Consequências da guerra comercial: começam cancelamentos de viagens de navios de carga chineses para os EUA
Publicado 16/04/2025 • 21:07 | Atualizado há 3 dias
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Publicado 16/04/2025 • 21:07 | Atualizado há 3 dias
KEY POINTS
China News Service | Getty Images (Reprodução CNBC Internacional)
Importadores norte-americanos estão sendo notificados sobre um aumento nos cancelamentos de viagens por navios de carga saindo da China, à medida que as transportadoras tentam equilibrar a queda nos pedidos resultante das tarifas do presidente Trump e da escalada nas tensões da guerra comercial.
Um total de 80 viagens em branco, ou canceladas, saindo da China foram registradas pela empresa de frete HLS Group. Em um comunicado recente a seus clientes, a empresa afirmou que, com a guerra comercial entre China e EUA levando a uma queda na demanda, as transportadoras começaram a suspender ou ajustar os serviços transpacíficos.
A principal aliança de frete marítimo, ONE, “suspendeu até novo aviso” uma rota que planejavam retomar em maio, que incluiria os portos de Qingdao, Ningbo, Xangai, Pusan, Vancouver e Tacoma. Enquanto isso, uma rota existente planeja cancelar sua parada no porto de Wilmington, na Carolina do Norte.
O impacto da diminuição no tráfego de contêineres com destino à América do Norte será significativo para muitos elos da economia e da cadeia de suprimentos, incluindo portos e empresas de logística. Se cada viagem transportasse entre 8.000 e 10.000 TEUs (unidades equivalentes a 20 pés), isso equivaleria a uma queda no tráfego de frete de entre 640.000 e 800.000 contêineres, e levaria à redução nas operações com guindastes nos portos, menores taxas a serem cobradas e queda nas retiradas e transportes de contêineres por caminhões, trens e para armazenamento em armazéns.
A Organização Mundial do Comércio alertou na quarta-feira (16) que as perspectivas para o comércio global “deterioraram-se bruscamente” após o plano de tarifas de Trump. As ações da JB Hunt atingiram o menor nível desde novembro de 2020, após comentários durante a teleconferência de resultados da empresa de transporte rodoviário sobre a incerteza provocada pelas tarifas.
“Não temos como saber o quão significativa será essa queda nos pedidos sobre os cronogramas dos navios”, disse Alan Murphy, CEO da Sea-Intelligence. “Não existem modelos para extrapolar isso. O que posso dizer é que a maioria dos contêineres nos navios que operam nas rotas comerciais entre Ásia e EUA vêm da China. Não chegaremos a zero contêineres, mas veremos uma redução, e, como resultado, no futuro veremos uma enorme quantidade de viagens em branco anunciadas.”
A China representa aproximadamente 30% de todas as importações conteinerizadas dos EUA (queda em relação aos 37% em 2018), mas responde por cerca de 54% de todas as importações conteinerizadas dos EUA vindas da Ásia (queda em relação aos 67% em 2018).
Bruce Chan, diretor de logística global e mobilidade futura da Stifel, disse que a política tarifária criou uma incerteza significativa em relação à demanda do consumidor, e que os varejistas estão posicionando seus negócios de forma conservadora quanto aos estoques — especialmente por conta das “cicatrizes” do recente excesso de produtos após o aperto na cadeia de suprimentos pós-Covid entre 2021 e 2022. “Essa incerteza está começando a se manifestar nas viagens em branco dos navios conteinerizados nas principais rotas transpacíficas para o leste, na nossa visão, abrindo potencial para uma queda de dois dígitos nas importações conteinerizadas já no próximo mês”, afirmou ele.
Os volumes de reservas da última semana de março até a primeira semana de abril caíram drasticamente nas rotas comerciais globais e dos EUA. Houve quedas acentuadas nas reservas em várias categorias, incluindo roupas e acessórios; e lã, tecidos e têxteis — ambos com queda superior a 50%. As principais categorias de produtos da China transportadas em contêineres incluem vestuário, brinquedos, móveis e equipamentos esportivos — todos sujeitos a tarifas elevadas.
