Kremlin, poupado de tarifas, diz que uma guerra comercial global ainda prejudicaria a Rússia
Publicado 17/04/2025 • 10:53 | Atualizado há 2 dias
Leia a carta do CEO da Hertz aos funcionários sobre a participação ‘significativa’ de Bill Ackman na locadora de veículos pós-falência
Fusão entre Capital One e Discover é aprovada pelo Fed em transação de mais de US$ 35 bi
Pré-venda do Nintendo Switch 2 nos EUA começa em 24 de abril após atraso causado por tarifas
Onde o ‘Made in China 2025’ falhou
Não há problema em usar IA no seu currículo, diz recrutador que já contratou centenas de pessoas: ‘Ninguém vai perceber’
Publicado 17/04/2025 • 10:53 | Atualizado há 2 dias
KEY POINTS
O presidente Donald Trump e o presidente russo Vladimir Putin apertam as mãos durante uma entrevista coletiva conjunta após o encontro em Helsinque, Finlândia, em 16 de julho de 2018.
Leonhard Foeger | Reuters (Reprodução CNBC Interncional)
A Rússia escapou ilesa das tarifas comerciais do presidente Donald Trump anunciadas no início deste mês, mas o Kremlin diz que Moscou não está imune aos choques econômicos que podem surgir em uma possível guerra comercial global.
“Claro, a instabilidade na economia global não pode deixar de afetar a Rússia”, disse o secretário de imprensa do Kremlin, Dmitry Peskov, à CNBC na quarta-feira (16), segundo uma tradução do Google.
“Ao mesmo tempo, conseguimos manter a estabilidade macroeconômica mesmo diante de inúmeras sanções”, acrescentou Peskov em comentários enviados por e-mail.
Ao contrário de muitos aliados dos EUA que foram atingidos por tarifas comerciais no anúncio de Trump no início de abril, a Rússia foi poupada das novas tarifas de importação quando Trump anunciou sua extensa lista de novas tarifas a serem impostas as importações de mais de 180 países, supostamente para equilibrar o campo de jogo do comércio global.
A Rússia ficou de fora, disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, ao meio de comunicação Axios, porque as sanções dos EUA contra o país por sua invasão da Ucrânia em 2022 já excluíam “qualquer comércio significativo” entre as duas nações. A CNBC solicitou mais comentários à Casa Branca e aguarda uma resposta.
Analistas questionam essa afirmação, dizendo que a Rússia ainda fez mais comércio com os EUA do que vários outros países que entraram na lista de tarifas, como Brunei e Maurício. A Ucrânia foi atingida com uma tarifa de 10%.
A turbulência nos mercados globais levou Trump a reduzir temporariamente as tarifas sobre importações da maioria dos países — exceto a China — para 10% por 90 dias. Se as negociações com vários parceiros comerciais nesse ínterim poderão levar a um compromisso e, finalmente, a acordos comerciais, é altamente incerto.
A reação da Rússia às tarifas comerciais de Trump foi mista, com a mídia estatal observando as medidas e as consequências de mercado com uma mistura de distanciamento frio, alguma preocupação com a volatilidade econômica global e um toque de schadenfreude (prazer com a desgraça alheia) com a turbulência atingindo o Ocidente.
A desestabilização por Trump da “ordem mundial global” liderada pelos EUA — que Moscou gostaria de desmontar — também é vista como um potencial benefício das tarifas para o Kremlin, dizem analistas. Eles alertam que a Rússia não é imune ao impacto de qualquer guerra comercial.
“Na superfície, você vê muitas risadinhas e alívio genuíno [na Rússia] por, pela primeira vez, não ser a Rússia o centro das atenções”, disse Anton Barbashin, analista político russo e diretor editorial do jornal Riddle, à CNBC na quarta-feira, observando que “a Rússia se vê melhor posicionada em um mundo com bipolaridade mais acentuada”.
“A Rússia quer um EUA menos global, envolvido em um conflito permanente com a China (embora não em guerra), para que Washington não tenha tempo suficiente para a Europa”, disse ele em comentários enviados por e-mail.
Barbashin disse que surgiram duas correntes de pensamento na Rússia — uma reconhecendo o dano que uma guerra comercial poderia causar ao país, e outra reconhecendo que rivais economicamente enfraquecidos beneficiam a Rússia geopoliticamente.
“A Rússia ainda depende da economia global e da alta demanda por suas exportações. Se uma recessão global ocorrer, isso pode prejudicar seriamente os cofres da Rússia. No entanto, há outro nível de análise na Rússia que sugere que… quanto mais ele [Trump] fizer para prejudicar a relação transatlântica, mais fácil será para Moscou dividir a Europa em questões relacionadas à Ucrânia”, observou Barbashin.
Por que sem tarifas?
Analistas russos questionaram por que a Rússia não foi submetida a nenhuma tarifa e se sua exclusão poderia fazer parte de um plano da Casa Branca para tentar obter influência sobre Moscou em eventuais negociações de paz na Ucrânia.
