A Honda está iniciando uma nova era de manufatura em Ohio, nos Estados Unidos. A montadora japonesa anunciou um investimento de mais de US$ 1 bilhão no estado, um aumento em relação ao valor inicial de US$ 700 milhões divulgado anteriormente.
Entre as principais novidades, a Honda instalará seis “giga presses” — tecnologia popularizada pela Tesla — e um novo sistema de produção “cell” para a fabricação de baterias de veículos elétricos (EVs).
Ohio se torna o centro global de EVs da Honda
A fábrica em Marysville, Ohio, será a principal unidade de produção da Honda para veículos elétricos, híbridos e convencionais, podendo fabricá-los na mesma linha de montagem. A empresa também está construindo uma nova fábrica de baterias de US$ 3,5 bilhões no estado.
Mike Fischer, líder dos projetos de veículos elétricos da Honda na América do Norte, destacou que Ohio servirá como modelo para a produção de EVs em todo o mundo.
“Estamos estabelecendo um padrão global para a produção de EVs em termos de pessoas, tecnologia e processos”, disse Fischer.
Tradicionalmente, mudanças desse porte começariam no Japão e depois seriam implementadas em fábricas nos EUA e em outros países. No entanto, a Honda escolheu Ohio como seu centro de inovação para EVs, alinhando-se ao esforço do governo Biden para fortalecer a manufatura nacional.
Além disso, essa decisão pode ajudar a Honda a evitar possíveis aumentos tarifários sobre produtos importados, caso o ex-presidente Donald Trump retorne ao cargo e imponha novas barreiras comerciais.
Capacidade de produção e novos modelos elétricos
Em 2024, a Honda produziu mais de 1 milhão de veículos em cinco fábricas nos EUA, dos quais 64% foram vendidos no país e o restante exportado.
A fábrica de Marysville terá capacidade para produzir cerca de 220.000 veículos por ano. A unidade, que já fabrica modelos da Honda e da Acura, passará a produzir o novo Acura RSX, o primeiro EV da Honda feito internamente.
Atualmente, a empresa vende nos EUA dois SUVs elétricos — o Honda Prologue e o Acura ZDX —, ambos produzidos pela General Motors no México. Porém, a Honda está se preparando para lançar seus próprios EVs, incluindo os protótipos Honda 0 SUV e Honda 0 Saloon, apresentados na CES 2024 em Las Vegas.
Gigacasting e a nova tecnologia de produção
Para fabricar as baterias e componentes dos EVs, a Honda instalará seis máquinas de fundição de alta pressão de 6.000 toneladas, conhecidas como “giga presses” ou “megacast”. Essas máquinas, do tamanho de uma pequena casa, utilizam alta pressão para moldar peças inteiras do veículo, reduzindo a necessidade de soldagem de várias partes.
Segundo a S&P Global Mobility, esse processo pode reduzir significativamente os custos de fabricação ao fundir módulos inteiros do carro em uma única peça.
As baterias de alumínio dos novos EVs serão produzidas no complexo de motores da Honda em Anna, Ohio — a maior fábrica de motores da empresa no mundo. De lá, os pacotes de baterias serão enviados para Marysville e outras plantas para receberem as células de bateria produzidas em parceria com a LG Energy Solution.
Para a montagem das baterias, a Honda está implementando um sistema de produção mais flexível, com quase 60 células de manufatura individuais. Diferente das linhas de montagem tradicionais, esse novo método permite que o processo ocorra em paralelo, reduzindo o impacto de atrasos ou problemas na produção.
Sustentabilidade e a “segunda fundação” da Honda
A Honda chama essa transição para veículos elétricos de sua “segunda fundação”. Apesar da adoção de EVs estar mais lenta do que o esperado nos EUA, a empresa mantém seu compromisso de zerar o impacto ambiental até 2050.
Isso inclui a meta de vender apenas veículos elétricos ou movidos a célula de combustível até 2040. Diferente de outras montadoras que recuaram em seus planos de eletrificação, a Honda segue firme nesse objetivo.
A empresa também está adotando novas práticas para reduzir emissões e desperdícios, como o uso de alumínio estrutural reciclável nas baterias dos EVs.
“Estamos aproveitando essa oportunidade para repensar nossa abordagem à manufatura e criar um novo valor em responsabilidade ambiental”, afirmou Bob Schwyn, vice-presidente sênior da Honda Development and Manufacturing of America.
Isso inclui estratégias para reutilizar materiais dos veículos no final de sua vida útil, garantindo que componentes de EVs antigos possam ser reciclados para a produção de novos modelos.
Com esse investimento e inovação, a Honda busca não apenas se consolidar como líder na produção de EVs, mas também estabelecer um novo padrão sustentável para a indústria automotiva global.
Juliana Colombo é jornalista especializada em economia e negócios. Já trabalhou nas principais redações do país, como Valor Econômico, Forbes, Folha de S. Paulo e Rede Globo.
Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
