Aquisições e cisões redesenham setor de alimentos e consumo global; entenda como

Para alcançar novos mercados e ganhar escala, grandes empresas globais seguem apostando em movimentos estratégicos como aquisições e cisões. Em 2025, esse redesenho corporativo ficou evidente tanto em operações bilionárias de compra quanto na separação de divisões consideradas menos estratégicas dentro de grandes conglomerados.

Um dos casos que mais chamou atenção ocorreu em julho de 2025, quando o grupo italiano Ferrero, dono de marcas como Ferrero Rocher e Nutella, adquiriu a americana Kellogg, fabricante dos sucrilhos, por cerca de 3 bilhões de dólares. A operação reforçou a estratégia de crescimento por meio de aquisições, ampliando presença geográfica e portfólio de produtos.

Na direção oposta, outras companhias optaram por se separar para otimizar operações e ganhar foco. Em setembro, a cisão entre Kraft e Heinz marcou o setor de alimentos e acabou frustrando expectativas de investidores como Warren Buffett. Logo depois, a Unilever anunciou a separação de sua divisão de sorvetes, um movimento visto pelo mercado como uma tentativa de destravar valor e aumentar a eficiência operacional. Em mais um conteúdo Originais Times – Exclusivo CNBC, veja como essa cisão ocorreu.

Segundo Marcos Pielucci, professor da FIA Business School, do ponto de vista dos investidores, essas separações permitem mais foco estratégico, decisões mais rápidas e melhor alocação de capital. Ao deixar de competir internamente por investimentos, cada unidade passa a ter maior autonomia para ajustar portfólio, expandir mercados e responder às demandas específicas do seu negócio.

No caso da Unilever, a divisão de sorvetes passou a operar de forma independente sob o nome de Magnum Ice Cream Company. O novo grupo reúne marcas globais como Ben & Jerry’s, Cornetto e Kibon, conhecida como Walls ou Olá em outros países. A empresa passa a atuar a partir dos Países Baixos, com ações listadas em Amsterdã, Londres e Nova Iorque. Inicialmente, a Unilever manterá uma participação minoritária inferior a 20%, com a intenção de vender os papéis ao longo do tempo.

A separação também atende às particularidades do negócio de sorvetes, que exige investimentos específicos, como a cadeia de frio e o planejamento para lidar com a forte sazonalidade da demanda. A expectativa da Magnum Ice Cream Company é crescer entre 3% e 5% ao ano em vendas a partir de 2026, reduzir custos e alcançar um fluxo de caixa livre entre 800 milhões e 1 bilhão de euros em 2028 e 2029.

Além do foco financeiro, a nova companhia pretende acelerar a inovação, com produtos de menor teor de açúcar, novos sabores e expansão em mercados emergentes, como o Brasil. O país tem relevância estratégica, especialmente por meio da Kibon, marca presente desde os anos 1940 e incorporada ao grupo em 1997.

Antes da cisão, a Unilever reunia cerca de 400 marcas distribuídas entre alimentos, beleza, limpeza e cuidados pessoais, além dos sorvetes. Cada segmento representava aproximadamente 20% dos negócios, mas a sobremesa gelada tinha a menor participação e um histórico de crescimento mais irregular, apesar de ter avançado quase 6% no primeiro semestre de 2025, acima da média do grupo.

Com a separação, a Unilever passa a concentrar esforços em alimentos, beleza e limpeza, segmentos que atendem mais de 3 bilhões de consumidores diariamente em mais de 190 países. Fundada oficialmente em 1930, a companhia nasceu da fusão dos negócios de sabão e margarina dos irmãos Lever com os empreendimentos de Jürgens e Van der Berg, e desde então cresceu principalmente por meio de aquisições, estratégia que agora também redefine o futuro dos sorvetes dentro do grupo.

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Márcio Donizete

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