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Quando o trabalho adoece: Brasil registra recorde em afastamentos por saúde mental

Publicado 18/09/2025 • 16:19 | Atualizado há 3 horas

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Saúde mental no trabalho

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No ano passado, o Brasil bateu recorde em afastamentos do trabalho por transtornos mentais e comportamentais. Foram 472.328 licenças médicas concedidas em 2024, segundo dados do INSS e do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho.

Esse número representa um crescimento de aproximadamente 68% em relação a 2023, quando foram registrados cerca de 280 mil a 290 mil casos pelos mesmos motivos.

Em perspectiva histórica, os afastamentos por transtornos mentais mais que dobraram em apenas dois anos. Em 2022, foram 201 mil. De lá para cá, houve um aumento de 134%.

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Os diagnósticos que mais aparecem são: ansiedade, episódios depressivos e depressão recorrente, além de reações ao estresse. Em 2024, particularmente, 141.414 pessoas foram afastadas por transtornos ansiosos com episódios depressivos; 113.604 por depressão; e 52.627 por depressão recorrente.

Outro dado preocupante: cerca de 64% dos afastamentos por causas emocionais são de trabalhadores do sexo feminino, especialmente na faixa etária de 35 a 49 anos.

Situação global: não somos exceção

O Brasil, embora em situação grave, reflete tendências vistas em outras partes do mundo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, globalmente, 15% da população economicamente ativa vive com algum transtorno mental. O custo estimado para essa verdadeira tragédia dos tempos modernos é de US$ 1 trilhão por ano em produtividade.

Levantamentos recentes de empresas de consultoria revelam que, entre países desenvolvidos, é comum empresas relatarem taxas altíssimas de risco de burnout. Por exemplo, um relatório do Boston Consulting Group (BCG) apontou que 48% dos trabalhadores em oito países estavam lidando com burnout no momento do levantamento.

O que leva a essa crise: além do estresse diário

Especialistas afirmam que o crescimento explosivo não se explica só por maior visibilidade ou diagnóstico, embora isso também contribua. Vários fatores estruturais estão envolvidos:

  • Pressão excessiva no trabalho: metas altas ou contraditórias, longas jornadas, falta de controle sobre prazos e processos.
  • Desequilíbrio entre vida pessoal e profissional, especialmente pesado para quem acumula tarefas domésticas, cuidado familiar e trabalho formal.
  • Estigma: medo de julgamento, discriminação ou perda de oportunidades ao revelar que se está com algum transtorno, o que leva a subnotificação e atraso no tratamento.
  • Lideranças despreparadas: muitos gestores ainda não foram treinados para reconhecer sinais iniciais e oferecer apoio.
  • Cultura corporativa que valoriza produtividade a qualquer custo, com pouco espaço para pausas, diálogo ou bem-estar emocional.

Vozes que alertam: especialistas e experiências vividas

“Entre os sinais de alerta estão fadiga constante, irritabilidade, queda de desempenho e dificuldades de concentração”, explica Isabela Dupin, médica especialista em saúde ocupacional e coordenadora da pós-graduação em Medicina do Trabalho da Afya Educação Médica, em São Paulo.

Ela reforça que a Medicina do Trabalho precisa ser parceira da empresa, “orientando gestores, implementando programas de prevenção e garantindo apoio aos colaboradores que apresentem sinais de esgotamento”.

O enfermeiro Lucas Bernardes, que viveu burnout severo após muitos anos de plantões hospitalares, relembra que a “sensação de ir para os plantões era de total desesperança. Estresse, insônia crônica, irritabilidade, dores musculares e cefaleia passaram a fazer parte do meu dia a dia”.

Para Maria Klien, psicóloga que utiliza cannabis medicinal em sua prática clínica, há uma demanda crescente por abordagens terapêuticas complementares. “A cannabis medicinal apresenta um potencial significativo no auxílio ao tratamento da ansiedade, depressão e sintomas do burnout, permitindo resultados satisfatórios no manejo dessas condições”, afirma.

