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Na Trilha da Liderança Lucas borges

Liderar em um mundo imprevisível: a visão de Sylvia Coutinho

Publicado 24/06/2025 • 17:35 | Atualizado há 1 dia

Foto de Lucas Borges

Lucas Borges

Pesquisador e financista

É financista e membro ativo da comunidade de negócios, com atuação voltada à liderança, transformação organizacional e políticas públicas. Participa de fóruns estratégicos ligados ao agronegócio, à inovação e à aplicação de inteligência artificial no mundo corporativo. Integra o Comitê de Empresas Familiares do Insper e o Harvard Alumni Club of Brazil. Nesta coluna, acompanha os caminhos e os bastidores da liderança.

Arquivo Pessoal

Os líderes de hoje buscam equilibrar performance com automação, sem perder o lado humano.
Para entender o que há de mais relevante, prático e inspirador no universo da liderança, a cada semana trarei reflexões, aprendizados e conversas com quem já esteve (ou ainda está) no centro das decisões que moldam negócios, pessoas e futuros.

Hoje, conversamos com Sylvia Brasil Coutinho, ex-CEO do UBS para o Brasil e América Latina. Com passagens pelo Citi e HSBC, Sylvia chegou à presidência do UBS, cargo que deixou recentemente após uma transição planejada. Longe de querer parar, integra os conselhos da Cosan e da Edenred, além de se dedicar a outros projetos.

Sylvia, você deixou a presidência do UBS e foi uma das poucas mulheres a chegar ao topo do sistema financeiro. O que mudou desde que você começou?

Fui a primeira mulher a ser CEO de um banco internacional no Brasil, e acho que a mais longeva, foram onze anos nessa posição. Comecei minha carreira em um tempo muito mais desafiador. Hoje isso é diferente. Houve um despertar para a importância da diversidade, e de ter mais mulheres em posições de liderança, mas nunca podemos atropelar a meritocracia. O que precisamos é eliminar as barreiras ao talento, criando possibilidades para todos que tenham vontade de vencer.

Na época do HSBC, implementei uma gestão voltada para a valorização da diversidade, quando pouco se falava disso. Havia no Brasil muito preconceito com idade, por exemplo. Trouxemos um grupo grande de estagiários negros. Provavelmente fomos um dos primeiros bancos no Brasil a fazer esse tipo de iniciativa.

Indo nessa linha, o que você acha da educação brasileira na formação de novos talentos?
Nossa educação pública é uma grande barreira, me dá muita pena o potencial humano desperdiçado no nosso país. A criança precisa ser estimulada desde a primeira infância. É necessário mudar a metodologia, como fez o Ceará. Eles não gastaram mais, apenas implantaram novos processos de gestão e acompanhamento das crianças e dos professores, e tiveram consistência ao longo dos anos.
Pensando que o elemento humano é a principal “matéria prima” de um país, precisamos resolver esse dever de casa o quanto antes.

A IA, nesse contexto, pode ser uma aliada. Acredito que ela pode se tornar um professor de alto nível com acesso universal, ajudando a fechar parte deste gap. Mas, claro, precisamos de infraestrutura.
Do lado do setor privado, vamos ter que encontrar formas de ajudar os jovens que estão entrando no mercado de trabalho, pois IA deve substituir a necessidade de funcionários juniors, e estagiários. Estamos preparando pessoas para o mundo do trabalho e temos essa responsabilidade.

Acredito que a IA também irá empoderar os profissionais mais velhos, pois será de fácil adaptação e interação, o que nunca aconteceu antes. Profissionais mais maduros têm um maior repertório de palavras e um maior poder analítico. Pode ser mais fácil para quem já está no mercado se adaptar do que para quem está começando. O desafio será atrair e treinar os jovens e, ao mesmo tempo, engajar os mais velhos.

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Como você acredita que a IA está mudando o papel do CEO?
Qualquer CEO hoje entende a importância da IA. Mas o CEO diferenciado é aquele que enxerga o futuro e entende como as coisas vão caminhar e posiciona sua empresa.

