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Mulheres têm mais escolaridade, mas seguem com menor renda e menos participação no mercado de trabalho, aponta IBGE
Publicado 11/10/2025 • 08:00 | Atualizado há 6 horas
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Publicado 11/10/2025 • 08:00 | Atualizado há 6 horas
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Antônio Cruz/Agência Brasil
Censo 2022 mostra que brasileiras seguem ganhando menos e com menor inserção no mercado formal.
Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta quinta-feira (9) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que as mulheres brasileiras, embora mais escolarizadas, continuam ganhando menos e ocupando menos postos de trabalho que os homens.
As mulheres são maioria no Brasil, representando 52% da população geral, mas, de acordo com o levantamento, elas representam 43,6% da força de trabalho. Quando a pesquisa foi realizada, 62,9% dos homens com mais de 14 anos estavam trabalhando, enquanto entre as mulheres esta proporção era de 44,9%.
Na percepção de Thalita Rocha, gerente de Pessoas e Comunicação na Actionline Brasil, não é que as mulheres não tenham interesse em trabalhar, e, sim, que o mercado não está adaptado à realidade delas. “Quando a empresa oferece ambientes seguros, políticas de equidade e oportunidades reais de crescimento, as mulheres aparecem, se destacam e permanecem”, declara.
Rocha acrescenta que essa menor participação feminina no trabalho também está relacionada a um “viés inconsciente, presente em decisões de recrutamento, promoção e definição salarial, que associa certos cargos ou competências a perfis predominantemente masculinos”.
Já Milene Dellatore, especialista em finanças e investimentos e diretora da MIDE Mesa Proprietária, argumenta que a mulher trabalha mais, só que parte desse trabalho não é formal, tampouco remunerado. “A mulher cuida da casa, dos filhos, dos pais, da rotina. Faz dupla ou tripla jornada, mas isso não entra nas estatísticas econômicas. Então parece que ela ‘não está trabalhando’, quando, na verdade, está sustentando o sistema inteiro por fora do mercado formal”, defende.
Sob esse aspecto, Luciana Pena Morgado, pesquisadora e professora na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), explica que o trabalho doméstico e o cuidado foram socialmente atribuído às mulheres por conta de uma divisão sexual do trabalho.
Muitas vezes as mulheres têm que lidar com a estabilidade financeira e o cuidado com a família. Em 2022, 49,1% dos lares brasileiros eram chefiados por mulheres. Em 10 estados, o percentual de mulheres responsáveis pela unidade doméstica foi maior que 50%: Pernambuco (53,9%), Sergipe (53,1%), Maranhão (53,0%), Amapá (52,9%), Ceará (52,6%), Rio de Janeiro (52,3%), Alagoas e Paraíba (51,7%), Bahia (51,0%) e Piauí (50,4%).
Dellatore cita ainda que tal contexto é, muitas vezes, chamado de ‘opção pessoal’, quando, na verdade, é uma falha estrutural. Rocha relata uma perspectiva semelhante, ela percebe que a maternidade, por exemplo, é tratada como entrave para as empresas e não como aspecto natural da vida.
“Hoje, o horário médio de funcionamento das creches públicas no Brasil é até às 16h ou 17h. Mas a jornada de trabalho da maioria das mulheres vai até 18h ou 19h. Ou seja, o sistema exige que ela trabalhe como se não tivesse filhos e que crie filhos como se não trabalhasse”, afirma Dellatore.
Apesar de terem mais estudo, as mulheres continuam recebendo menos. O rendimento médio mensal feminino foi de R$ 2.506, valor 19,6% inferior ao dos homens, que receberam R$ 3.115. A diferença aumenta entre os trabalhadores com ensino superior completo: enquanto os homens ganhavam R$ 7.347 em média, as mulheres recebiam R$ 4.591, cerca de 37,5% a menos.
O Censo também mostra que 28,9% das mulheres ocupadas têm diploma universitário, ante 17,3% dos homens. Nos níveis de instrução mais baixos, a presença masculina é predominante: 26,4% dos homens tinham o fundamental incompleto, contra 16,2% das mulheres.
Para Cristina Helena de Mello, professora de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), “não há justificativa moral ou econômico para que se pague menos para indivíduos que exercem a mesma função, têm o mesmo nível de escolaridade, os mesmos atributos e a mesma produtividade”. Outro fator importante, defende a gestora Thalita, é a sub-representação feminina em cargos de liderança, o que impacta diretamente as médias salariais, já que as posições mais bem remuneradas ainda são majoritariamente ocupadas por homens.
A disparidade de renda se agrava quando considerados recortes raciais. Trabalhadores de cor ou raça amarela registraram os maiores rendimentos (R$ 5.942 em média), seguidos por brancos (R$ 3.659). Pardos, pretos e indígenas tiveram ganhos menores: R$ 2.061, R$ 2.061 e R$ 1.653, respectivamente.
Entre os ocupados com ensino superior, a diferença é ainda mais expressiva: pessoas amarelas recebiam R$ 8.411, quase o dobro do valor pago a indígenas (R$ 3.799). Brancos ganhavam R$ 6.547, pardos R$ 4.559 e pretos R$ 4.175.
A pesquisadora Luciana relaciona a discrepância salarial entre raças como um resquício da cultura escravocrata do país e relembra que o Brasil foi o último país americano a abolir a escravidão.
A dependência financeira faz com que muitas mulheres permaneçam em relacionamentos abusivos. Conforme dados da 10ª Pesquisa Nacional de Violência Contra a Mulher, realizada pelo DataSenado em 2023, na opinião de 61% das brasileiras, ser dependente financeiramente do agressor leva uma mulher a não denunciar a violência na maioria das vezes.
O levantamento ainda mostra que ao se comparar a renda das mulheres que declaram já ter sofrido algum tipo de violência doméstica ou familiar provocada por homem, percebe-se que quanto menor a renda, maior a chance de ela ter sido agredida em algum momento da vida. Enquanto 35% das mulheres com até dois salários mínimos relatam casos de violência, esse patamar diminui
para 28% entre as mulheres que recebem de dois a seis salários mínimos e chega a 20% entre as que ganham mais de seis salários mínimos.
Considerando esses dados, a autonomia econômica é um dos caminhos para combater a violência contra as mulheres e dar dignidade para essas vítimas. “A dependência financeira é a corrente invisível que prende muitas mulheres a relacionamentos destrutivos”, afirma a especialista em finanças e investimentos Milene Dellatore. “Quando o Censo mostra que as mulheres ganham menos e têm menos espaço no mercado, está mostrando também porque elas têm menos liberdade para sair de onde não são respeitadas. A autonomia financeira é o primeiro passo da liberdade emocional”, finaliza.
As mulheres são maioria em apenas três dos dez grandes grupos de ocupação: profissionais das ciências e intelectuais (60,8%), trabalhadoras de apoio administrativo (64,9%) e trabalhadoras dos serviços e do comércio (58,9%). Em contrapartida, a presença feminina é mínima entre operadores de máquinas (7,4%) e membros das forças armadas, policiais e bombeiros (9,3%).
Por atividade, a predominância das mulheres é clara em áreas como serviços domésticos (93,1%), saúde humana e serviços sociais (77,1%) e educação (75,3%). Já setores como construção (3,6%), transporte e armazenagem (9,3%) e indústrias extrativas (14,4%) seguem majoritariamente masculinos.
Os resultados do Censo reforçam que, embora tenham avançado em escolaridade, as mulheres continuam enfrentando barreiras estruturais no mercado de trabalho brasileiro — marcadas por desigualdade salarial, menor inserção profissional e recortes de raça que ampliam ainda mais as disparidades.
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