Como resultado da queda nos contêineres, as transportadoras marítimas não apenas cancelarão navios, como também ajustarão ou cancelarão rotas de navios, comumente chamadas de “strings de navios”, como o serviço ONE da China para Vancouver e Tacoma. Essas rotas, que dedicam navios para movimentar a carga marítima em portos específicos, levam meses para serem planejadas. A eliminação dos navios também impacta as exportações dos EUA com destino à Ásia e que dependem de navios operando nos dois sentidos.
As transportadoras marítimas precisam movimentar navios cheios para obter retorno sobre o investimento, mas não é do interesse delas usar navios grandes se não puderem preenchê-los. Para garantir que os navios sejam utilizados em plena capacidade, as transportadoras têm várias formas de alterar os strings de navios. Estender as chegadas dos navios cancelando viagens é uma opção para adequar melhor o volume de contêineres à capacidade. Segundo Murphy, 99% dos serviços de navios são semanais e um navio leva aproximadamente sete semanas para fazer uma viagem de ida e volta.
“Durante a Covid, as transportadoras marítimas deixaram seus navios parados para manutenção”, disse Murphy. “As transportadoras também podem fazer uma viagem em branco (cancelar uma viagem), omitir strings de navios inteiros, usar embarcações menores ou reduzir a velocidade dos navios, fazendo com que viajem por mais tempo.”
Essas medidas reduzirão a capacidade disponível dos navios para contêineres, segundo Murphy, o que ajuda os navios restantes a serem preenchidos — com implicações incertas para a precificação geral no setor de frete marítimo. Embora uma queda nas viagens possa levar a uma redução nos preços, durante a Covid as viagens em branco foram apontadas por embarcadores ao redor do mundo como um dos motivos para as tarifas de contêineres que chegaram a US$ 30.000. Naquele caso, os embarcadores dizem que as transportadoras cancelaram viagens por mais tempo do que o necessário.
Vietnã continua ganhando espaço em relação à China
A demanda global por cadeia de suprimentos e a situação de preços continuam voláteis e sujeitas a fortes oscilações de curto prazo ligadas à política tarifária. À medida que o comércio chinês sofre pressão, uma métrica importante das tarifas de frete marítimo mostra que o Vietnã disparou no início de abril.
As tarifas marítimas “médias-baixas”, que representam os custos de envio de mercadorias para um embarcador de grande porte em determinada rota marítima, saltaram 43% desde 30 de março para o Vietnã. A Xeneta calcula os segmentos médio-baixo e médio-alto do mercado olhando os valores dos percentis 25 e 75 de uma tarifa de rota comercial.
“O fato de a parte inferior do mercado estar subindo mostra que a pressão está alta”, disse Peter Sand, analista-chefe da Xeneta. Ele afirmou que essa tendência continua após a decisão de Trump de pausar as chamadas tarifas “recíprocas” para países que não sejam a China por 90 dias.
“Embarcadores grandes e pequenos têm que pagar mais para antecipar fretes, já que a ‘pausa’ tornou possível novamente o adiantamento das remessas”, acrescentou Sand.
Essa demanda por parte dos embarcadores dos EUA importando produtos pode ser vista no aumento das tarifas spot de contêineres na rota dos portos de Ho Chi Minh City para Los Angeles, com alta de 24% no início de abril.
De acordo com dados compilados pela Xeneta para 2025, a diferença entre o maior porto de contêineres da China, Xangai, e o maior porto do Vietnã, Ho Chi Minh City, também diminuiu por unidade equivalente a 40 pés (FEU) para envios aos portos de Los Angeles e Long Beach.
Mesmo com o aumento dos custos para os embarcadores, eles continuarão importando de países fora da China, pois a situação segue altamente imprevisível, disse Sand. “Existe toda possibilidade de que as tarifas mais altas entrem em vigor daqui a 90 dias ou até mesmo antes disso”, finalizou.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.