O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou nesta segunda-feira (19) que Israel vai “assumir o controle” de toda a Faixa de Gaza, enquanto as Forças de Defesa do país intensificam a ofensiva militar no território devastado pela guerra.
Após o anúncio de que Israel permitiria a entrada limitada de ajuda humanitária em Gaza, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta severo sobre a crise humanitária no território, dizendo que “dois milhões de pessoas estão passando fome”.
No local, o Exército israelense emitiu um aviso de evacuação para moradores da cidade de Khan Yunis, no sul de Gaza, e de áreas próximas, em preparação para o que descreveu como um “ataque sem precedentes”.
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O aviso foi feito após o Exército anunciar que iniciou “operações terrestres em larga escala” como parte de uma ofensiva ampliada contra o Hamas. Ataques aéreos realizados nesta segunda-feira teriam matado pelo menos 22 pessoas, segundo equipes de resgate.
“O combate está intenso e estamos avançando. Vamos assumir o controle de todo o território da Faixa de Gaza”, disse Netanyahu em um vídeo publicado no Telegram.
No início do mês, Israel aprovou os planos para a ofensiva ampliada que está em andamento, afirmando que o objetivo era a “conquista” de Gaza e o deslocamento de sua população.
“Não vamos desistir. Mas, para vencer, precisamos agir de uma forma que não possa ser detida”, declarou o premiê.
Israel tem enfrentado uma pressão crescente, inclusive de seu principal aliado, os Estados Unidos, para suspender o bloqueio total imposto a Gaza há mais de dois meses.
“Não podemos permitir que a população (de Gaza) afunde na fome, tanto por razões práticas quanto diplomáticas”, disse Netanyahu, acrescentando que nem mesmo os amigos de Israel tolerariam “imagens de fome em massa”.
“Dois milhões de pessoas estão passando fome”
Israel afirma que o bloqueio imposto desde 2 de março pretende forçar concessões do Hamas, mas agências da ONU alertam sobre a escassez crítica de alimentos, água potável, combustível e medicamentos.
“Dois milhões de pessoas estão passando fome”, enquanto “toneladas de comida estão bloqueadas na fronteira, a poucos minutos de distância”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
“O risco de fome em Gaza está aumentando com a retenção deliberada da ajuda humanitária.”
Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu que “muita gente está passando fome” e acrescentou: “vamos resolver isso”.
O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, de extrema-direita, se manifestou contra a retomada da ajuda, dizendo na rede X: “Sr. Primeiro-Ministro, nossos reféns não recebem ajuda humanitária.”
Já o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, também da extrema-direita, defendeu a decisão de permitir uma “ajuda mínima”, ressaltando que nada poderia chegar ao Hamas.
“Isso permitirá que os civis se alimentem e que nossos amigos no mundo continuem nos oferecendo proteção diplomática”, afirmou.
“Chega é chega”
As Forças Armadas de Israel informaram nesta segunda-feira que a Força Aérea atacou “160 alvos terroristas” em Gaza nas últimas 24 horas.
Houve bombardeios pesados em Khan Yunis e arredores — principal cidade do sul da Faixa —, onde, segundo o porta-voz da Defesa Civil, Mahmud Bassal, 11 pessoas morreram e várias ficaram feridas.
Bassal também relatou outras 11 mortes em ataques em outras áreas.
Em uma publicação no Telegram, o porta-voz militar de Israel em árabe, Avichay Adraee, pediu que os moradores de Khan Yunis e regiões próximas “evacuem imediatamente”.
“A partir deste momento, Khan Yunis será [uma região] considerada uma zona de combate perigosa”, declarou.
Imagens da AFPTV feitas em Khan Yunis mostraram um helicóptero sobrevoando a cidade e um veículo transportando feridos para um hospital.
Entre os atendidos no Hospital Nasser estava um menino com roupa de moletom. Outros dois garotos, descalços e com sangramentos, estavam sentados no chão.
“Parecia o apocalipse. Tiros saíam de todos os apartamentos, havia cinturões de fogo, caças F-16 e helicópteros atirando”, contou o morador Mohammed Sarhan à AFP, em Khan Yunis.
Mais ao norte, em Deir el-Balah, Ayman Badwan lamentava a morte do irmão.
“Resumindo, estamos exaustos e esgotados — não aguentamos mais. As palavras não bastam para descrever o que estamos vivendo”, disse à AFP.
“Chega é chega. Uma solução precisa ser encontrada, e o mundo precisa intervir.”
O ataque do Hamas em outubro de 2023, que desencadeou a guerra, matou 1.218 pessoas do lado israelense, a maioria civis, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais.
O grupo também fez 251 reféns durante a ofensiva; 57 ainda permanecem em Gaza, incluindo 34 que, segundo os militares israelenses, estão mortos.
O Ministério da Saúde de Gaza afirmou no domingo que ao menos 3.193 pessoas morreram desde que Israel retomou os bombardeios em 18 de março, elevando o número total de mortos na guerra para 53.339.
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