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Huawei vira ‘faz-tudo’ da IA na China e amplia império para além das telecomunicações

Publicado 21/07/2025 • 08:36 | Atualizado há 7 horas

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Redação CNBC

KEY POINTS

  • Apesar de ter sido duramente afetada por anos de restrições comerciais impostas pelos EUA, a Huawei surgiu discretamente como uma das principais concorrentes no cenário da IA no país.
  • A empresa, sediada em Shenzhen, não apenas parece representar a resposta de Pequim à queridinha americana dos chips de IA, a Nvidia, como também foi uma das primeiras a monetizar modelos de inteligência artificial em aplicações industriais.
  • “A Huawei foi forçada a mudar e expandir seu foco de negócios ao longo da última década… devido a uma variedade de pressões externas sobre a empresa”, disse um especialista.
Estande da Huawei no MWC Barcelona 2025.

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Estande da Huawei no MWC Barcelona 2025.

Apesar de ter sido duramente afetada por anos de restrições comerciais impostas pelos Estados Unidos, a gigante chinesa de telecomunicações Huawei surgiu discretamente como uma das principais concorrentes no cenário da inteligência artificial no país.

A empresa sediada em Shenzhen não apenas parece representar a resposta de Pequim à queridinha americana dos chips de IA, a Nvidia, como também foi uma das primeiras a monetizar modelos de inteligência artificial em aplicações industriais.

“A Huawei foi forçada a mudar e expandir seu foco de negócios ao longo da última década… devido a uma variedade de pressões externas sobre a empresa”, disse Paul Triolo, sócio e vice-presidente sênior para China na consultoria DGA-Albright Stonebridge Group.

Essa expansão levou a empresa a atuar em áreas que vão de carros inteligentes e sistemas operacionais até tecnologias essenciais para o avanço da IA, como semicondutores avançados, data centers, chips e modelos de linguagem de grande porte.

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“Nenhuma outra empresa de tecnologia conseguiu ser competente em tantos setores diferentes, com altos níveis de complexidade e barreiras de entrada”, afirmou Triolo.

Neste ano, o CEO da Nvidia, Jensen Huang, tem sido cada vez mais enfático ao chamar a Huawei de “uma das empresas de tecnologia mais formidáveis do mundo”. Ele também alertou que a Huawei substituirá a Nvidia na China caso Washington continue a restringir as exportações das fabricantes americanas de chips para o país asiático.

Na semana passada, a Nvidia superou US$ 4 trilhões em valor de mercado, tornando-se a empresa mais valiosa do mundo. Seus processadores de ponta e o sistema de computação “CUDA” seguem como padrão da indústria para o treinamento de modelos e aplicações de IA generativa.

Mas essa vantagem pode estar diminuindo, à medida que a Huawei prova que não apenas faz tudo — como faz bem. Embora desafiar gigantes americanos da IA como a Nvidia seja uma tarefa difícil, a trajetória da empresa mostra por que ela não pode ser descartada.

De distribuidora de comutadores telefônicos a campeã nacional

A Huawei, que hoje emprega mais de 208 mil pessoas em mais de 170 mercados, teve origens modestas. Fundada em 1987 pelo ambicioso empreendedor Ren Zhengfei, em um apartamento em Shenzhen, começou como uma pequena distribuidora de comutadores telefônicos.

Ao crescer no setor de telecomunicações, a empresa conquistou espaço ao mirar em mercados menos desenvolvidos, como África, Oriente Médio, Rússia e América do Sul, antes de expandir para regiões como a Europa.

Em 2019, a Huawei já estava bem posicionada para aproveitar a implementação global do 5G, tornando-se líder nesse mercado. Na mesma época, havia se transformado em uma das maiores fabricantes de smartphones do mundo e até projetava seus próprios chips por meio da subsidiária de design de semicondutores HiSilicon.

No entanto, o sucesso da Huawei também atraiu crescente escrutínio de governos fora da China, especialmente dos Estados Unidos, que com frequência acusaram a tecnologia da empresa de representar uma ameaça à segurança nacional, o que a companhia chinesa nega.

O grande revés veio em 2019, quando a Huawei foi incluída na lista negra de comércio dos EUA, o que impediu empresas americanas de fazerem negócios com ela.

Com as sanções em vigor, o negócio de consumo da Huawei, que antes era seu maior segmento em receita, caiu pela metade, passando de cerca de US$ 68 bilhões para US$ 34 bilhões em 2021.

Ainda assim, a empresa conseguiu avanços em chips de IA e seguiu em frente mesmo com novas restrições impostas pelos EUA em 2020, que a impediram de acessar a Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC).

Um ano antes, a Huawei havia lançado oficialmente seu chip de processamento de IA Ascend 910, parte da estratégia de construir um “portfólio de IA completo e aplicável a todos os cenários” e se tornar uma fornecedora de poder computacional em IA.

A ofensiva dos EUA também transformou a Huawei em uma espécie de símbolo de resistência na China, impulsionando a atenção que já havia recebido em 2018 com a prisão de Meng Wanzhou, diretora financeira da Huawei e filha de Ren, no Canadá, sob acusações de violar sanções ao Irã.

À medida que a guerra tecnológica entre EUA e China se intensificava, e novas restrições de chips avançados eram impostas à China, a Huawei tornou-se uma candidata natural para assumir o papel de campeã nacional, com mais incentivos e apoio estatal aos seus planos de IA.