Isso entra no topo da organização. O executivo precisa parar, estudar e entender. Fiz uma imersão no Insead, meus colegas eram executivos sêniors, mas na sua maioria CFOs de grandes empresas. Tínhamos 3 professores incríveis, e “abrimos o capô da IA”, colocando a mão na graxa, o que eu queria fazer, até para entender os aspectos tecnológicos mais a fundo.  Se eu já achava que a IA seria uma revolução nas empresas, voltei com mais certeza disso ainda, e vai ser muito rápido creio eu. Os CEOs precisam entender como essa transformação pode melhorar suas operações de ponta a ponta, como afetará o mercado e os concorrentes, e como ele deve se posicionar.

É fundamental ter o know-how para pilotar esse novo avião, com os instrumentos certos na cabine. Para voar mais alto, é preciso voltar para a cadeira de estudante.

Você atuou em um banco internacional. A Europa de alguma forma está à frente no ambiente empresarial ou em tecnologia?
O nível de matemática na Europa é muito forte. A maioria dos derivativos, por exemplo, foi criada por franceses. A França tem um trunfo gigante em IA, mas o ambiente de negócios não é tão dinâmico. A Europa vai precisar se reinventar, e já está começando. Estão se perguntando, por exemplo, como rever o ambiente regulatório para turbinar o mercado de capitais e financiar a adaptação das empresas europeias a esse incrível mundo novo. 

Enquanto isso, a Ásia está a mil por hora nessa tecnologia. Os EUA, nem se fala. Se você não se preparar agora, vai ficar muito para trás depois. Existe uma corrida acontecendo e vai ser interessante voltarmos a ter essa conversa daqui a cinco anos.

Você também atua no agronegócio. Acha que o Brasil pode ter uma oportunidade diante da crise entre Oriente e Ocidente?
Com certeza. Precisamos nos manter neutros e tirar vantagem da nossa geografia. O Brasil, que antes era visto como mercado emergente, hoje passa a ser um player estratégico, especialmente na questão de segurança alimentar e energética. Carbono, regeneração de florestas, produção agrícola sustentável. Tudo isso entra na equação. E o mundo precisa de nós.

O produto agrícola, no fundo, também é conversão de água, e temos isso em abundância. A nossa capacidade produtiva é incrível. O mundo precisa olhar para o Brasil não como concorrente, mas como parceiro.

O que você espera da COP 30?
A COP 30 vai mostrar muitas facetas do Brasil. Uma das grandes vocações do país é o agronegócio e não dá para falar em segurança alimentar no mundo sem falar do agro Brasileiro.
A China é um grande produtor, mas consome tudo o que produz. Já o Brasil é o único com potencial de exportar em grande escala.

E mais: ainda podemos dobrar a produção sem derrubar uma árvore. Somos estratégicos para o mundo, em segurança alimentar e energia verde. Nosso grande desafio é “o custo Brasil” e nossa falta de infraestrutura. A COP será uma vitrine para mostrar ao mundo do que o agro brasileiro é capaz. Tenho confiança no trabalho do Roberto Rodrigues (ex-ministro da Agricultura), que é meu amigo querido e vai representar o setor muito bem. Essa, espero, será a COP da implementação.

A IA pode ser uma aliada do pequeno empresário?
Sem dúvida. Hoje, é possível montar um board virtual com IA. Uma pequena empresa pode criar agentes como diretores de compliance, jurídico, investimentos, e colocar todos para interagir. Olha essa possibilidade: você conversa com um conselho virtual de altíssimo nível. Isso gera uma eficiência enorme e reduz significativamente os custos.

Pode empoderar tanto a escola quanto o pequeno empreendedor. Sou muito otimista. Ela pode ajudar a fechar muitos gaps estruturais.

Uma mensagem para o leitor?
Estamos em um momento de pensar de forma mais comunitária. A IA, nesse sentido, pode potencializar e espelhar esse propósito.

E o seu legado?
Meu maior legado? Meus dois filhos. São ótimas pessoas, bem-intencionadas e com uma visão incrível do mundo. Olhando o macro, também acredito na entrega para o coletivo. Minha fazenda, por exemplo, é um pólo ecológico. Amo a natureza, os animais…

Sempre pensei que aquilo que você faz para o pequeno, serve também para o grande. Minha gestão seguiu esse princípio. Gosto de retribuir à sociedade e ao meio ambiente. Aliás, talvez o legado seja justamente isso: ser útil para a sociedade, com um viés especial para a natureza. Não é à toa que me formei em agronomia. E não é à toa que me chamo Sylvia Brasil. O meu pai me deu esse nome em homenagem ao país.

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