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Vida nas organizações Joaquim Santini

Lideranças que inauguram futuros: coragem, vínculos e pensamento complexo

Publicado 25/06/2025 • 17:34 | Atualizado há 18 horas

Foto de Joaquim Santini

Joaquim Santini

Pesquisador e palestrante internacional, diplomado em Psicologia Clínica Organizacional e mestre em Consulting and Coaching for Change no Insead ( european business school, na França), graduado e mestre em Engenharia Mecânica pela Unicamp. Fundador da EXO - Excelência Organizacional.

KEY POINTS

  • Ron Heifetz, é um dos principais teóricos da liderança adaptativa e professor em Harvard Kennedy School, definiu certa vez liderança como a arte de "desapontar as pessoas em um ritmo que elas consigam suportar".
  • Essa frase, aparentemente provocadora, esconde uma sabedoria poderosa: liderar não é agradar — é sustentar o desconforto do novo. Por isso, a verdadeira liderança não é heroica — é transformadora. E toda transformação fere expectativas antigas.
Lideranças que inauguram futuros: coragem, vínculos e pensamento complexo.

Lideranças que inauguram futuros: coragem, vínculos e pensamento complexo.

Pixabay.

Ron Heifetz, é um dos principais teóricos da liderança adaptativa e professor em Harvard Kennedy School, definiu certa vez liderança como a arte de "desapontar as pessoas em um ritmo que elas consigam suportar".

Essa frase, aparentemente provocadora, esconde uma sabedoria poderosa: liderar não é agradar — é sustentar o desconforto do novo. Por isso, a verdadeira liderança não é heroica — é transformadora. E toda transformação fere expectativas antigas.

A entrevista entre Charlie Curtis e Vicki Herrington, durante o Oxford Tea Talks, foi um sopro de lucidez em tempos de soluções fáceis para problemas complexos. Embora ancorada no setor policial, a conversa toca em dilemas que atravessam empresas, governos e movimentos sociais: como liderar mudanças que envolvem múltiplos atores, interesses em conflito e estruturas em crise?

O líder pós-tribal e a coragem de desaprender

Herrington propõe a figura do líder pós-tribal — aquele que supera as lealdades estreitas ao seu grupo de origem (a tribo organizacional) e se compromete com os resultados que atravessam fronteiras. É um líder que compreende que segurança pública não se resolve com polícia apenas, assim como desigualdade não se resolve só com filantropia ou inovação só com tecnologia.

Transformar a cultura institucional no Brasil exige mais do que discursos sobre inovação. Exige desconstruir o medo de cooperar, o vício em hierarquias e a confusão entre controle e liderança. A verdadeira liderança transformadora surge ao superarmos essa mentalidade, deixando de associar autoridade ao distanciamento e compreendendo que assumir riscos é um sinal de força, não de fraqueza.

Herrington alerta: a mudança começa por dentro. É preciso reconhecer os próprios vieses, praticar escuta profunda e reformular o papel da liderança como criadora de contextos — e não como fornecedora de respostas prontas. Como diz Charlie Curtis, a liderança do futuro será social, não apenas funcional. Será externa e interna. Será sobre alterar narrativas e redesenhar incentivos.

Integrando pensadores da complexidade e da subjetividade

O pensamento de Vicki Herrington dialoga com autores como Edgar Morin, ao reconhecer que os problemas da sociedade não são compartimentáveis — são interdependentes e incertos. A liderança exige o que Morin chamou de pensamento complexo: integrar, contextualizar, compreender a incerteza sem buscar reduzi-la a fórmulas.

Zygmunt Bauman também ressoa fortemente aqui. Vivemos em tempos líquidos, de estruturas frágeis e pertencimentos provisórios. O líder pós-tribal, como propõe Herrington, é justamente aquele que aceita essa fluidez e consegue construir sentido em meio ao colapso das antigas certezas.

Já René Kaës nos lembra que nenhuma liderança opera sozinha: toda posição de autoridade mobiliza alianças inconscientes, fantasias coletivas e pactos simbólicos. Mudar os modos de agir implica reconhecer os vínculos que nos sustentam — e os que nos aprisionam.

