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Carreira no auge e o relógio biológico: quando decidir sobre a maternidade?
Publicado 17/12/2025 • 18:25 | Atualizado há 23 horas
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Publicado 17/12/2025 • 18:25 | Atualizado há 23 horas
Pexels
Durante muitos anos, aprendemos, como médicas e como mulheres, que era possível adiar decisões pessoais sem grandes consequências. A carreira vinha primeiro: a estabilidade financeira, o amadurecimento emocional, o reconhecimento profissional. A maternidade podia esperar. E, de fato, para muitas de nós, esperar fez sentido.
Vivemos em uma geração que conquistou espaço, autonomia e voz. Chegar aos 30 e poucos anos ou aos 40 com uma carreira sólida é motivo de orgulho. É o resultado de escolhas conscientes, muito estudo e renúncias. O problema é que o corpo feminino não evoluiu no mesmo ritmo da sociedade. O relógio biológico não acompanha promoções, metas alcançadas ou agendas cheias. Nós mesmas vivemos essa dicotomia de maneiras diferentes. Em comum, temos a medicina, a dedicação à profissão e a experiência íntima das consequências dessas escolhas.
Uma de nós chegou aos 42 anos sem ter colocado a maternidade como prioridade. Não era sonho, não era plano. A carreira ocupava o centro da vida e fazia sentido naquele momento. Só que o tempo passou, os contextos mudaram, o desejo apareceu. Junto dele, vieram diagnósticos como menopausa precoce, endometriose e a necessidade de reposição hormonal. Hoje, a reflexão não vem carregada de arrependimento, mas de lucidez: talvez a decisão de não pensar sobre fertilidade antes, mesmo tendo acesso à informação e aos recursos, merecesse ter sido tomada com mais consciência.
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A outra viveu o caminho oposto. A maternidade nunca foi um desejo intenso, mas o medo de que o tempo inviabilizasse essa possibilidade falou mais alto, especialmente depois da primeira perda. A decisão veio acompanhada de inseguranças e da tentativa, muito comum entre mulheres, de equilibrar tudo. A realidade mostrou algo diferente: não existe equilíbrio perfeito entre carreira e maternidade. Existem fases.
Em algumas, os filhos exigem mais. Em outras, o trabalho ocupa quase tudo. E aceitar essa imperfeição é fundamental para atravessar a maternidade sem culpa excessiva e sem a sensação constante de falha.
O ponto central é que a maternidade, seja para vivê-la ou para escolher não vivê-la, precisa ser encarada com carinho e responsabilidade. Adiar é uma escolha legítima. Ter filhos cedo também. Não ter filhos, igualmente. Mas ignorar o impacto do tempo sobre a fertilidade não é liberdade; é falta de informação aplicada à própria vida.
Como médicas, sabemos que o relógio biológico é implacável. Ele não deve ser culpado nem romantizado. Ele simplesmente existe. E, quanto mais tarde essa reflexão acontece, menores tendem a ser as possibilidades. Por isso, falar sobre congelamento de óvulos, planejamento reprodutivo e acompanhamento ginecológico individualizado não é alarmismo; é cuidado e liberdade para escrever a própria história sem arrependimentos.
Hoje, falamos com mulheres e para mulheres que têm a carreira como porto seguro, que se sentem no auge da maturidade profissional e emocional, mas percebem que o tempo começa a impor novas perguntas. Não para pressionar decisões, mas para estimular reflexões que muitas vezes ficam para depois, até que o depois chega.
Pensar sobre maternidade não significa abrir mão da carreira, mas renegociar a dedicação integral a ela. Significa ampliar o repertório de escolhas. Porque, no fim, a verdadeira autonomia é decidir com consciência e não descobrir, tarde demais, que a decisão já foi tomada pelo tempo.
Ana Carolina Massarotto (CRM 140.915 | RQE 85.445) e Isabela Simionatto (CRM 162.975 | RQE 76.990) são ginecologistas e obstetras.
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