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Setor de alimentação sofre com pressão dos juros altos; empresários não conseguem pagar dívidas

Publicado 23/08/2025 • 17:28 | Atualizado há 5 horas

Agência DC News

KEY POINTS

  • Num cenário em que a taxa básica de juros, Selic, segue em 15% anuais, empresas do segmento da alimentação, em especial aquelas que não são parte de uma rede ou possuem capital estrangeiro, tem encontrado dificuldades para quitar suas dívidas.
  • A pressão também é vista na própria expectativa em relação à economia, que estava, em julho, 4,1% menor que um ano antes, conforme a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Setor de bares e restaurantes tem vendas em abril, diz Abrasel-Stone.

Restaurantes podem ficar mais caros.

Pexels.

Num cenário em que a taxa básica de juros (Selic) permanece em 15% ao ano, empresas do setor de alimentação, sobretudo aquelas que não integram grandes redes ou não contam com capital estrangeiro, têm enfrentado dificuldades para quitar dívidas.

O impacto pode ser medido pelo número de CNPJs inadimplentes no Brasil até maio: 7,7 milhões de empresas negativadas, segundo o mais recente Indicador de Inadimplência das Empresas, da Serasa Experian. “Empresas com maior alavancagem ou forte dependência de capital de terceiros sofreram mais”, avalia o economista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos.

A pressão se reflete também na confiança dos empresários. Em julho, a expectativa em relação à economia estava 4,1% abaixo do registrado um ano antes, de acordo com levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Para o economista da Ouro Preto Investimentos, a situação dos empresários, sobretudo os de pequeno porte no ramo alimentício, é semelhante em todo o país: há uma desaceleração da demanda, enquanto o custo da dívida e da operação segue em alta. “Seja pela pressão no resultado financeiro, ou pela dificuldade em rolar dívidas com custo viável, esses empresários se sentem estrangulados”, avaliou.

Lanchonetes acumulam dívidas

O impacto é sentido na prática por Pedro Henrique Facchini, dono da rede de hamburguerias Sliders, com duas unidades nos Jardins e na Vila Olímpia, em São Paulo. Desde o fim da pandemia, em maio de 2022, o empresário carrega uma dívida de R$ 500 mil.

As lanchonetes faturam cerca de R$ 300 mil por mês, com a venda de aproximadamente 20 mil sanduíches. Parte do endividamento veio de um empréstimo de R$ 180 mil pelo Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), com taxa de juros equivalente a Selic + 6%. À época, a Selic estava em 12,75% ao ano (1,03% ao mês).

Hoje, com a dívida ainda em aberto, Facchini calcula que já desembolsou cerca de R$ 300 mil em pagamentos. “O juro efetivo, hoje, é de 21% ao ano. O ciclo atual é muito desfavorável para os negócios”, disse. Para manter a operação, já recorreu a refinanciamentos e novos empréstimos. “Infelizmente, às vezes é necessário usar o crédito. Empresário que não tem uma dívida no banco, não é empresário”, afirmou.

Além dos juros elevados, Facchini cita o descompasso entre prazos de fornecedores e recebíveis como outro entrave. “Preciso pagar a carne em até 14 dias, mas só recebo os pagamentos do delivery no cartão em 30 dias”, explicou.

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A margem do setor, em geral, é baixa. Um restaurante bem administrado tem margem de 15%. Se eu antecipo meus recebíveis, já perco 2% desse lucro”, afirmou Facchini. Segundo ele, os ganhos líquidos no primeiro semestre ficaram em 11,2% do faturamento total.

Em julho, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 15% ao ano, encerrando um ciclo de alta iniciado em setembro do ano passado, quando a taxa estava em 10,75%.

Especialistas lembram, porém, que a Selic funciona como referência: os juros cobrados pelos bancos são muito superiores, já que aplicam taxas mensais que, acumuladas, ultrapassam o piso anual definido pelo BC. No acumulado de 2025, o crédito para capital de giro das empresas ficou 11,9% mais caro no setor privado, de acordo com o mais recente Relatório de Política Monetária (março de 2025). Em 12 meses, a alta chegou a 24,2%.

Menos público

A expectativa do Comitê de Política Monetária (Copom) para a evolução da concessão de crédito em 2025 foi revisada de 9,6% para 7,7%. No ano passado, a oferta de crédito havia avançado 11,5%, alcançando R$ 6,4 trilhões.

