A morte do Papa Francisco marcou o fim de um pontificado considerado histórico pela origem e atuação do líder católico. Primeiro papa latino-americano, jesuíta e não europeu em mais de mil anos, Francisco é descrito como alguém que não deixou um sucessor direto, mas sim um perfil de liderança, segundo o padre Anderson Antonio, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
Em entrevista ao Real Time, do Times Brasil — Licenciado Exclusivo CNBC, padre Anderson afirmou que o Papa não deixa um herdeiro natural, mas “um perfil de como ser papa para os tempos modernos”. Para ele, mais do que uma figura, Francisco estabeleceu um modo de governar a Igreja. “O legado dele é um método, um modo de fazer as coisas”, afirmou.
Entre os principais aspectos desse método, o reitor destacou a escuta profunda e o diálogo com diferentes setores da sociedade. “Ele deixa um perfil que vai exigir de seu sucessor a capacidade de ouvir e compartilhar decisões em termos globais”, disse. Ainda segundo Anderson, o Papa mostrou atenção constante aos desafios contemporâneos, como a crise climática, as guerras e as desigualdades sociais.
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No campo social, Francisco promoveu uma abordagem baseada na inclusão e na escuta das minorias. Anderson apontou que essa postura se manifestou em declarações como a famosa frase sobre homossexuais: “Se eles buscam a Deus, quem sou eu para julgá-los?”. Para o padre, esse tipo de posicionamento faz parte do legado metodológico deixado por Francisco. “Ele nunca julgou, sempre escutou antes de qualquer julgamento”, acrescentou.
Questionado sobre os possíveis desdobramentos políticos dessa postura, Anderson indicou que a aplicação prática dependerá do próximo pontífice. “A atitude vai continuar, mas a política adotada varia conforme o papa”, avaliou.
O carisma também foi citado como uma característica importante do pontificado. “Ele usava isso como estratégia natural para se aproximar das pessoas”, disse. Francisco costumava se apresentar de forma simples e com linguagem acessível, o que, segundo o padre, contribuiu para desconstruir a imagem de um papa distante e alheio aos problemas do mundo.
Anderson relatou que a postura de Francisco aproximou até mesmo pessoas não religiosas. “Tive professores agnósticos que diziam: ‘não entendo a fé, mas gosto desse papa porque ele parece normal’”, relatou. O religioso descreveu o pontífice como alguém transparente, que não escondia suas fragilidades e buscava mostrar que viver a fé não significa se afastar do mundo.
O padre também destacou a influência de Francisco no diálogo inter-religioso e na aproximação com pessoas de outras crenças. Para ele, o papa reforçou que “existem mais coisas em comum do que diferenças” entre os indivíduos, e que a vivência religiosa deve estar conectada à realidade humana.
Anderson também lembrou da ligação de Francisco com o clube argentino San Lorenzo. A carteirinha de sócio do papa tinha o número 8835 — coincidência mencionada pelo entrevistador, já que o papa morreu aos 88 anos, às 2h35, no horário de Buenos Aires.
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