Na França, cartão permite doações digitais a pessoas em situação de rua

“Vou poder pagar um quarto de hotel!”, “Que cartão é esse? Eu quero um também!”: uma nova solução de doações digitais para pessoas em situação de rua foi lançada neste fim de semana em Lille, antes de ser implantada em outros lugares da França.

Batizado de Solly, esse projeto associativo criado por um jovem de 22 anos de Lille pretende ser uma resposta ao problema da escassez de dinheiro vivo nas carteiras, o que muitas vezes impede os pedestres de doar para pessoas sem moradia fixa.

“Dedicando tempo para explicar direito e passando confiança para as pessoas, acho que isso tem futuro”, comemora Maxime, orgulhoso por ter recebido uma primeira doação em seu novo cartão. “A gente ficava travado, tanta gente perguntava se não tínhamos uma maquininha”, relata esse jovem sem-teto.

Sob um frio intenso do norte, os primeiros cartões Solly foram distribuídos no sábado em Lille pela associação local Les Soldats du Sourire (Os Soldados do Sorriso), que organiza regularmente rondas de assistência.

Em cada cartão há um QR code que pode ser escaneado com o smartphone. Os doadores devem preencher um formulário curto com nome, sobrenome e endereço, e depois seus dados bancários, após escolherem o valor da doação. Não é preciso baixar um aplicativo: uma notificação aparece diretamente na tela.

Esses cartões servem então para pagamentos, mas funcionam apenas para comprar produtos de primeira necessidade ou pernoites, graças principalmente a uma parceria com a Upcoop, respondendo assim às preocupações de quem teme que suas doações sejam usadas para álcool, tabaco ou drogas.

Os roubos são frequentes na vida nas ruas, mas “esse cartão, se for roubado, não poderá ser utilizado. A doação poderá realmente ser usada para um bom propósito”, já que o pagamento por aproximação não funciona: o usuário dispõe de uma senha pessoal e pode bloquear o cartão, explica Elodie Hague, voluntária dos Soldats du Sourire.

O sistema será estendido a outras 11 cidades, incluindo Bordeaux, Lyon, Nice e Estrasburgo, nas próximas semanas. Ao todo, os primeiros 1.000 cartões devem ser distribuídos por associações.

“Desculpe, não tenho trocado” 

“‘Desculpe, não tenho trocado’. Todos nós já dissemos essa frase, seja verdade ou uma desculpa”, constata Tim Deguette, que fundou a Solly após estudar comunicação e marketing.

“Ao longo dos anos, percebi que era um problema que se generalizou após a Covid, já que os vales-refeição se tornaram digitais”, acrescenta o jovem, que conseguiu concretizar sua ideia graças a uma campanha de financiamento coletivo.

Uma comissão de 9% sobre cada doação via Solly permite financiar duas associações parceiras de moradia, a Toit à Moi e a Lazare.

A primeira fase de distribuição e experimentação deve durar dois meses, antes de um primeiro balanço.

“É uma super iniciativa. Estamos sempre com nossos celulares, enquanto já não andamos com tanto dinheiro vivo”, comenta Fleur Choppin, estudante de direito de 21 anos.

Cauê Rigamonti

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