“A Casa Branca disse que a Rússia não foi atingida com tarifas porque não havia comércio entre os dois países devido às sanções ocidentais… Isso não é totalmente verdade”, observou Alexander Kolyandr, pesquisador sênior do Center for European Policy Analysis.
As exportações de produtos russos para os EUA totalizaram cerca de US$ 3 bilhões em 2024, o menor valor em 30 anos, e os EUA exportaram US$ 526 milhões em produtos para a Rússia no mesmo período, ele observou.
“Esses são números minúsculos quando se trata do comércio total dos EUA, mas, por exemplo, Lesoto, um reino africano com uma população de 2 milhões, vende ainda menos para os EUA — cerca de US$ 2 bilhões por ano — mas foi atingido com uma tarifa de 50%”, observou Kolyandr.
Segundo a fórmula usada para determinar as tarifas sobre parceiros comerciais, a Rússia deveria ter enfrentado uma tarifa de 40%, com base nos números de 2024. Kolyandr observou, no entanto, que nos anos anteriores à guerra, Rússia e EUA desfrutavam de um comércio relativamente equilibrado, o que significaria que a Rússia seria atingida com a tarifa-base de 10%.
Kolyandr disse à CNBC na quinta-feira (17) que, se houver o desejo da Casa Branca de usar as tarifas para induzir Moscou a negociações de paz sobre a Ucrânia, “então é uma ilusão”.
“O volume [do comércio] é muito pequeno, e mesmo antes da guerra, os EUA não eram um parceiro comercial significativo da Rússia, comparado a lugares como União Europeia, Turquia, China ou Índia.”
“A Rússia ainda precisa de algumas tecnologias dos Estados Unidos, como peças de reposição para aviões da Boeing, por exemplo. E, além de tungstênio e titânio, a Rússia tem muito pouco a oferecer aos Estados Unidos que não seja elástico, ou seja, que não possa ser adquirido em outro lugar. Portanto, não acho que as tarifas comerciais sejam algo com que Moscou possa ser seduzida para encerrar a guerra.”
Rússia não é imune
A Organização Mundial do Comércio alertou na quarta-feira que as perspectivas para o comércio global “deterioraram-se drasticamente” após o regime de tarifas de Trump.
Com base nas tarifas atualmente em vigor, e incluindo uma suspensão de 90 dias das “tarifas recíprocas”, o volume do comércio mundial de mercadorias deve agora cair 0,2% em 2025, disse a OMC. Acrescentou que o crescimento econômico global sofrerá impacto direto com a queda nos volumes do comércio global.
Mesmo que a Rússia não seja alvo direto, é certo que sofrerá danos colaterais das tarifas e de uma possível guerra comercial, concordam os analistas, com queda nos preços e na demanda pelas principais exportações globais de petróleo da Rússia representando um grande risco econômico.
A Rússia já enfrenta uma inflação doméstica significativa — que atingiu 10,3% ao ano em março — e o banco central do país tem mantido altas taxas de juros de 21% recentemente, numa tentativa de lidar com as pressões inflacionárias causadas pela guerra.
“Se a guerra comercial empurrar a economia global para uma recessão, e especialmente se o comércio global diminuir — o que significa menos mercadorias circulando pelo mundo — isso significaria também uma queda na demanda por petróleo, caso haja uma recessão, e isso é doloroso para a Rússia”, disse Kolyandr à CNBC.
“Mas os problemas da Rússia não terminam com o petróleo. Com a instabilidade global, o aumento da inflação e, presumivelmente, a queda das receitas com petróleo, o banco central da Rússia terá dificuldade em começar a reduzir sua taxa básica de juros. Isso sufoca a economia não militar da Rússia. Basicamente, cerca de dois terços da economia nacional precisam tomar empréstimos a 21%. Não se pode ter uma economia saudável com uma taxa tão alta.”
—
📌 ONDE ASSISTIR AO MAIOR CANAL DE NEGÓCIOS DO MUNDO NO BRASIL:
🔷 Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Sky | Canal 592 Vivo | Canal 187 Oi | Operadoras regionais
🔷 TV SINAL ABERTO: parabólicas canal 562
🔷 ONLINE: www.timesbrasil.com.br | YouTube
🔷 FAST Channels: Samsung TV Plus, TCL Channels, Pluto TV, Soul TV, Zapping | Novos Streamings
Este conteúdo foi fornecido pela CNBC Internacional e a responsabilidade exclusiva pela tradução para o português é do Times Brasil.
Mais lidas
EUA e Itália concordam em não discriminar ou taxar serviços digitais e empresas de tecnologia
Trump amplia o cerco contra Harvard com devassa fiscal e investigação sobre doadores
Volkswagen considera fabricar Audis nos EUA para evitar tarifas de Trump
Onde o 'Made in China 2025' falhou
Pré-venda do Nintendo Switch 2 nos EUA começa em 24 de abril após atraso causado por tarifas