Elon Musk se tornou, para alguns, o “primeiro amigo” do ex-presidente Donald Trump. No entanto, as ações do governo Trump para eliminar diversas políticas favoráveis aos veículos elétricos (EVs) preocupam investidores da Tesla, analistas e pesquisadores do setor, que temem que isso seja desastroso para a empresa, de longe a maior fabricante de EVs dos EUA.
Analistas mais otimistas discordam. Para eles, a presença de Musk na Casa Branca pode beneficiar a Tesla, cujo futuro está na autonomia e na robótica.
“A história da Tesla daqui para frente é sobre veículos autônomos e robótica. Nunca vimos a Tesla como uma empresa automobilística”, disse Dan Ives, analista sênior da Wedbush.
Com Trump no poder, “o ambiente regulatório para veículos autônomos muda drasticamente”, acrescentou.
“Acredito que finalmente teremos um plano federal para a autonomia veicular, reforçando nossa visão de que a grande aposta de Musk foi em Trump”, afirmou Ives.
Por outro lado, investidores mais céticos não compartilham desse otimismo.
Ross Gerber, CEO da Gerber Kawasaki, é um deles. Ele disse à CNBC que sua empresa detém cerca de 280.000 ações da Tesla, pouco mais da metade do que possuía no auge da ação.
“Não vejo para onde a Tesla pode ir a partir daqui, porque a autonomia ainda não funciona”, disse Gerber. “Eu literalmente dirijo minha Cybertruck e não consigo rodar cinco minutos sem precisar assumir o controle. Enquanto isso, os Waymos circulam ao meu redor sem problemas. Ainda não chegamos lá.”
Na opinião de Gerber, os consumidores não estão comprando os veículos da Tesla devido ao apoio de Musk a Trump e sua proximidade com a Casa Branca.
“Elon é provavelmente a pessoa mais odiada do mundo”, disse. “A maioria das pessoas o detesta. E estão descontando isso na Tesla. É realmente lamentável.”
Os dados mostram que as vendas da Tesla caíram em vários países europeus, chegando a uma queda de 60% na Alemanha nos dois primeiros meses de 2025 em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Enquanto isso, o governo Trump está revendo políticas que beneficiaram montadoras de EVs como a Tesla. Em 20 de janeiro, a administração emitiu uma ordem executiva para eliminar “subsídios injustos e outras distorções de mercado mal concebidas que favorecem os EVs”.
Atualmente, pelo menos uma versão de cada modelo da Tesla é elegível para o crédito federal, mais do que qualquer outra montadora.
“Se Trump eliminar o crédito de US$ 7.500, cada carro da Tesla ficará automaticamente US$ 7.500 mais caro”, disse Gordon Johnson, da GLJ Research. “Não importa como se analise isso, é um grande impacto negativo, considerando que 60% dos americanos não conseguem arcar com uma despesa inesperada de US$ 600.”
A Tesla também lucra bilhões vendendo créditos regulatórios para outras montadoras.
Nos EUA, tanto ao nível federal quanto estadual, as regras determinam que as montadoras vendam uma porcentagem mínima de veículos de baixa ou zero emissão. Se não atingirem essa meta, precisam comprar créditos de outra empresa que cumpra as exigências.
Como a Tesla fabrica apenas EVs, ela vende esses créditos para outras montadoras tradicionais, gerando o que Gerber chama de “dinheiro grátis”. Em 2024, a Tesla arrecadou mais de US$ 2,7 bilhões apenas com esses créditos.
Embora isso represente uma pequena parte dos US$ 97,7 bilhões de receita da empresa naquele ano, Johnson argumenta que grande parte do fluxo de caixa da Tesla vem desses créditos.
“Nossa análise sugere que, ao longo da história da Tesla, se removermos esses créditos, o fluxo de caixa livre da empresa é, na verdade, negativo”, disse Johnson.
A ordem de janeiro de Trump também solicitou a suspensão do repasse de verbas para infraestrutura de carregamento de veículos elétricos.
A Tesla já recebeu cerca de US$ 31 milhões do programa federal de Infraestrutura Nacional de Veículos Elétricos, criado durante o governo Biden para financiar a expansão da rede de carregamento nos EUA. A empresa obteve aproximadamente 6% de todos os recursos do programa.
Os otimistas argumentam que o fim dos créditos fiscais, dos incentivos regulatórios e do financiamento para carregadores não prejudicará significativamente a Tesla. Pelo contrário, pode até ajudá-la ao eliminar concorrentes menores, que não possuem escala para produzir EVs de forma lucrativa.
“A Tesla é a única que está lucrando”, disse Stephen Gengaro, diretor da Stifel. “Ela pode se dar ao luxo de oferecer incentivos e reduzir custos.”
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