Segundo o BC, as projeções mais modestas refletem o cenário de juros elevados, menor crescimento da atividade econômica e arrefecimento do mercado de trabalho, em um contexto de alto endividamento e comprometimento da renda das famílias.

Esse ambiente já impacta diretamente os negócios de alimentação. O economista Gabriel Mollo, analista do Banco Daycoval, aponta que a retração do consumo está atrelada à pressão sobre o orçamento doméstico. “Há uma desaceleração nas vendas, já que o consumidor tende a postergar compras, especialmente bens de maior valor ou financiados. Se a Selic voltar a cair, ainda que de forma mais lenta, deve haver uma recuperação gradual do consumo”, afirmou.

Mesas vazias

Para Juliana Duarte, proprietária do restaurante Gouveia, na rua Peixoto Gomide, região da Paulista, o impacto é sentido na queda de clientes. Segundo ela, a inadimplência das famílias se traduz em mesas vazias. Dados da Fecomercio-SP confirmam: em julho, a inadimplência atingiu 22,1% dos lares paulistas, ante 21,6% em junho e 19,9% há um ano.

E a primeira coisa que eles cancelam é o restaurante”, disse Juliana, que calcula uma redução de 30% na frequência mensal desde maio. Com faturamento anual de R$ 2 milhões, o Gouveia — fundado em 1944 e administrado pela quinta geração da família — comporta até 140 pessoas e tem como carro-chefe os almoços de comida brasileira.

A empresária relata ter contraído dois empréstimos, que somam R$ 250 mil, apenas para cobrir um mês de capital de giro. O primeiro, em agosto de 2024, foi contratado quando a Selic ainda estava em 10,5% ao ano (0,9% ao mês), último patamar antes do início do ciclo de alta. Já o segundo, em janeiro de 2025, saiu “muito mais caro”, refletindo a escalada dos juros.

No mês passado, Juliana desistiu de contratar uma nova linha de R$ 100 mil após constatar que, para seu perfil, o custo do capital de giro havia subido entre 25% e 30% em relação ao ano anterior. “Não acreditei”, afirmou. O recurso seria usado para reforçar os serviços de fim de ano, investir em maquinário e ampliar o delivery — planos agora adiados para 2026.

Com clientes também endividados e menor liquidez em caixa, a solução encontrada foi reduzir o capital de giro, suspender investimentos e evitar novas dívidas até que a expectativa de queda nos juros se concretize, o que economistas projetam apenas para o próximo ano. “Às vezes, num momento como esse, é melhor quitar as dívidas com um bem ou com a poupança”, concluiu.

Inadimplência alta

De acordo com dados do Serasa Experian, o número de empresas inadimplentes no Brasil passou de 6,9 milhões em julho de 2024 para 7,7 milhões em maio deste ano, o que representa uma alta de 11,6% em dez meses. Atualmente, a inadimplência atinge 32,8% das companhias em atividade no país — praticamente um terço do total.

O valor consolidado das dívidas chegou a R$ 182,4 bilhões, o maior já registrado desde o início da série histórica do Indicador de Inadimplência das Empresas.

Para a economista Camila Abdelmalack, da Serasa, a decisão do Banco Central de manter a Selic em 15%reflete o compromisso com o tripé macroeconômico”. Ela pondera, no entanto, que esse patamar de juros impõe custos significativos ao setor produtivo, especialmente às micro e pequenas empresas.

Segundo Abdelmalack, as sucessivas altas da Selic e sua manutenção, confirmada na última reunião do Copom, têm como objetivo controlar a inflação e preservar o poder de compra. Mas o efeito colateral é a pressão sobre as empresas mais dependentes de crédito.

É comum que as companhias busquem empréstimos em momentos de juros altos com economia aquecida, mas depois enfrentem dificuldades quando os períodos de alavancagem são sucedidos por ciclos de elevação dos juros, como ocorreu nos últimos meses”, explicou.

O resultado, afirma, é o comprometimento do fluxo de pagamentos e da estrutura de custos. Para lidar com o cenário, a recomendação é renegociar dívidas, fortalecer o caixa, ajustar planos e adequar a demanda, de modo a estar preparado para um novo ciclo de queda dos juros e retomada do crescimento.

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