Desconfiança nos EUA impulsiona ações de empresas de defesa na Europa e na Ásia
Publicado 08/04/2025 • 10:14 | Atualizado há 2 semanas
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Publicado 08/04/2025 • 10:14 | Atualizado há 2 semanas
KEY POINTS
As ações de defesa asiáticas e europeias têm superado suas equivalentes americanas.
Guvendemir | E+ | Getty Images (Reprodução CNBC Internacional)
Uma frase da série de TV de 2008 “Star Wars: The Clone Wars” diz: “Guerras não são vencidas com armas superiores, mas com estratégia superior.”
No entanto, a estratégia agora nos mercados, aparentemente, é investir em armas — especificamente, em fabricantes que não estão sediados nos Estados Unidos.
Após o abalo nas alianças globais tradicionais, promovido pela administração Trump, países aumentaram significativamente seus orçamentos de defesa, elevando as ações de empresas do setor.
O aumento nos gastos com defesa geralmente impulsiona todo o setor, mas as ações de defesa da Europa e da Ásia estão superando o desempenho das suas concorrentes americanas.
Enquanto as ações, de maneira geral, sofreram queda após o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar seu plano de “tarifas recíprocas”, fabricantes de armamentos da Europa e da Ásia seguem registrando ganhos respeitáveis no acumulado do ano, com algumas ações subindo mais de 100%.
EUA menos confiável
O investidor veterano e estrategista da Quantum Strategy, David Roche, disse à CNBC que a alta nas ações de defesa fora dos EUA se deve à redução da confiança nos Estados Unidos como aliado.
Ele destacou que o realinhamento do presidente Trump com a Rússia na guerra entre Rússia e Ucrânia, bem como sua “traição” ao presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, levaram alguns países a avaliar que não podem mais contar com os EUA.
A visão de Roche é compartilhada por Trevor Taylor, diretor do programa Defesa, Indústrias e Sociedade do Royal United Services Institute, um think tank com sede no Reino Unido.
Taylor explicou que, historicamente, governos europeus costumavam comprar dos EUA porque isso reforçava a percepção de que a maior economia do mundo se sentiria mais confortável ao manter suas responsabilidades como aliada.
“[Agora] os Estados Unidos parecem não querer mais carregar as responsabilidades que têm como aliado. Então, alguns analistas estão questionando: por que colocar dinheiro na economia deles?”, acrescentou.
Segundo Roche, isso faz com que países europeus prefiram comprar de empresas europeias ou de aliados firmes como a Coreia do Sul, já que compartilham os mesmos objetivos estratégicos.
Roche lembrou que acordos internacionais de transferência de armas basicamente permitem que o país vendedor — como os EUA — controle a forma como o comprador usa os armamentos. Com os EUA questionando suas alianças, países europeus e asiáticos preferem comprar de outros fornecedores.
Um exemplo foi relatado pela Forbes em março: os EUA suspenderam parcialmente o suporte aos caças F-16 doados à Ucrânia, comprometendo os sistemas de interferência de radar instalados nas aeronaves.
“Se você quer ter uma política de defesa autônoma, precisa de um complexo militar-industrial autônomo. Você precisa fabricar seu próprio material ou comprá-lo de alguém que esteja do seu lado no momento”, afirmou Roche.
Na Alemanha, parlamentares aprovaram uma reforma histórica nas regras de endividamento, abrindo caminho para um forte aumento nos gastos com defesa. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, também prometeu elevar os gastos nacionais com defesa.
A União Europeia também elaborou planos para mobilizar até € 800 bilhões para reforçar a segurança regional.
Esses planos estão ampliando as carteiras de pedidos de empresas como a ThyssenKrupp Marine Systems, divisão de construção naval da ThyssenKrupp.
O CEO Oliver Burkhard afirmou à CNBC, em fevereiro, que espera ver sua base de clientes acessíveis triplicar até o fim da década.
Segundo ele, isso mostra que “quando se trata de orçamento de defesa, praticamente não há mais limites”.
A fabricante alemã Rheinmetall, conhecida por produzir os tanques Leopard 2, afirmou em março que espera que suas vendas na área de defesa saltem até 40% neste ano, com previsão de “grandes pedidos em volume de clientes militares”.
A empresa informou que esse aumento nas vendas era esperado mesmo sem novos impulsos regionais de gastos, mas observou que está “em posição promissora para desempenhar papel relevante no aumento de capacidades de defesa”.
Esses aumentos de gastos também estão beneficiando ações de defesa asiáticas, já que os fabricantes europeus não conseguem expandir sua capacidade produtiva rapidamente o suficiente para atender à nova demanda, segundo Taylor.
Assim, voltam-se para fornecedores asiáticos para preencher essa lacuna, resultando em pedidos de países europeus para fabricantes de armas na Ásia.
Desde 2022, fabricantes sul-coreanos receberam grandes pedidos de países europeus que desejam ampliar seus arsenais ou repor equipamentos doados à Ucrânia.
Por exemplo, a Korea Aerospace Industries forneceu seus caças FA-50 à Polônia após o país doar seus aviões da era soviética à Ucrânia.
A Hanwha Aerospace, também da Coreia, recebeu pedidos da Polônia e da Romênia nos últimos dois anos. Em março, a empresa anunciou uma oferta de ações no valor de US$ 2,5 bilhões para investir em instalações de defesa no exterior e no país, construção naval e motores para drones.
Na divulgação da operação, a companhia afirmou que pretende se tornar uma “player global” nos segmentos aeroespacial, naval e de defesa.
A empresa ST Engineering, de Cingapura, que fabrica equipamentos militares para o país, garantiu contratos para produzir projéteis de artilharia de 155 milímetros para países europeus.
Segundo nota da corretora CGS International, publicada em 18 de março, a STE está “entrando em um ciclo de crescimento de lucros plurianual”, em parte devido ao grande mercado endereçável no setor de defesa internacional, especialmente na Europa e no Oriente Médio.
Não é só falta de confiança
King Mallory, pesquisador sênior do think tank americano Rand, afirmou à CNBC que outro motivo pelo qual as ações de defesa de empresas da Ásia e da Europa superam as americanas é que os EUA sempre foram os maiores gastadores em defesa.
Por isso, investidores e gestores de portfólio não esperam uma grande mudança na demanda interna por ações de defesa nos EUA. No entanto, com governos injetando dinheiro em suas próprias indústrias de defesa, o salto de demanda está fazendo com que as ações asiáticas e europeias sejam reavaliadas de forma mais expressiva do que as americanas, explicou.
Um exemplo é o Japão, que viu as ações de suas empresas de defesa domésticas subirem, apesar das restrições rigorosas às exportações de armas.
O país planeja elevar seus gastos com defesa para 2% do PIB até 2027, frente ao limite tradicional de 1%.
Sobre a possibilidade de que o aumento na demanda internacional por ações de empresas de defesa seja somente um pico passageiro, os três analistas disseram que a tendência deve persistir — talvez até pelos próximos 10 anos.
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Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
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