A imposição de uma tarifa de 39% pelos Estados Unidos sobre importações da Suíça causou choque entre fabricantes e autoridades do país alpino, que agora buscam uma solução negociada com o governo Trump antes da medida entrar em vigor em 7 de agosto.
A decisão anunciada por Donald Trump elevou a tarifa de importação sobre produtos suíços de um nível inicialmente proposto de 31% para 39% — mais do que o dobro da tarifa de 15% aplicada à maioria dos países da União Europeia.
Trata-se de um duro golpe para a economia suíça, fortemente dependente de exportações. Os EUA são o principal destino de produtos como relógios, joias e chocolates suíços.
“É um choque enorme para nossa indústria e para todo o país. Estamos verdadeiramente atônitos”, disse Jean-Philippe Kohl, vice-diretor da Swissmem, entidade que representa os setores de engenharia mecânica e elétrica.
Críticas à arbitrariedade e temor por empregos
Para a indústria suíça, a medida não tem base racional. “As tarifas não têm critério lógico e são totalmente arbitrárias. Elas atingem duramente a indústria suíça, especialmente porque nossos concorrentes na UE, no Reino Unido e no Japão enfrentam tarifas bem menores”, afirmou Kohl.
Swissmechanic, entidade que representa pequenas e médias empresas, alertou que dezenas de milhares de empregos estão em risco e que a medida compromete o futuro da Suíça como polo industrial.
Apesar do impacto generalizado, o setor farmacêutico suíço — que inclui gigantes como Roche e Novartis — ficou de fora da tarifa de 39%, ao menos por ora. “As autoridades suíças entenderam que o setor farmacêutico não será incluído na nova alíquota”, disse um porta-voz do Ministério da Economia.
Mesmo assim, o setor segue sob pressão dos EUA para reduzir preços. A associação Interpharma afirmou que é “crucial manter negociações com os EUA para reduzir tarifas gerais e evitar taxas específicas sobre produtos farmacêuticos”.
Governo diz ter acordo preliminar
O ministro das Relações Exteriores da Suíça, Ignazio Cassis, afirmou que as conversas com Washington continuam. “Não estamos desanimados e seguimos buscando um acordo que beneficie ambos os lados”, declarou durante evento pelo Dia Nacional da Suíça.
Fontes do governo suíço afirmam que havia um esboço de acordo aprovado no início de julho, após intensas negociações, mas que Trump decidiu unilateralmente pela imposição das tarifas sem validar o entendimento.
Segundo o Ministério das Finanças, o anúncio atual diverge significativamente da minuta conjunta aprovada em 4 de julho, embora os detalhes não tenham sido revelados.
Impacto econômico direto
A Suíça é o sétimo maior investidor direto nos EUA, com mais de US$ 300 bilhões aplicados, que sustentam cerca de meio milhão de empregos em território americano.
Em 2024, a Suíça exportou cerca de 65 bilhões de francos suíços (US$ 80 bilhões) para os EUA, o equivalente a um sexto de suas exportações totais, com um superávit comercial de quase 38,7 bilhões de francos em bens. No setor de serviços, a Suíça registrou um déficit de 20,4 bilhões de francos com os americanos.
O mercado dos EUA é o maior destino estrangeiro para os relógios suíços, com 16,8% das exportações do setor, totalizando 4,4 bilhões de francos em 2024, segundo a federação da indústria relojoeira.
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