O Papa Leão XIV destacou os desafios da inteligência artificial ao assumir o pontificado neste mês, reforçando a esperança dos líderes religiosos de influenciar uma tecnologia carregada de grandes expectativas e temores apocalípticos.
O papa foi citado por líderes evangélicos protestantes dos Estados Unidos, que publicaram na quarta-feira (21) uma carta aberta ao presidente Donald Trump, pedindo por uma “revolução da IA que avance com responsabilidade” e alertando para os “potenciais perigos”.
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Leão XIV disse aos cardeais ue escolheu seu nome papal em homenagem a Leão XIII (1878–1903), que “abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial”.
Hoje, “a Igreja oferece a todos o tesouro de sua doutrina social em resposta a outra revolução industrial e aos avanços no campo da inteligência artificial”, acrescentou.
A carta dos evangélicos, divulgada nesta quarta-feira, defende o desenvolvimento de “ferramentas poderosas de IA que ajudem a curar doenças e resolver problemas práticos”.
Mas também faz um alerta sobre “máquinas autônomas mais inteligentes que os humanos, que ninguém sabe como controlar” — ecoando a linguagem dos chamados “céticos da IA” no Vale do Silício.
Uma mudança de época
A ênfase de Leão na inteligência artificial vem após anos de manifestações em diferentes níveis da Igreja Católica, afirma Paolo Benanti, 51 anos, padre com doutorado em engenharia.
Benanti já assessorou tanto o Vaticano quanto o governo italiano em questões tecnológicas.
O falecido Papa Francisco abordou o tema da tecnologia e da IA em reflexões mais amplas sobre mudanças climáticas e sociedade.
Em um discurso em janeiro, ele mencionou “preocupações com direitos de propriedade intelectual, a segurança no emprego para milhões de pessoas, a necessidade de respeitar a privacidade e proteger o meio ambiente”, além da desinformação.
Esses desafios do século XXI inspiraram a afirmação feita por Francisco em 2015: “não vivemos tanto uma época de mudanças, mas uma mudança de época”, disse Benanti à AFP.
E Francisco fez questão de afirmar que o Vaticano não busca barrar o progresso.
“Veja a enorme melhoria que a IA pode proporcionar”, disse Benanti, citando como exemplo o auxílio em diagnósticos médicos em regiões com escassez de médicos.
“A IA pode ser uma ferramenta maravilhosa, mas também pode ser armada… isso pode acontecer com qualquer tipo de tecnologia, desde o martelo… até a energia nuclear”, acrescentou.
Algoritmos éticos
Francisco defendeu a criação de uma nova “algorética” — junção das palavras “algoritmo” e “ética” — para reger a inteligência artificial emergente.
Um conceito moral central nos documentos da Igreja sobre tecnologia é a defesa da “dignidade humana”.
Isso significa evitar “qualquer sistema que simplesmente não consiga reconhecer a singularidade do ser humano e respeitá-la”, disse Benanti.
Ele deu como exemplo hipotético um processo automatizado para decidir sobre pedidos de asilo “baseado em correlações com outros dados, e não com sua própria história única”.
Esse tipo de tecnologia traria à memória o Holocausto, “a página mais sombria do século passado”, quando “um único dado” — se a pessoa era judia ou não — podia condená-la, afirmou Benanti.
No mundo do trabalho, o padre espera ver uma “inovação em IA compatível com o ser humano”, com as pessoas “colocando algo único no processo”.
Os humanos devem “continuar em posição de gerar valor”, em vez de serem relegados a preencher lacunas em torno das capacidades das máquinas, afirmou.
Reduzir os riscos
Em janeiro do ano passado, Francisco disse que “máquinas altamente sofisticadas que atuam como suporte ao pensamento… podem ser usadas pela tentação primordial de querer ser como Deus sem Deus”.
“É muito perigoso quando indivíduos assumem para si mesmos poderes divinos, tomando decisões em nome do restante de nós”, concordou o reverendo Johnnie Moore, presidente do Congresso de Líderes Cristãos, nos Estados Unidos, e um dos signatários da carta aberta divulgada nesta quarta-feira.
Em vez de permitir que executivos de tecnologia e cientistas definam os rumos do futuro, os líderes deveriam “recorrer à sabedoria acumulada ao longo dos séculos pelo pensamento religioso” para ajudar a traçar o caminho, disse Moore à AFP por telefone, de Washington.
Enquanto o Papa Leão destacou os “novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho” trazidos pela inteligência artificial, os líderes evangélicos foram além.
Eles citaram uma frase de Sam Altman, CEO da OpenAI, dita em 2015: “A IA provavelmente levará ao fim do mundo — mas, enquanto isso, teremos grandes empresas”.
“A equação de risco atual é simplesmente alta demais para ser tolerável”, disse Moore. “Precisamos reduzir o risco para os seres humanos nesse processo.”
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