Argentinos enlutados começaram a se reunir na Catedral de Buenos Aires para prestar as últimas homenagens ao Papa Francisco — compatriota, herói nacional e figura central da Igreja Católica.
Com o nascer do sol e a notícia se espalhando a partir do Vaticano, o varredor de rua Javier Languenari estava varrendo as folhas do início do outono em frente ao edifício neoclássico onde um jovem Jorge Bergoglio — ainda longe de se tornar líder da comunidade católica romana global — serviu como arcebispo.
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“Como argentinos, estamos órfãos”, disse o homem de 53 anos, balançando a cabeça em sinal de pesar. “Ele aguentou o quanto pôde.”
Impacto do falecimento
Papa Francisco tinha 88 anos e enfrentava sérios problemas de saúde. Foram 38 dias de internação por uma pneumonia severa antes de sua última aparição pública, já bastante fragilizado, no Domingo de Páscoa.
Mesmo esperada, sua morte foi um golpe profundo. Ele foi o primeiro papa latino-americano e o primeiro não europeu a liderar a Igreja Católica em mais de mil anos.
Em frente à catedral, o cenário era de luto coletivo. Fiéis acendiam velas em silêncio. Uma mulher de 78 anos chorava inconsolável, sentada com uma tigela de plástico ao lado, pedindo ajuda.
Uma figura de orgulho nacional
Para muitos na Argentina, que enfrenta crises constantemente, a disposição de Francisco em defender os pobres, desafiar governos e se deliciar com tudo, desde tango até futebol, fez dele não apenas um guia religioso, mas uma fonte de orgulho nacional.
A argentina Graciela Vilamia recordou, entre lágrimas, o apoio do papa às mães dos desaparecidos durante a ditadura militar.
“Conheço ele há 30 anos”, disse ela.
Unidade política em meio à polarização
Nos seus últimos anos, Francisco frequentemente se desentendeu com o atual presidente da Argentina, Javier Milei. No entanto, houve um raro senso de unidade política na segunda-feira (21), em uma nação ainda profundamente polarizada.
“A mensagem de Francisco sempre foi para nos unirmos, para estender a mão aos mais necessitados”, disse Agustin Hartridge, um advogado de 41 anos. “Essa vela que acendi é uma homenagem a tudo o que ele nos ensinou.”
Milei também reconheceu que suas diferenças políticas com o falecido pontífice “hoje parecem menores”, enquanto ele se preparava para decretar sete dias de luto nacional.
San Lorenzo se despede do Papa Francisco
O clube argentino San Lorenzo divulgou nesta segunda-feira (21) uma nota em homenagem ao Papa Francisco, torcedor declarado do time desde a infância. “Nunca foi só mais um. Sempre foi um dos nossos”, escreveu o clube.
Jorge Mario Bergoglio, que se tornou o primeiro papa latino-americano da história, carregou ao longo da vida o amor pelo “Ciclón”, apelido carinhoso do San Lorenzo. Ainda criança, ele frequentava o antigo estádio Gasómetro para ver o time campeão de 1946. Como padre e cardeal, participou de momentos importantes com torcedores. Já como pontífice, não escondia a paixão pelo clube, recebendo com frequência delegações azul-grenás no Vaticano, sempre com um sorriso no rosto. Ele era o sócio número 88.235.
“De Jorge Mario Bergoglio a Francisco, houve algo que jamais mudou: seu amor pelo Ciclón”, destacou o clube. “Hoje, tomados por uma profunda dor, dizemos: adeus, obrigado e até sempre! Estaremos juntos por toda a eternidade.”
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