A recente pausa nas tarifas anunciada por Donald Trump voltou a movimentar os mercado de transporte de produtos, que havia sido impactado frente ao medo da elevação de custos.
A decisão trouxe um alívio temporário aos mercados, que temiam o pior. No entanto, a volatilidade persistente nas bolsas de valores e nos mercados de títulos reflete um sentimento generalizado de incerteza na cadeia de suprimentos global, que enfrenta condições instáveis no comércio internacional.
Embora as tarifas com a China, o maior parceiro comercial dos Estados Unidos, permaneçam em vigor, agora em 145%, a situação fluida em outras nações asiáticas e europeias, importantes parceiros de manufatura, está levando os importadores a repensar decisões tomadas recentemente.
“Começamos a ver um grande número de cancelamentos de reservas de transporte marítimo já na semana passada, e esse número aumentou à medida que nos aproximávamos da data limite das tarifas, em 9 de abril”, afirmou Paul Brashier, vice-presidente de cadeia de suprimentos global da ITS Logistics. “Mas, com o recente anúncio da suspensão das tarifas, com exceção da China, podemos ver um aumento nas remarcações de pedidos nessas regiões.”
A União Europeia anunciou que suspenderá a aplicação de tarifas retaliatórias sobre uma série de produtos americanos por 90 dias, um dia após a decisão de Trump.
Retenções de carga liberadas
Andrew Abbott, CEO da Atlantic Container Line, que opera na rota Europa-América do Norte, informou que as “retenções” de carga resultantes das tarifas foram liberadas e as reservas dispararam após a suspensão. “Estamos prevendo um aumento significativo no volume de carga durante essa pausa”, disse Abbott. “Estamos vendo pedidos de equipamentos de construção, motores, peças de caminhões, utensílios de jantar, guindastes, equipamentos agrícolas e bebidas, entre muitos outros. Os navios estão lotando.”
Outros provedores de logística relataram à CNBC um aumento semelhante na demanda. Abbott acrescentou que as empresas que haviam suspendido os embarques agora se sentem recompensadas. “Até as montadoras britânicas reservaram embarques para maio”, revelou.
Incerteza ainda paira no ar
A incerteza permanece elevada em um cenário onde as decisões comerciais dependem da análise minuciosa das manchetes diárias. Executivos do setor de transporte marítimo permanecem em alerta, com o México como um exemplo relevante. As tarifas parciais em vigor sobre o México e o Canadá não foram alteradas.
“As pessoas estão incertas, e a incerteza gera medo. Estão começando a enviar algumas importações e exportações para os Estados Unidos, digamos, os produtos urgentes, mas o restante está em espera”, declarou Simon Cohen, CEO da Henco Global, em entrevista antes do anúncio da suspensão das tarifas.
Cohen informou que as exportações de varejo do México para os Estados Unidos estão suspensas. “As vendas simplesmente não estão aumentando”, afirmou.
Com base em dados da Alfândega dos EUA de 2024, analisados pela ImportGenius e aplicados às novas tarifas em vigor, a arrecadação diária de tarifas sobre importações mexicanas é de US$ 345,5 milhões. As arrecadações diárias de tarifas sobre importações canadenses, sob os mesmos critérios, totalizam US$ 282 milhões.
“O status quo é de incerteza, que se tornou a nova normalidade da cadeia de suprimentos”, disse Brashier.
Cohen citou as indústrias automotiva e aeroespacial como exemplos. “O que estamos vendo é que a indústria está em compasso de espera, aguardando notícias para avançar”, explicou.
A Volkswagen AG, por exemplo, suspendeu os embarques ferroviários de veículos do México.
O investimento chinês na manufatura no México tem sido alvo de escrutínio tanto pelo governo Biden quanto pelo governo Trump, e Cohen afirmou que as exportações chinesas para o México permanecem em limbo. “As empresas chinesas estão suspendendo tudo novamente”, disse Cohen. “Estão esperando para ver o que acontecerá no futuro próximo. As empresas chinesas estão mantendo suas operações normais com o México, sem aumentar nada.”
A incerteza comercial no âmbito doméstico pode ter um impacto ampliado nas economias dos estados fronteiriços, como o Novo México.
“2024 foi um ano recorde para nós na atração de novas empresas, investimentos e empregos”, declarou Jerry Pacheco, presidente da Associação Industrial da Fronteira (BIA). “Além disso, em 2024, as exportações do Novo México para o mundo aumentaram 140%. Nossas exportações para o México cresceram 101%.”
Pacheco informou que a base industrial de Santa Teresa, representada pela BIA, agora responde por aproximadamente 69% das exportações totais do Novo México para o mundo. “A situação das tarifas tem o potencial de interromper esse impulso”, alertou. “Fabricantes de componentes automotivos retiraram suprimentos excedentes do México para garantir suas cadeias de suprimentos e evitar possíveis tarifas.”
A evolução da guerra comercial “impacta profundamente toda a cadeia de suprimentos”, concluiu Cohen. “Portanto, precisamos ser extremamente cautelosos e pensar duas vezes antes de avançar.”
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