Eugène Enriquez, por sua vez, reforça que toda organização é atravessada por pulsões, desejos e defesas. Liderar transformações exige também enfrentar resistências psíquicas, mecanismos de negação e medos compartilhados.

É por isso que liderar é, em última instância, um exercício simbólico (***). Não se trata apenas de mudar organogramas, mas de intervir nos imaginários que moldam nossos modos de agir.

Da empresa à sociedade: a cultura da repetição

A entrevista oferece também um espelho incômodo para o mundo corporativo. Curtis aponta que empresas ainda alocam recursos para proteger modelos ultrapassados: lobismo, propaganda e recrutamento servindo à manutenção do status quo. Os incentivos são curtos: trimestre após trimestre, CEOs se veem cobrados a entregar metas em detrimento da reinvenção.

Mas há uma virada em curso. Organizações que ousam usar seu poder para criar o futuro — e não apenas sobreviver ao presente — estão se posicionando como protagonistas de seus setores. Investir em soluções coletivas, apoiar grupos transformadores e mudar as histórias que contamos sobre sucesso: tudo isso é parte da nova cartografia de poder.

Gerações Z e Alpha e AI: um divisor de águas na liderança

Não se trata apenas de uma nova geração — trata-se de um novo código cultural.

A ascensão das gerações Z e Alpha traz uma reconfiguração cultural que desafia os velhos modelos. Não é mais possível liderar a partir da autoridade vertical e do silêncio emocional. Essas gerações demandam coerência, horizontalidade, diversidade e propósito real — não como discurso, mas como prática diária.

Ao mesmo tempo, a Inteligência Artificial se impõe como novo agente no ecossistema organizacional. Isso não significa apenas mais tecnologia, mas sim uma mudança na forma como humanos e sistemas aprendem, decidem e constroem juntos. Liderar, nesse novo contexto, será também aprender a mediar relações entre humanos e agentes de AI — com ética, empatia e visão integradora.

Reencantar a cultura: a força simbólica das narrativas

Como mostram Morin e Kaës, a cultura não se muda apenas por decretos ou planos estratégicos — ela se transforma quando se reconfigura o tecido simbólico das instituições. E é nisso que narrativas exercem seu papel mais poderoso: moldam o imaginário coletivo.

Quando uma liderança afirma que o bem-estar emocional é central para o desempenho, ela não apenas define uma política — ela ressignifica o que é sucesso. Quando um CEO declara que quer ser o melhor para o setor, não apenas o melhor do setor, ele redesenha as fronteiras do que consideramos competitividade.

Narrativas são mais que comunicação: são infraestruturas invisíveis de sentido. E liderar, neste novo ciclo, será também aprender a redesenhar as perguntas. De “quanto posso extrair disso?” para “o que podemos criar juntos que ainda não existe?”

Lideranças que inauguram futuros: coragem, vínculos e pensamento complexo

A liderança que o futuro exige não se expressa em gestos heroicos ou figuras excepcionais. Como nos lembram Morin, Enriquez e Kaës, ela se revela na capacidade de sustentar a complexidade sem ceder ao simplismo, de suportar a ambiguidade sem recorrer ao autoritarismo, e de manter vínculos genuínos mesmo diante da divergência.

Em vez de heróis, precisamos de líderes conscientes de sua própria implicação nos sistemas que desejam transformar. Que compreendam, como Enriquez, que nenhuma mudança coletiva se sustenta sem enfrentar os desejos inconscientes de repetição. Que saibam, com Kaës, que liderar é lidar com pactos simbólicos, alianças invisíveis e fantasmas institucionais.

Mais que oferecer respostas prontas, o futuro exigirá líderes capazes de fazer boas perguntas. Que dialoguem com os códigos das novas gerações, integrem a IA com responsabilidade e usem seu poder não para preservar estruturas obsoletas, mas para inaugurar possibilidades inéditas.

Se o Brasil quiser atravessar seus desafios mais profundos — da desigualdade estrutural à crise ambiental — precisará formar líderes que não apenas ocupem cargos, mas que se disponham a redesenhar o sentido do coletivo e reencantar o possível.

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