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Agro

Economista propõe criar taxa para antibiótico em gado nos EUA; produto pode gerar ‘superbactérias’

Publicado 12/11/2024 • 12:55

emizuta

KEY POINTS

  • Setores do agronegócio afirmam que a criar uma taxa para antibióticos seria inviável devido ao alto custo.
  • O governo dos EUA publicou regras para reduzir os antibióticos na pecuária, mas as normas são de adoção voluntária.
Imagem de um gado

Vacas agrupadas em um campo

Foto: Freepik

Uma das principais causas para o aumento de bactérias resistentes, conhecidas como “superbactérias”, é o uso excessivo de antibióticos em animais. 

No setor agrícola, o uso de antibióticos é comum para tratar animais doentes, e, além disso, para acelerar o crescimento de aves, suínos e gado.

No Brasil, duas classes de antibióticos que são considerados importantes para humanos ainda são liberadas para uso em animais, e o acesso ao produto tem restrições – em alguns casos, é preciso ter uma prescrição de um veterinário. 

Nos Estados Unidos, o uso é mais liberado. Em janeiro deste ano, a autarquia responsável por alimentos e medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) publicou novas regras para reduzir os antibióticos na pecuária nos próximos três anos, mas essas normas são de adoção voluntária.

Taxa para usar antibiótico

O  economista Aidan Hollis, da Universidade de Calgary, no Canadá, propôs uma solução para diminuir o uso excessivo de antibióticos em animais. Ele propõe implementar uma taxa sobre todos os antibióticos utilizados pela indústria agrícola dos EUA.

Hollis é co-autor de um artigo sobre o assunto no New England Journal of Medicine, um periódico semanal de medicina. “A ideia é diferenciar o uso correto do uso inadequado de antibióticos”, afirma. 

Hollis não sugeriu um valor específico para a taxa, mas, para ele, a cobrança ajudaria a garantir que os antibióticos fossem usados apenas no tratamento de animais doentes e que o uso indiscriminado diminuiria.

Ele ainda está desenvolvendo um plano para determinar como a taxa seria cobrada e quem a pagaria.

“Não há dúvida de que isso aumentaria os custos em toda a cadeia produtiva de carne e frango, mas é uma questão de saúde pública que precisa ser resolvida”, afirmou.

Antibiótico já é caro, dizem produtores

Entretanto, o aumento de custos é um dos pontos que mais preocupa as entidades do setor. Kelli Ludlum, diretora de relações com o Congresso da American Farm Bureau Federation (Federação Americana de Agências Agrícolas), uma das principais associações de agricultores e pecuaristas dos Estados Unidos, argumenta que as taxas sobre os antibióticos seriam repassadas para os produtores rurais. 

“Os antibióticos já são caros, e é por isso que os produtores os utilizam com cautela”, disse Ludlum. 

De acordo com dados da FDA, a maioria dos antibióticos consumidos nos EUA vai para os animais, e não para seres humanos. Atualmente, 51 toneladas de antibióticos são usadas diariamente no país, e 80% delas são destinadas à pecuária, criação de peixes e outros animais marinhos.

O uso de antibióticos no gado é uma prática que existe há décadas. Em 1950, a FDA autorizou o uso de antibióticos na alimentação animal, depois que estudos demonstraram que eles aceleram o crescimento do gado, fazendo com que os animais ganhem peso mais rapidamente. Essa prática reduziu o custo da produção e, consequentemente, o preço da carne no supermercado.

Relação com bactérias resistente é conhecida há décadas

Na década de 1970, um estudo apontou que o uso excessivo de antibióticos estava contribuindo para o desenvolvimento de bactérias resistentes, mas a FDA não proibiu o uso de penicilina e tetraciclina na pecuária.

“Antibióticos são comuns no nosso abastecimento alimentar”, disse Emelie Peine, professora da Universidade de Puget Sound, que estuda questões globais relacionadas à alimentação. “Se você os administra nos animais todos os dias, está criando um problema de saúde enorme.”

Estima-se que, anualmente, 23 mil americanos morram devido a infecções causadas por bactérias resistentes a antibióticos, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Além disso, o CDC alerta que as bactérias resistentes podem permanecer na carne dos animais e contaminar os humanos, caso a carne não seja adequadamente manipulada ou cozida. No entanto, o Farm Bureau dos Estados Unidos argumenta que, “do ponto de vista científico, não há evidências de que o uso de antibióticos em animais esteja diretamente relacionado ao aumento da resistência humana aos antibióticos”.

“Não estamos dizendo que isso seja impossível, mas é uma ocorrência improvável”, afirmou Ludlum.

O que os especialistas dizem

Por outro lado, Timothy Richards, professor de agronegócio na Universidade Estadual do Arizona, questiona parte da ciência por trás das alegações de resistência bacteriana. Ele acredita que mais regulamentações ou a criação de impostos sobre antibióticos podem prejudicar a indústria agrícola.

“Seria necessário que o FDA determinasse qual animal está realmente doente e precisa de antibióticos, o que é praticamente impossível de fazer”, disse Richards.

  • Kelli Ludlum, a diretora da Federação Americana de Agências Agrícolas, diz que as novas regras da FDA, mesmo sem uma aplicação rigorosa, são suficientes para acabar com o uso excessivo de antibióticos para crescimento, já que as empresas farmacêuticas provavelmente deixarão de fornecer esses medicamentos para esse propósito.
  • Hollis, o economista que sugere uma nova taxa, afirma que sua proposta seria uma solução mais equilibrada do que a proibição do uso de antibióticos em animais, como é feito em alguns países europeus. Ele defende que antibióticos são um recurso escasso, e que sua proposta poderia ser utilizada para financiar a pesquisa de novos medicamentos para combater as superbactérias.
  • Timothy Richards, o professor de agronegócio na Universidade Estadual do Arizona, diz acreditar que uma solução mais eficaz viria da própria dinâmica do mercado, permitindo que os consumidores escolhessem carne rotulada como “livre de antibióticos”, desde que os produtores apresentem a documentação comprovando que seus animais não foram medicados. No entanto, ele destaca que não há uma fiscalização rigorosa para garantir a veracidade dessas alegações.
  • Emelie Peine, da Universidade de Puget Sound, sugere que uma mudança na forma como os animais são criados poderia ser mais eficaz. “Nós os colocamos em condições precárias, amontoados em fazendas industriais. Isso prejudica tanto a saúde deles quanto a nossa. O ideal seria que eles fossem criados em ambientes naturais, ao ar livre, para que cresçam e se desenvolvam de maneira saudável”, concluiu.

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