O modesto túmulo do Papa Francisco atraiu filas imensas no primeiro dia de visitação pública em Roma neste domingo, um dia após cerca de 400 mil pessoas comparecerem a seu funeral e enterro.
Dezenas de milhares de fiéis lotaram a Basílica de Santa Maria Maior — local de descanso final de Francisco — em mais uma demonstração da popularidade do argentino, que faleceu na segunda-feira, aos 88 anos.
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Reformista enérgico e defensor dos mais pobres e vulneráveis, Francisco é creditado por revitalizar o apelo da Igreja Católica com sua postura aberta e acolhedora, um desafio considerável para quem vier a sucedê-lo.
Agora, todas as atenções se voltam para o conclave, a reunião secreta de cardeais que deve ser convocada nos próximos dias para eleger o novo pontífice.
Na manhã desta segunda-feira, os cardeais realizarão a quinta reunião geral desde a morte do papa, ocasião em que deverão definir a data para o início do conclave.
No domingo, a maioria deles juntou-se às multidões na Basílica de Santa Maria Maior para participar de uma cerimônia em homenagem ao pontífice.
“O que espero de seu sucessor é que continue o trabalho (de Francisco)”, disse o cardeal malinês Jean Zerbo, de 81 anos, a jornalistas do lado de fora da basílica.
Segundo ele, a Igreja precisa evitar divisões na escolha do novo líder.
“A mensagem que (Francisco) deixou ao mundo foi de abertura, e não de fechamento. De acolher a todos, especialmente os mais pobres”, afirmou.
O cardeal luxemburguês Jean-Claude Hollerich disse na semana passada que esperava que o conclave ocorresse em 5 ou 6 de maio — logo após o término dos nove dias de luto papal, que se encerram em 4 de maio.
Já o cardeal alemão Reinhard Marx afirmou a jornalistas no sábado que o conclave deverá durar apenas “alguns poucos dias”.
“Muito emocionante”
O funeral de Francisco foi realizado na Praça São Pedro, no Vaticano, sob o sol da primavera europeia, em uma cerimônia que mesclou solenidade e forte emoção para o primeiro papa latino-americano da história da Igreja.
Em seguida, ele foi sepultado em um nicho na Basílica de Santa Maria Maior, sua igreja favorita em Roma.
Uma única rosa branca, que, segundo a mídia vaticana, simbolizava a devoção de Francisco à santa francesa Teresa de Lisieux, foi colocada sobre o túmulo de pedra.
Algumas horas após a abertura da visitação, a grande basílica já estava lotada, com o público sendo periodicamente solicitado a manter silêncio pelos alto-falantes.
Até o final da tarde, ao menos 25 mil pessoas haviam passado pelo túmulo, de acordo com fontes policiais.
Entre os presentes estavam peregrinos e grupos de jovens católicos que haviam se planejado para acompanhar, no domingo, a canonização de Carlo Acutis como o primeiro santo millennial da Igreja — cerimônia adiada em razão da morte do papa.
De sexta-feira a domingo, também acontecia o “Jubileu dos Adolescentes”, um dos vários eventos que levam milhões de pessoas a Roma durante o ano santo da Igreja Católica.
Muitos dos que prestaram homenagem expressaram o desejo de que o próximo papa siga o exemplo de Francisco, especialmente diante dos conflitos globais e do avanço do populismo de extrema direita.
“Ele era muito gentil e humilde. Usava uma linguagem que os jovens conseguiam entender”, disse a peruana Tatiana Alva, de 49 anos, enxugando as lágrimas após visitar o túmulo junto com centenas de outros fiéis.
“Não acho que o próximo papa será igual, mas espero que tenha uma mente aberta e seja realista quanto aos desafios do mundo atual.”
O cardeal Marx afirmou que o debate sobre o novo papa está em aberto, acrescentando: “Não se trata de ser conservador ou progressista… O novo papa precisa ter uma visão universal.”
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Expectativa
O cardeal italiano Pietro Parolin — que foi secretário de Estado no papado de Francisco e é considerado um dos favoritos na sucessão — celebrou uma missa na manhã de domingo na Praça São Pedro, que reuniu 200 mil pessoas, segundo o Vaticano.
Somente cardeais com menos de 80 anos podem votar no conclave. Atualmente, são 135 cardeais aptos — a maioria nomeada pelo próprio Francisco.
“É emocionante ter um novo papa, saber qual caminho ele vai escolher para a Igreja nos próximos anos”, disse François Larbin, estudante francês de 21 anos, do lado de fora da Basílica de Santa Maria Maior.
Especialistas alertam que não se deve presumir que os cardeais escolherão alguém com o mesmo perfil de Francisco.
Ex-arcebispo de Buenos Aires e entusiasta do contato direto com os fiéis, Francisco tinha um perfil muito diferente de seu antecessor, Bento XVI, um teólogo alemão mais reservado e voltado ao estudo do que ao contato com as multidões.
Por sua vez, Bento XVI também representava uma mudança em relação a seu antecessor, João Paulo II, polonês, carismático, atlético e extremamente popular.
As reformas de Francisco despertaram a ira de muitos católicos conservadores, que agora esperam que o próximo papa volte a colocar o foco na doutrina tradicional.
Alguns cardeais admitiram sentir o peso da responsabilidade ao escolher o novo líder dos 1,4 bilhão de católicos do mundo.
“Sentimo-nos muito pequenos”, disse Hollerich na semana passada. “Temos que tomar decisões para toda a Igreja, então precisamos rezar muito por nós mesmos.”
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