“Os controles de exportação ironicamente empurraram a Huawei para os braços do governo chinês de um jeito que o CEO Ren Zhengfei sempre tentou evitar”, afirmou Triolo. Nesse sentido, as restrições atuaram como “anabolizantes” para o desenvolvimento do ecossistema de hardware e software de IA da Huawei.

A retomada

Após mais um ano de queda nas vendas da divisão de consumo, o segmento começou a se recuperar em 2023, com o lançamento de um smartphone que, segundo analistas, continha um chip avançado produzido na China.

O chip 5G surpreendeu muitos nos EUA, que não esperavam que a Huawei atingisse esse nível tecnológico tão rápido sem a TSMC. Em vez disso, a empresa teria trabalhado com a chinesa SMIC, que também está na lista de restrições dos EUA.

Embora analistas tenham apontado que a escala de produção da Huawei e da SMIC ainda é muito limitada, a empresa provou que estava de volta ao jogo dos chips avançados.

Foi também nesse período que surgiram notícias sobre o novo chip de IA da Huawei, o Ascend 910B, com a empresa buscando aproveitar lacunas deixadas pelas restrições às exportações dos chips mais avançados da Nvidia. A produção em massa da próxima geração, o 910C, já estaria em andamento.

Para preencher o espaço deixado pela Nvidia, a Huawei “tem avançado bastante na replicação do desempenho de GPUs de ponta usando combinações de chips inferiores”, disse Jeffrey Towson, sócio da consultoria TechMoat.

Em abril, a Huawei revelou o “AI CloudMatrix 384”, um sistema que conecta 384 chips Ascend 910C em um cluster dentro de data centers. Analistas apontam que o CloudMatrix supera o sistema GB200 NVL72 da Nvidia em alguns quesitos.

A Huawei não está apenas alcançando, “ela está redefinindo como funciona a infraestrutura de IA”, disseram analistas da Forrester em relatório sobre o CloudMatrix divulgado no mês passado.

Ao mesmo tempo, a Huawei desenvolveu seu próprio sistema de software, o “CANN”, que atua como uma alternativa ao CUDA, da Nvidia.

“Vencer a corrida da IA não se trata apenas de chips mais rápidos. Também inclui oferecer as ferramentas de que os desenvolvedores precisam para construir e implementar modelos em larga escala”, observou o relatório da Forrester. Os autores, no entanto, destacaram que os produtos da Huawei ainda não estão suficientemente integrados a outras ferramentas comuns para que desenvolvedores façam a transição de forma rápida.

A ‘Estratégia do Ecossistema Ascend’

Embora a meta da Huawei de superar a Nvidia seja vista como um ponto central na corrida por IA entre China e EUA, vale lembrar que os chips são apenas um dos pilares de sua estratégia mais ampla.

A empresa agora está presente em toda a cadeia de valor da inteligência artificial, desde os chips até o poder de computação, passando pelos modelos e aplicações de IA. Essas frentes de negócios se integram com outras áreas do império tecnológico da Huawei.

Na verdade, a unidade de “Infraestrutura de TIC” da empresa, que abrange desde o 5.5G até sistemas de IA para uso industrial, tornou-se a principal fonte de receita da companhia em 2023, com 362 bilhões de yuans.

A Huawei tem implantado seus chips Ascend e o AI CloudMatrix 384 em seu crescente portfólio de data centers de IA, operados pela Huawei Cloud, criada em 2017 para competir com Amazon Web Services e Oracle.

Esses data centers, por sua vez, fornecem o poder computacional necessário para treinar a suíte de modelos de IA da empresa, a série Pangu.

Diferente de modelos de uso geral como o GPT-4, da OpenAI, ou o Gemini Ultra 1.0, do Google, o modelo Pangu da Huawei é voltado para aplicações industriais específicas, como saúde, finanças, governo, indústria e setor automotivo. Segundo a empresa, o Pangu já foi aplicado em mais de 20 setores ao longo do último ano.

O desenvolvimento de tais aplicações exige, muitas vezes, que funcionários da Huawei passem meses alocados nos locais dos projetos — mesmo em minas de carvão remotas, disse Jack Chen, vice-presidente do departamento de marketing da unidade de petróleo, gás e mineração da Huawei, à CNBC.

Essa atuação permitiu à empresa, em maio, implantar mais de 100 caminhões elétricos capazes de transportar terra ou carvão de forma autônoma, usando redes 5G, inteligência artificial e serviços de nuvem da Huawei.

E isso não se limita à China. A tecnologia pode “ser replicada em larga escala na Ásia Central, América Latina, África e região Ásia-Pacífico”, afirmou Chen.

A Huawei também tornou os modelos Pangu de código aberto, em uma estratégia que, segundo a empresa, ajudará a expandir sua presença internacional e a impulsionar sua “estratégia de ecossistema Ascend” — que gira em torno de produtos de IA baseados nos chips Ascend.

Em entrevista à Squawk Box Asia, da CNBC, na quinta-feira, Patrick Moorhead, da Moor Insights & Strategy, disse esperar que a Huawei promova o Ascend em países que fazem parte da Iniciativa do Cinturão e Rota da China — um projeto de investimento e desenvolvimento voltado a mercados emergentes.

Ao longo de cinco a dez anos, a empresa pode conquistar participação de mercado significativa nesses países — como já fez no passado com o setor de telecomunicações, acrescentou.

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