Barras e moedas ofuscam joias enquanto indianos gastam até US$ 11 bilhões em ouro neste Diwali

As ruas estreitas de Zaveri Bazaar, um dos mercados de joalheiros mais antigos da capital financeira da Índia, Mumbai, ficaram ainda mais congestionadas neste Diwali, o Festival das Luzes indiano, enquanto as multidões se empurravam para comprar ouro no primeiro dia do evento. Mas houve uma reviravolta. A maioria das pessoas que lotavam o mercado estava lá para comprar moedas ou barras de ouro – não joias – disse Mahavir Kothari, atacadista de metais preciosos em Zaveri Bazaar, à CNBC.

O Diwali, conhecido também como “Festival das Luzes”, é um dos eventos mais importantes e celebrados da Índia.

Principais órgãos comerciais de gemas e joias na Índia disseram à CNBC que mais de 40 toneladas de ouro foram vendidas no país em 19 de outubro, o primeiro dia do Diwali. Cerca de 700 bilhões de rupias (US$ 8 bilhões – R$ 43 bilhões) a 1 trilhão de rupias (US$ 11 bilhões – R$ 59,2 bilhões) em ouro foram vendidos durante o festival de cinco dias que terminou na quinta-feira (23/10), de acordo com a India Bullion and Jewellers Association (IBJA) e o All India Gem and Jewellery Domestic Council (GJC).

Ajay Chawla, CEO de uma das maiores redes de joias da Índia, a Tanishq, teria alertado que sua empresa poderia ficar sem moedas e barras de ouro devido à demanda da temporada festiva.

Há alguns anos, de cada 10 clientes, apenas um optaria por uma moeda ou barra de ouro, disse Surendra Mehta, secretário nacional da IBJA, mas isso está mudando lentamente. Ele acrescentou que, de acordo com as estimativas de seu órgão comercial, as vendas de joias caíram cerca de 30% nesta temporada festiva em comparação com o ano passado.

O entusiasmo entre os indianos em comprar ouro para investimentos tem sido enraizado em sua busca por retornos. O ouro este ano subiu 66% em meados de outubro, antes de sofrer uma queda acentuada – ainda estava em alta de 55% na segunda-feira (27/10). No início deste mês, os preços do ouro ultrapassaram US$ 4.000 (R$ 21,5 mil) a onça, com alguns especialistas da indústria prevendo que o metal amarelo atingiria US$ 5.000 (R$ 26,9 mil) em 2026.

A Índia é o segundo maior comprador de ouro depois da China, de acordo com dados do World Gold Council, que mostram que o país tem sido um comprador consistente por anos, impulsionado pela demanda tradicional por ouro durante as temporadas festivas (outubro) e de casamentos (outubro a meados de janeiro e abril a maio).

Joias de ouro em uma loja em Kolkata, Índia. À medida que os bancos centrais globais aumentam suas compras de ouro, impulsionando um aumento nos preços, o metal amarelo está atraindo cada vez mais investidores de varejo que temem perder o boom.

A Goldman Sachs, em um relatório de 30 de setembro, disse que os bancos centrais, particularmente em mercados emergentes, aumentaram seu ritmo de compras de ouro em aproximadamente cinco vezes desde 2022, quando as reservas cambiais da Rússia foram congeladas após sua invasão da Ucrânia. “Vemos isso como uma mudança estrutural no comportamento de gerenciamento de reservas, e não esperamos uma reversão no curto prazo”, disse o relatório.

Esses ganhos acentuados nos preços do ouro estão fazendo com que os indianos vejam o ouro não apenas como um produto de consumo, mas como um ativo de investimento fundamental, disseram especialistas. Anteriormente, quando a demanda por ouro era impulsionada principalmente pelo consumo e os preços das joias subiam, os consumidores cortavam os gastos, disse Anindya Banerjee, chefe dos mercados de commodities e câmbio da Kotak Securities. Mas os preços elevados não frearam a demanda geral por ouro nesta temporada festiva.

Rajesh Rokde, presidente do GJC, disse que as vendas em volume para todos os cinco dias do Diwali foram apenas cerca de 5% menores em comparação com o ano passado, apesar dos preços significativamente mais altos. O ouro atualmente é negociado a US$ 4.073 por onça.

“A riqueza das famílias da Índia em ouro é estimada em US$ 3,8 trilhões/ 88,8% do PIB”, disse o Morgan Stanley em um relatório de 9 de outubro. “Isso está proporcionando um efeito riqueza positivo, mesmo que a estabilidade macro benigna garanta que o fluxo da demanda por ouro permaneça dentro de uma faixa”, acrescentou.

O ouro é uma boa proteção contra a queda da rúpia e qualquer fraqueza nos mercados de ações indianos, disse Mukesh Jindal, sócio sênior da empresa de gestão de fortunas Alpha Capital, que gerencia ativos de mais de 100 bilhões de rupias para family offices e indivíduos de alto patrimônio líquido na Índia. Os investimentos incluem a compra de barras de ouro, moedas, fundos negociados em bolsa e até ouro digital. Em setembro, as entradas em ETFs de ouro aumentaram mais de seis vezes para 83,63 bilhões de rupias em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Association of Mutual Funds in India.

A alta do ouro provavelmente continuará, já que os bancos centrais em todo o mundo continuam sendo compradores líquidos do metal mês a mês, disse Jindal, acrescentando que ele tem aconselhado os clientes a alocar 5% a 10% de sua carteira em ouro. Isso ainda é conservador em comparação com o conselho do fundador da Bridgewater Associates e bilionário Ray Dalio, no início deste mês, de alocar até 15% do portfólio em ouro.

Cauê Rigamonti

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