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UP MarKet Dani Rudz

Semanas de moda internacionais: o que de fato vimos na estreia dos novos estilistas

Publicado 11/10/2025 • 10:00 | Atualizado há 4 dias

Foto de Dani Rudz

Dani Rudz

Dani Rudz é comunicadora, criadora de conteúdo, consultora de diversidade corporal e vivências raciais, palestrante, educadora e especialista em moda inclusiva.  Comentarista especialista no Times Brasil - Licenciado CNBC falando ao vivo de Mercado de Luxo e Lifestyle, todas as 6ª feiras. Membro Forbes BLK.

Divulgação

Milão e Paris SS26 foi uma temporada dominada por estreias de diretores criativos. A moda parece estar repensando seu lugar: menos espetáculo ostentatório, mais discurso interno, mais revisão do arquivo, mais usabilidade, mas será que sem abandonar a identidade das marcas?

Muitas estreias nessa temporada:

  1. Matthieu Blazy em Chanel
  2. Jonathan Anderson em Dior
  3. Pierpaolo Piciolli em Balenciaga
  4. Jack McCollough & Lazaro Hernandez em Loewe
  5. Miguel Castro Freitas em Mugler
  6. Alessandro Michelli em Valentino
  7. Demna Gvasalia em Gucci

E elas aconteceram sob forte pressão financeira. Expectativa elevada, comparações com o passado de cada casa e um cenário econômico incerto com variações cambiais, desaceleração de mercados, exigência crescente de legitimidade artística e ambiental e queda dos números.

Fiz uma analise da temporada e de alguns desfiles que surpreenderam e que deixaram a desejar.

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Chanel — Matthieu Blazy

  • Primeira coleção de Blazy como diretor artístico da Chanel para SS26.
  • Blazy trouxe uma Chanel completamente diferente do que se vê e se espera, na minha opinião. Pincelou alguns pequenos códigos da marca com reinterpretações das Camélias por exemplo, mas que deixou a marca sem identidade. O show foi visualmente imponente mas muito focado em pecas casuais e mais básicas. Libertou a silhueta: calças mais longas, cortes “slouchy”, tweed re-imaginado, deconstruções, linhas retas, muito overized, uma marca mais fluída, fato, mas que pra mim nao reflete o espírito Chanel.
  • Jonathan Anderson assumiu todas as linhas da Dior: feminina, masculina, acessórios e couture e esta foi sua primeira coleção feminina SS26 em Paris.
  • Apresentou roupas mais casuais, informais e pecas mais comerciais e cotidianas, que dividiram a passarela com releituras de looks da maison que me causaram muita estranhesa, tamanho excesso de criatividade forçada. O Tailleur Bar ficou quase que irreconhecivel.

Balenciaga — Pierpaolo Piccioli

  • Piccioli assume Balenciaga após Demna sair para Gucci. SS26 é sua primeira pronta-entrega para a marca.
  • Ele remexeu no arquivo de Cristóbal Balenciaga, trouxe um DNA muito presente e característico de Demna, principalmente nos óculos, mas com um ar de Valentino. Volumes, alta tecnologia, mas uma reposição bem feita. Apenas. Me senti confusa tentando decifrar os novos códigos da marca.

Valentino - Alessandro Michelli

  • Valentino também marcou presença com grandes expectativas para o novo capítulo com Alessandro Michele que veio da Gucci. Eu vi poesia visual, cores saturadas, mix de texturas, referências históricas, romantismo, camadas, bordados, um olhar mais político e narrativo em algumas peças. Muito chique. Mutio bonito, mas muito vintage. Consegui identificar mais fortemente o DNA Valentino, mas vi muito da Gucci ali também.

Miu Miu

  • Vimos um workwear que pesou na mão, aventais exageradamente presentes, sobreposições, tops de tricô, polos oversized, uma coleção entre o literal e o mundo real sem se definir. Uma busca forcada de identidade sem direção.

Prada, Armani, Dolce & Gabbana

Milão SS26 trouxe contribuições essenciais para entender o que se está desenhando no luxo europeu.

  • Prada: Sob Miuccia Prada & Raf Simons focou no couro como sua matéria prima principal;
  • Armani: A última coleção de Giorgio Armani, antes de sua morte mantiveram a identidade de elegância clássica, drapeados, uso de tecidos leves, fluidez, valorização de cor cinza, tons neutros e pastel, brilho, metálicos, tudo muito elegante, clássico, de bom gosto, preservando o DNA da marca. Entregou direcionamento criativo, econômico e financeiro alinhados para bons negócios. Solidez.
  • Dolce & Gabbana: Continuou com sua assinatura de exuberância e costura artesanal, manteve a sua mulher sexy e trouxe os pijamas como protagonistas para a passarela.

Tendências e reflexões: jeans, casual, tecidos

Houve um uso mais intenso do jeans, de tecidos simples e peças casuais nesta temporada. Uma inclinação clara a misturar o luxo com o cotidiano. Seria reflexo da crise mundial? Ou resultado da pressão dos números, que empurra as marcas para coleções mais vendáveis e comerciais?

O risco de que as “peças comerciais” dominem demais, levando à diluição das identidades, circula forte pelos bastidores.

A formalidade cedeu lugar ao conforto — em alguns casos, à fluidez exagerada. E as bolsas abertas tornaram-se a nova fixação das maisons.

A impressão que fica desta temporada é que o controle criativo das marcas está mais na caneta dos executivos do que nos pincéis dos diretores criativos. A dança das cadeiras trouxe coleções contidas, apreensivas e tensas, voltadas para aumentar vendas, esquecendo o DNA de marca e a liberdade criativa que sempre surpreendiam a cada nova estação.

Resta saber se essas mudanças serão positivas a longo prazo. Em tempos de queda certa à vista, as marcas internacionais de luxo parecem ter optado por um tombo menor — mais controlado e com menos prejuízo.

A mudança de direção criativa soa hoje como um detalhe dentro de um road map conservador, com cintos apertados e ousadia suspensa ao menos pelas próximas temporadas.

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