem para o topo das paradas. Isso mexe não só com a economia criativa, mas com a forma como construímos a nossa própria identidade cultural.

Recentemente, aconteceu algo que considero simbólico: uma música de IA, “Walk My Way”, da banda virtual Breaking Dust, atingiu o primeiro lugar na Billboard do country. Para mim, isso mostra que aquela resistência cultural ao “não humano” praticamente desapareceu. Indica o surgimento de uma subcultura que pode crescer tanto quanto a hegemônica.

Quando eu analiso como o público reage a esse fenômeno, vejo duas dinâmicas:

  1. A música como extensão emocional, trilha da própria vida. Nesse caso, descobrir que a faixa é feita por IA gera desconforto e sensação de manipulação.
  2. A música como consumo fugaz, semelhante ao scroll de reels. Essa parcela cresce rápido, e nela a autoria importa menos. O vínculo emocional enfraquece, e o incômodo desaparece.

Estudos cegos mostram que as pessoas não conseguem diferenciar criação humana de criação algorítmica. E, pela economia de produção, algumas faixas de IA até soam mais “raiz”, mais encorpadas, do que parte da produção atual.

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Quando o custo de produzir música tende a zero, a indústria não apenas muda — ela se expande.
Exemplos práticos:

  • Videogames: trilhas mais ricas, sem limitações de orçamento.
  • Ambientes funcionais: música de elevador, yoga, spinning, lojas.
  • Plataformas: playlists infinitas, adaptadas ao instante.

Para artistas humanos, cresce a relevância do ao vivo, do contato presencial, porque é a dimensão que a IA não replica.

A cultura do sampling e dos DJs preparou terreno para que o público aceitasse narrativas musicais baseadas em recombinação. A música eletrônica já é, em grande parte, algorítmica.

A diferença é que agora essa lógica chega ao country, à MPB, a ritmos regionais. E aí ocorre o choque com a memória afetiva: aquilo que associamos ao artesanal, ao humano, ao emocional. É essa tensão que está em jogo.

A convivência será inevitável. A música humana tende a se tornar um produto premium — artesanal, raro, valorizado. Já a música para uso cotidiano, ambiente ou automatizado deve migrar rapidamente para a IA, especialmente porque, por questões de direitos autorais, é muito mais barato gerar algo novo do que licenciar.

Plataformas como Spotify e Deezer já avançam nessa direção, estimuladas por custos menores e maior volume de catálogo.

Esse é o vetor econômico do futuro.

A música é só o começo. O mesmo movimento ocorrerá em diversas áreas: entretenimento, educação, comunicação, saúde mental e até política. Entender essa transição agora é fundamental para navegar os próximos anos com clareza.

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