Ela alerta, porém, que “o uso terapêutico da cannabis requer supervisão adequada, acompanhamento psicológico e médico especializado durante todo o tratamento”.

Um estudo do CRESM-Einstein – com líderes de RH, Saúde Ocupacional e Medicina do Trabalho – mostra que, mesmo com programas estruturados, muitos colaboradores ainda não se sentem apoiados. Cerca de 60% disseram sentir segurança psicológica para se expressar, mas 39% não sentem apoio da gestão para lidar com estresse.

O impacto visível: para empresas, economia e sociedade

Além do sofrimento individual, os custos são altos para empresas, para o sistema de previdência e para a sociedade, que lidam com vários fatores:

  • Perda de produtividade resultante de licenças, desempenho abaixo do ideal e retrabalho.
  • Aumento no absenteísmo (faltas, atrasos) e presenteísmo (quando se está presente, mas sem rendimento pleno).
  • Custos diretos com benefícios por incapacidade, despesas médicas, psicoterapia e intervenções de saúde mental.
  • Possível impacto sobre o PIB: alguns relatórios estimam que os afastamentos laborais relacionados à saúde ocupacional comprometem cerca de 4% do PIB nacional por ano no Brasil.
  • Riscos de rotatividade alta de pessoal, demissão de colaboradores valiosos e implicações para a marca empregadora.

Que medidas funcionam (e por onde começar)

Para virar o jogo, especialistas apontam caminhos que já mostram eficácia em organizações que levaram a sério o tema:

  1. Prevenção estrutural
    Incorporar riscos psicossociais — como estresse excessivo, sobrecarga mental, falta de controle — nas políticas de Segurança e Saúde no Trabalho (SST). Leis e normas trabalhistas (como a NR-01 no Brasil) estão sendo atualizadas para obrigar a identificação e gestão desses riscos.
  2. Capacitação de lideranças e de RH
    Treinar gestores para reconhecer sinais de alerta, dialogar com colaboradores em situação de desgaste e encaminhar adequadamente para suporte.
  3. Programas de apoio psicológico e terapias integrativas
    Psicoterapia, psiquiatria, intervenções de bem-estar como mindfulness, meditação, atividades de relaxamento; além de explorar alternativas regulamentadas, como o uso terapêutico da cannabis, sob supervisão.
  4. Estrutura para escuta e segurança psicológica
    Criar canais seguros para que colaboradores compartilhem suas dificuldades sem medo de retaliação. Rodas de conversa, grupos de apoio, espaços coletivos de escuta, entre outros.
  5. Equilíbrio de vida pessoal / trabalho
    Políticas de horário, pausas regulares, controle de carga de trabalho, respeito às folgas, fim da cultura de “disponibilidade total”.
  6. Monitoramento contínuo e avaliação de resultados
    Mensurar incidência de sintomas, afastamentos, feedbacks de clima organizacional; ajustar ações conforme os dados; manter o tema na agenda da alta liderança.

Um alerta final: agir não é opcional

Como mostra o levantamento institucional do CRESM e de observações médicas, estamos em um ponto de inflexão: o burnout deixou de ser apenas um termo popular; tornou-se causa de afastamentos, perda de vidas e comprometimento sociopolítico e econômico. A crise exige ação rápida, integrada — das empresas, do governo, das instituições de saúde — para que saúde mental deixe de ser “projeto extra” e passe a ser pilar central da cultura organizacional.

“A saúde mental precisa ser um pilar estratégico e não apenas um acessório, com participação ativa da alta gestão”, defende Luiz Zoldan, gerente médico do Espaço Einstein de Bem-Estar e Saúde Mental.

Se não houver mudança de rota, os próximos números poderão ser ainda piores — e o preço será pago mais uma vez pelo trabalhador, que — silenciosamente — vem carregando esse fardo.sofrendo, e pelas organizações que perdem (e muito) sem perceber.

Alexandre Hercules é editor-chefe da Brazil Health (www.brazilhealth.com)

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